Maria João Bahia é uma das mais conceituadas joalheiras portuguesas, tendo já assinado peças tão importantes como o relicário que o Patriarcado de Lisboa ofereceu o ano passado ao Papa Bento XVI durante a sua visita a Lisboa. Contudo, o sucesso profissional nunca deslumbrou Maria João, que afirma com plena convicção que o marido, o engenheiro António Maria de Mello, com quem está casada há 24 anos, e os filhos, Martim, de 16, João, de 21, e António, de 22, são a grande prioridade da sua vida.
Foi no Hotel Tivoli Lisboa, a apenas alguns metros da sua loja, em plena Avenida da Liberdade, que a joalheira falou com a CARAS depois de uma sessão fotográfica ao lado do seu filho mais novo.
– Como vive o Natal?
Maria João Bahia – Adoro o Natal e vivo esta época com imensa alegria, porque estamos todos juntos, com saúde, e podemos usufruir de tantos privilégios que temos. É um momento de paz, de calma e de harmonia que partilhamos e que faz bem a todos. Devíamos parar mais vezes, porque nos ajuda a perceber o que é que realmente tem valor na nossa vida, qual o nosso papel neste mundo, qual é a nossa missão e quais são os valores importantes para a nossa sociedade.
– Teve sempre essa postura perante a vida ou tem sido uma aprendizagem?
– Fui aprendendo, sem dúvida, com a experiência. Ao longo da vida mudei imenso. Todos os momentos, os bons e os menos bons, são alturas de grande aprendizagem.
– Em que é que mudou?
– Hoje, dou muito mais valor à vida, aos pequenos prazeres do dia-a-dia. Também ponho a minha vida familiar acima de tudo o resto. Claro que o trabalho também é importante, faz parte da nossa realização, porque todos nos devemos sentir úteis na sociedade. Tornei-me muito mais condescendente, calma e compreensiva. Estou mais atenta aos outros.
– Acredito que essa a atitude de estar atenta aos outros se note especialmente em sua casa. Tem uma relação particular com cada um dos seus filhos?
– Não acho que tenha uma atitude diferente com cada um. Tenho a mesma relação com todos. Sou mãe deles, mas sou igualmente a amiga cúmplice. Sinto que os meus filhos dão também muito valor à família. Gostamos de estar os cinco juntos e isso basta para sermos felizes.
– Gosta de ser a única mulher lá em casa? Sente que é mais mimada por isso?
– Não me sinto muito mimada. Eles são muito atenciosos e têm gestos que são muito agradáveis. Não tenho uma filha para ir comigo ao cabeleireiro, mas os meus filhos fazem-me muita companhia. Se tenho de ir a um evento qualquer, há sempre um que se oferece para ir comigo.
– Lida bem com o facto de ver os seus filhos ficarem cada vez mais independentes?
– Às vezes olho para trás e penso que tudo passou depressa demais. Mas sinto que aproveitei bem cada momento da vida deles e tenho feito tudo aquilo que quis com eles. Tirei partido do seu crescimento. Fico muito contente por vê-los completamente independentes e por cada um ir estudar para sítios diferentes Aliás, sou a primeira a incentivá-los a isso.
– Quais têm sido os segredos para manter um casamento de 24 anos feliz?
– Não há segredos para garantir o sucesso de um casamento. Temos é de lutar pelos nossos objetivos, valorizar o que é importante, não olhar só para os nossos interesses… É muito importante dar espaço aos outros. Às vezes não é preciso ir muito longe para podermos ajudar alguém, porque basta olhar para a nossa casa. Temos de estar atentos e não deixar problemas por resolver.
– A Maria João trabalha com produtos de luxo e, como disse, tem alguns privilégios. Sente que vive numa redoma?
– Não. É um privilégio ter trabalho, saúde, família, uma casa, viver bem, tenho consciência de que isso pode ser uma redoma, mas tenho os pés bem assentes no chão e não vivo de sonhos. Tento tirar partido dos obstáculos e das circunstâncias.
– Sente que o seu trabalho tem contribuído para a inovação e excelência na área da joalharia nacional?
– Não sei e não me compete a mim falar sobre isso, o mercado fala por si. Tento ser uma boa profissional na minha área, esforço-me por aprender cada vez mais e tento ser o mais correta possível. Não tenho um trabalho de produção industrial, porque optei pelo atendimento personalizado. Identifico-me mais com essa atitude, porque gosto de conhecer as pessoas.