O nutricionista e
especialista em antienvelhecimento Humberto Barbosa não aceita que se
diga que descuramos o nosso corpo por falta de tempo. E um facto é que, além de
ensinar aos seus clientes qual o melhor regime alimentar, ensina-os, acima de
tudo, a aproveitar todos os minutos do dia. Ele é a prova de que o tempo tem de
ser bem gerido. Marido, pai e avô, este madeirense tem tempo para exercer todas
as suas obrigações familiares com prazer e ainda trabalhar na sua Clínica do
Tempo, na linha do Estoril. Quando afirma que já descobriu o segredo da
juventude, fá-lo de forma categórica e difícil de refutar. E é acreditando
nesta conquista que vive a vida sem sobressaltos ao lado da mulher e restante
família, que faz questão de ter sempre a seu lado, como aconteceu nesta sessão
fotográfica.
– Quando olha para trás, quais são as metas que atingiu e que o deixam
feliz?
Humberto Barbosa – O que lhe vou dizer é que já atingi praticamente
todas as metas que queria atingir. Se morresse hoje, morreria inteiramente
feliz. Tenho 50 anos e mantenho uma família unida que é o meu porto de abrigo.
Mais do que família, somos todos muito amigos. Tenho reconhecimento
profissional dos outros e o meu próprio, sinto-me completamente realizado na
minha profissão. E mesmo nesta área, que está sempre em mutação e que tem
sempre novidades, já descobri a fórmula da longevidade, e essa é a mesma há
muitos séculos.
– Essa afirmação é arriscada…
– A menos que se acredite piamente nela. A fórmula é simples e baseia-se em
quatro fatores essenciais: alimentação saudável, exercício frequente, controlo
de stresse e equilíbrio emocional.
– Mas isso é algo que todos nós sabemos mas que não fazemos.
– Hoje em dia gastam-se milhões de euros em laboratórios onde as pessoas
procuram o comprimido que dá mais anos de vida. Isso nunca vai ser encontrado,
porque a verdadeira fórmula da longevidade está dentro de nós. O ser humano
tenta viver à base do comprimido desresponsabilizando-se. Esta fórmula de que
falo pode ser cultivada por nós.
– Não sei se concorda, mas parece que as pessoas precisam cada vez mais de ser ensinadas a procurar o
equilíbrio emocional…
– O ser humano tem atualmente diversos problemas e um deles é perceber que a
única pessoa que o pode fazer feliz é ele próprio. Se não temos a capacidade de
nos fazermos felizes, então somos fracos jogadores no que respeita às relações.
– O que quer dizer que o Humberto está a fazer um bom trabalho com a sua
vida, já que diz ter na família o melhor de todos os mundos e ainda por cima
ama o que faz…
– Claro. Mas tive de saber fazer-me feliz primeiro. De outra maneira não
conseguiria transmitir essa felicidade aos outros e receber também. Outro dos
grandes problemas é o facto de as pessoas dizerem que não têm tempo, mas todos
temos as mesmas 24 horas. É preciso saber equilibrar.
– Tem tempo?
– Não só tenho tempo como tenho todo o tempo do mundo. Essencial é dormir oito
horas e depois sobram 16 para fazer coisas. É muito tempo, desde que saibamos
delegar funções e descentralizar. É preciso acreditar nos outros. Se assim for,
as 24 horas chegam e sobram.
– E deu-se sempre bem enquanto pensou assim?
– Umas vezes tenho-me dado bem, outras vezes muito bem e ainda outras
excelentemente. O segredo do sucesso é saber escolher as pessoas que nos rodeiam.
– Quando é que soube que a área da nutrição seria a sua especialidade
profissional?
– Muito cedo, por volta dos 13 anos. Vivia no Funchal, onde conheci pessoas com
mais de 100 anos e outras com mais de 90, mas também conheci pessoas, como o
pai de um grande amigo meu, que morreu antes dos 50, com um ataque
cardíaco. Impressionava-me que algumas
pessoas morressem tão jovens e outras tivessem tamanha longevidade. Apercebi-me
de que as pessoas de muita idade se alimentavam do que cultivavam, faziam exercício
físico porque andavam a pé para todo o lado, não usavam relógio e por isso não
tinham stresse, e com tudo isso eram felizes. Percebi que a fórmula da
longevidade tinha a ver com esses fatores. Embora não soubesse bem o que queria
fazer, sabia que queria trabalhar dentro desta área. Depois fui para Inglaterra
estudar, estive lá três anos em que fiz de tudo um pouco, até lavar pratos num
hotel. Nessa altura tinha muito tempo para pensar no que queria fazer.
– Teve uma vida mais difícil do que têm tido, por exemplo, os seus filhos…
– Dentro do possível, tentei passar aos meus filhos a filosofia de que nada se
consegue sem trabalho e sem sonho. Tiveram mesadas baixas e até assinavam um
contrato comigo e com a mãe em que estabelecíamos valores consoante as notas.
Eles sabiam que se o pai saía todos os dias para trabalhar e ganhar a vida,
eles também tinham os seus deveres, e um deles era estudar e ter boas notas.
Mesmo hoje em dia sabem que na nossa empresa não basta ser filho do rei para
reinar. As pessoas têm de ser eleitas pelo trabalho, profissionalismo e
dedicação. Acabaram por escolher profissões que cabem na nossa empresa. A minha
filha é advogada e trabalha no departamento jurídico, o meu filho mais velho é
diretor de marketing e o mais novo é nutricionista. Mas sabem que não
estariam cá se não fossem profissionais acima da média. Não há aqui a teoria do
“consegue porque é filho de”.
– Como é que é ser avô de dois netos aos 50 anos?
– É ótimo. Ter tido filhos muito cedo foi bom a todos os níveis. Com esta idade
eles já estão crescidos e nós ainda estamos ótimos para fazer tudo. Quanto aos
netos, já disse aos meus filhos que estou muito contente com eles, mas que não
tiveram filhos para os avós os criarem. Hoje tenho energia para brincar com os meus
netos.
Humberto Barbosa: “Se morresse hoje, morreria feliz”
“Já atingi praticamente todas as metas que queria atingir.” (Humberto Barbosa)