À sua passagem por Alfama, onde foi feita esta sessão fotográfica, muitos transeuntes perguntavam: “Mas quem são estes? São conhecidos?” O que é facto é que ninguém sabia que aqueles cinco jovens que ali posavam vestidos de smoking e calçados com ténis coloridos – a proposta da CARAS foi criar vários contrastes entre o estilo musical dos entrevistados, a roupa e os ambientes – , eram uns “miúdos” que se ouvem bastante em algumas rádios portuguesas e até fazem muito sucesso no estrangeiro. Porque na verdade, como acontece com muitas bandas lusas, também os Buraka Som Sistema tiveram de começar por conquistar fãs além-fronteiras.
Considerados os criadores do género kuduro progressivo, os Buraka existem desde 2006. Nestes cinco anos gravaram três CDs, venceram o Globo de Ouro de Melhor Grupo em 2009, foram agraciados com o prémio de Melhor Artista Português e nomeados para Melhor Artista Europeu nos MTV Europe Music Awards 2008. Kalemba, Yah ou Hangover são alguns dos êxitos da banda, cujo último álbum se intitula Komba.
Kalaf (voz), Rui e João (produtores e DJs), Blaya (MC e bailarina) e Andro (produtor, letrista e cantor) aceitaram o desafio da CARAS e, para estas fotos, vestiram-se de forma bem diferente da habitual. Do seu dia-a-dia, só os ténis e o código em que se entendem – uma ‘cena’ que não assiste a todos –, se manteve.
Kalaf veio de Benguela aos 18 anos para estudar Gestão, Andro partilha raízes angolanas e cubanas, Blaya nasceu no Brasil, mas sente-se alentejana, Rui e João são nascidos cá. Autodidatas, alguns deles com projetos musicais anteriores, souberam sempre o que queriam fazer e só mesmo João acabou o curso de Direito. Depois, mandou-o “às urtigas” e voltou-se para os sons e para os computadores, afinal, o que sempre quis fazer.
Já em janeiro, os Buraka vão correr mundo: a 8 tocam nas Bahamas, a 10 estarão em Washington, a 11 em Nova Iorque, depois passam pelo Canadá, regressam a Portugal para uma data em Guimarães, e tornam a partir rumo a Espanha, Holanda, França e Bélgica.
– Já percebi que funcionam em democracia. Fazem todos um pouco de tudo…
Kalaf – Sim. As letras, por exemplo, são quase todas escritas por todos.
João – Partilhamos ideias. Quer nas letras, quer na composição das músicas, cada um tem as suas ideias e chegamos a um ponto em que estamos todos de acordo.
– Quando eram pequenos, o que queriam ser?
Kalaf – Eu tinha os sonhos de qualquer criança: queria ser piloto ou astronauta. E é engraçado, porque agora voo bastante.
Blaya – Até à primeira classe, queria ser veterinária, mas depressa percebi que não tinha queda para isso e depois achei que queria algo que tivesse desporto…
– Dançar com os Buraka tem tudo a ver com desporto!
– Mesmo! É muita ginástica, muito suor. Fiz o curso de desporto no liceu e fiz um curso de técnico de informática, que não tem nada a ver. Desde cedo que tinha um swing, porque sou brasileira, embora só lá tenha ido nascer. Voltei com dois meses e vivo em Ferreira do Alentejo. Estar com os Buraka foi uma grande sorte: sentir que aos 24 anos já fiz tanta coisa como eles é maravilhoso!
Rui– Em miúdo nunca tive um ofício preferido. Na escola preparatória decidi-me por desenho, mas quando chegou a parte mais técnica vi que não era para mim. Nessa altura já fazia teatro e sabia que queria trabalhar na área das artes. E foi aí que me virei para a música. Estava na escola secundária quando conheci o João e começámos a trabalhar juntos em projetos muito diferentes dos Buraka. Eu e o João começámos a explorar a música eletrónica bem cedo e a tocar instrumentos também.
João – Não me lembro bem do que é que queria ser quando era miúdo, mas a minha mãe lembra-se de me ouvir dizer que não queria trabalhar muito, mas queria ganhar muito dinheiro…
–E está a conseguir?
– Não, não estou, mas estou no processo de conseguir…daqui a dez anos. Eu fui o único dos cinco a acabar um curso superior. Só queria mesmo que os meus pais me deixassem fazer música e me financiassem, e acabei Direito em 2007. O objetivo não era gostar, era conseguir fazer a minha música.
– Nunca pensou exercer?
– Não, não. Inclusivamente, agarrei no diploma, que só tive porque a minha mãe quis, emoldurei-o e ofereci-lho. E ainda hoje está no escritório lá de casa, é um talismã. Pelo meio ainda tirei um curso de Engenharia de Som em Madrid… E o Rui praticamente tirou o mesmo curso, porque leu as mesmas fotocópias que eu!
Andro – Eu estudei bastante para ir para Medicina, mas não consegui entrar e então, como sempre tive jeito para computadores, comecei a trabalhar com eles e a tocar guitarra em Cuba. Comecei a fazer música. Fiz um disco em Angola, com os Negonguenha, e foi por causa desse disco que o Kalaf me convidou para entrar nos Buraka.
– Perdem-se ou ganham-se horas em frente ao computador?
– Não se perde, nem se ganha. As coisas mudam e é preciso acompanhar os tempos. Hoje não acharia graça nenhuma a um cavalinho de madeira, preferia uma consola. Aos cinco anos já preferia uma consola… Há 50 anos era-se feliz com o que havia nessa altura, agora a realidade é outra.
– Algum de vocês tem filhos?
João – Eu tenho uma filha de quatro anos. Fui pai aos 27, e não foi minimamente planeado. Acho que é fixe. Vive comigo quando cá estou, mas vivo mais com o Kalaf, porque partilho quarto com ele quando estamos em digressão [risos].
Buraka Som Sistema em Alfama, de partida para… o Mundo
João, Rui, Andro, Kalaf e Blaya (de joelhos) são os Buraka Som Sistema, autores de batidas incontornáveis como, por exemplo, “Wegue, Wegue”, cujo título é, afinal, “Kalemba”.
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