A viver nos EUA há quatro anos, Daniela Ruah, de 28
anos, é a personificação do american dream. Desde que deixou Portugal, a
família e os amigos, para rumar em busca de um sonho, tornou-se a atriz
portuguesa mais conhecida do grande público a nível internacional, já que faz
parte do grupo de protagonistas da série NCIS: Los Angeles.
Foi durante um intervalo nas suas férias em Portugal, já que todos os minutos
são para matar saudades da família e dos amigos, que a CARAS conversou com Daniela
sobre os obstáculos e sucessos do seu percurso, mas também sobre a forma como
já encara uma das suas maiores vontades: ser mãe.
– Quando decidiu apostar numa carreira internacional, imaginava este
sucesso?
Daniela Ruah – Por um lado, acha-se sempre que um sonho tão grande é
difícil de atingir, por outro, havia qualquer coisa que me dizia que poderia
acontecer, por isso é que me esforcei tanto. Se achasse que era um sonho
impossível, teria apostado noutra carreira qualquer. Nunca pensei chegar onde
estou, mas tinha de acreditar que seria possível.
– Hoje em dia sente com certeza mais responsabilidade a nível
profissional…
– Sem dúvida. A responsabilidade vem principalmente de Portugal, pois
não sinto que nos Estados Unidos tenha notoriedade suficiente para isso. Por
exemplo, através do Twitter tenho imensas seguidoras portuguesas jovens que
dizem que gostavam de seguir os meus passos e aí percebo que tenho uma enorme
responsabilidade em mostrar não só que é possível, como dar um exemplo saudável
de como as coisas devem ser feitas. O meio ‘hollywoodesco’ pode ser muito
negro… Graças a Deus, nunca tive essa experiência, nunca me envolvi no lado
mais obscuro de Hollywood, mas existe e é muito fácil sermos puxados para esse
lado se não tivermos sorte. Eu tive imensa, em especial com o elenco com que
trabalho, pois estou rodeada de pessoas psicologicamente saudáveis, casadas,
com filhos, e isso ajuda muito a estabilizar a nossa vida, pois é o exemplo que
temos à volta.
– Acredita que o seu sucesso também se deve à sorte ou tem somente a ver com
empenho?
– Tem a ver com tudo. O meu tio costuma dizer: “Quanto mais trabalho,
mais sorte tenho.” É claro que tenho sorte por me terem surgido algumas
oportunidades, mas isso também não aconteceria se eu não tivesse batalhado. Não
posso estar à espera de uma carreira internacional se ficar em Portugal para o
resto da vida. Infelizmente, a nossa indústria cinematográfica e televisiva é
tão pequena que não há ninguém fora de Portugal que a veja, com o acréscimo de
que a nossa língua não é falada em todo o lado como a inglesa. Claro que exige
empenho e sorte, é uma mistura de coisas.
– Em Los Angeles tem tido sempre trabalho…
– Desde que fui para Los Angeles sim, porque a série me levou para lá,
mas em Nova Iorque ainda andei às voltas e a bater às portas. Primeiro para
tentar arranjar um agente e depois para os castings. Fui rejeitada
algumas vezes, mas faz parte do processo.
– Essas rejeições ajudaram-na a crescer ou houve alturas em que foi complicado
aceitá-las?
– Ninguém gosta de ser rejeitado, mas esta é uma indústria em que isso
acontece mais de metade das vezes. Entre os atores que vão tentar a sua sorte,
há um número pequeno que consegue realmente fazer algo e construir uma carreira
longínqua. Estou a fazer a série e espero continuar a trabalhar depois disso,
pois há atores que são prejudicados por ficarem conotados com a personagem que
fizeram.
– Mas protagoniza o novo filme de George Lucas, Red Tails…
– Foi gravado antes da série, há três anos, mas só vai estrear agora.
Cheguei a fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
– Com as gravações da série, não deve ser fácil ter tempo para outros
trabalhos…
– Exatamente. Tenho um período de férias de dois meses e meio no início
do verão e se já é difícil escolherem-nos para fazer um filme, quanto mais que
este calhe exatamente na nossa época de férias… A única coisa que me relaxa é
o facto de ter este trabalho garantido. Tenho um ordenado fixo e consigo viver
da minha profissão.
– Essa é também a maior preocupação de um ator?
– Claro que sim e por isso ponho dinheiro de lado e poupo para, caso
esteja desempregada algum tempo, tenha possibilidade de me sustentar sem ter de
trabalhar noutra área.
