Ana Moreira, de 32 anos, é uma das atrizes mais requisitadas pelo cinema português e o seu talento já foi reconhecido tanto no nosso país – foi, por exemplo, a vencedora do Globo de Ouro para Melhor Atriz em 2006 – como em festivais internacionais. Contudo, a atriz, que se estreou em 1997, nunca encarou o sucesso como garantido e revela que conseguir ter trabalho é uma batalha que lhe exige muito esforço e dedicação.
Durante uma conversa intimista, Ana revelou como concilia a sua paixão pelo cinema com os sonhos que tem para a sua personagem de todos os dias.
– Estreou recentemente o filme Tabu, no qual interpreta a jovem Aurora. Foi um projeto aliciante?
– Foi uma experiência muito boa. Filmámos em Moçambique durante um mês, rodeados por montanhas e árvores gigantes. A história do filme já é uma aventura amorosa, mas toda a equipa acabou por viver a sua própria aventura.
– Este filme já foi premiado no Festival de Cinema de Berlim e no Festival Internacional de Cinema de Las Palmas. A Ana dá muita importância aos prémios?
– Não ligo a prémios. As distinções que temos lá fora parece que não têm importância no nosso país. Nunca me deixei deslumbrar com tudo o que acontece nos festivais, porque quando volto a Portugal parece que não se passou nada. Fico muito contente com o reconhecimento, mas por dentro não me sinto completamente satisfeita, porque esses prémios não têm consequências.
– Quem olha para o seu percurso facilmente a considera uma privilegiada, porque é uma das atrizes portuguesas que mais trabalham em cinema. Sente-se uma privilegiada?
– Por um lado, sinto-me privilegiada, porque há mais de dez anos que faço cinema e tenho tido a oportunidade de fazer trabalhos muito bons, não tenho pudor em assumi-lo. Por outro, é complicado, porque às vezes gostava de sentir mais reconhecimento pelo meu trabalho. Mas também não é bem disso que sinto falta, é outra coisa qualquer que nem sei explicar…
– É uma permanente insatisfeita?
– Acho que não.
– Apesar de já ter feito televisão e teatro, a sua carreira tem sido construída no cinema. Gostaria de trabalhar mais nos outros formatos?
– Se não faço mais televisão ou teatro é porque não sou contactada para isso. Fiz uma série para a RTP, uma novela para a TVI, mas foram coisas pontuais e não foi por eu assim o desejar. São os produtores de cinema que me chamam mais e uma pessoa faz o que pode.
– Gostava de ter uma carreira internacional?
– Não me faz sentido pensar nisso. A competição lá fora é feroz. Para investirmos numa carreira no estrangeiro temos de largar tudo o que temos cá e ir viver para lá, começar tudo de novo. E neste momento não tenho uma estrutura económica que me permita dar esse passo. E há tantas coisas que podemos fazer aqui! Temos tão bom cinema, tão boas histórias… Ir lá para fora implica fazer grandes sacrifícios e saber lidar com uma competitividade à qual não estamos habituados.
– Não se considera uma pessoa competitiva? Prefere ter uma vida sem grandes desafios?
– A minha vida não tem sido muito fácil. Uma pessoa para viver só do cinema tem de lutar muito, aguentar muita coisa e ser emocionalmente forte. Temos de acreditar no que fazemos e quando caímos do cavalo, somos mesmo obrigados a levantar-nos e a continuar. Não me considero uma mulher frágil.
– A instabilidade que se vive no cinema tem-na obrigado a adiar alguns sonhos pessoais como ter uma família?
– Agora que já cheguei aos 32 anos, já não vivo tão bem com a instabilidade desta área. Queria ter uma certa tranquilidade de vida e não era preciso muito, mas sinto que tão cedo não vou conseguir isso. Eventualmente, [constituir família] é uma coisa em que poderia pensar num futuro não muito longínquo, mas quando começo a pensar nisso fico mesmo angustiada. Infelizmente, só se pode viver dia-a-dia e temo que cada vez mais seja assim. O que me faz continuar é a paixão que sinto pelo cinema. E já que investi tanto de mim, não vou desistir.
Ana Moreira: “Não me considero uma mulher frágil”
A atriz conversou com a CARAS e revelou o seu lado mais pessoal.