– Referiu que a sua notoriedade em Los Angeles não é a mesma que cá, mas é
bastante reconhecida…
– Reconhecida, sim, mas o carinho que as pessoas têm em Portugal por
mim é diferente. Aqui conhecem-me desde os 16 anos, viram-me crescer e
concretizar um sonho de que falava há muito tempo.
– Apesar de todo o sucesso, continua de pés bem assentes na terra…
– Sim, toda a gente ‘topa’ atitudes de vedetismo, incluindo a própria
indústria. Os atores que têm um currículo enorme não sentem necessidade de ser
arrogantes ou seletivos com os amigos.
– Já lhe atribuíram uma relação com um colega de trabalho, Eric Christian
Olsen…
– [risos]. No dia seguinte ele esclareceu que era noivo de uma amiga
minha, que conheci através dele, com quem namora há cinco anos. Quando essa
notícia saiu ria-me sozinha, pois ele é um dos meus melhores amigos, trabalhamos
juntos todos os dias.
– Mas lida bem com esse género de especulações?
– Não lido sequer, fecho-me a essas coisas. Não me interessa nada o que
dizem.
– Tem conseguido gerir bem essa parte privada da sua vida…
– Porque nunca dei nada. A única pessoa de quem eu falei abertamente foi
do namorado que tinha quando comecei a fazer novelas, pois na altura não tinha
noção. Acho importante que uma pessoa se proteja dessas coisas.
– Isso vem da sua educação ou foi algo adquirido ao longo da sua carreira?
– Há duas razões principais para eu não falar da minha vida privada: a
primeira é porque acredito que há qualquer coisa que tem de ficar somente para
nós, família e amigos, já que temos uma profissão que é pública; a segunda é
porque quando alguém vê o meu trabalho não quero que esteja e pensar nas mil
coisas que esteve a ler nas revistas. Claro que podem inventar coisas e as
pessoas decidir se acreditam ou não, mas da minha boca jamais sairá algo. Esta
é a minha postura neste momento. No dia em que me casar, e se me apetecer
apresentar ao mundo o meu marido, fá-lo-ei, mas neste momento não sinto
necessidade de partilhar a minha vida pessoal.
– E o casamento faz parte dos seus planos ou está somente focada na sua
profissão?
– Temos tempo para tudo. Tenho 28 anos e não digo que esteja a ficar
velha, mas naturalmente o meu relógio biológico já começa a soar mais alto…
Começo a ter uma atitude diferente em relação às crianças e no fundo tem mais
lógica construir uma família enquanto estou a fazer a série e tenho trabalho,
pois sei que não o perderei se engravidar. Se estivesse a fazer uma carreira só
cinematográfica seria mais difícil, pois não poderia ir a um casting
grávida para fazer um papel de ‘boazona’. Acho que é muito mais fácil construir
uma família enquanto estiver a fazer qualquer coisa como a série do que quando
estiver a saltar de filme em filme, a não ser que tenha uma carreira já
solidificada.
– A maternidade poderá ser uma decisão a curto prazo?
– É uma coisa que gostava de fazer, mas não sei quando será… Um ano,
dois, cinco… Quando sentir a altura, acontecerá.
– Já foi considerada uma das mulheres mais sexy do planeta. Como lida
com isso?
– [risos]. Há vários tipos de sensualidade e cada pessoa tem a sua opinião
sobre isso. Para mim a sensualidade vem muito do à-vontade que a pessoa tem
consigo própria. Sou muito low profile e gosto é de andar de jeans,
T-shirt e sapatos rasos quase todos os dias. Estou à vontade comigo
própria e já reparei em pessoas que não são estereotipadamente bonitas, mas que
têm imensa autoconfiança e há imensa coisa que atrai nelas. Acho isso muito
mais sexy do que o estereotipo de peito grande, saia curta e decotes.
Quanto a mim, alguém me achou sexy… [risos].
– Já se sente preparada para entrar nos 30?
– Não tenho receio nenhum e as rugas não me preocupam nada. Trato muito bem
de mim e quando começarem a aparecer essas coisas, logo se vê, há muita maneira
de as esconder. Cada ano que vivi trouxe-me coisas melhores e não tenho medo do
que se avizinha. Claro que os 30 são um marco para qualquer mulher, pois
começa-se a pensar que já se deveria ter filhos e família. Julgo que é mais uma
pressão biológica.
Daniela Ruah: “É fácil sermos puxados para o lado mais obscuro de Hollywood”
A atriz falou do caminho que tem percorrido nos EUA e da forma como lida com o sucesso e a rejeição.
+ Vistos
Mais na Caras
Mais Notícias
Parceria TIN/Público
A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites