Um pai algo severo que queria que seguisse Medicina, uma mãe trabalhadora que a apoiou no sonho de ser artista e uma avó que lhe ensinou que a família é um projeto grandioso, em tamanho e sentimentos, acabaram por lhe moldar a personalidade. A música sempre fez parte da sua vida e a chegada do sucesso não escondeu a sua faceta tímida e discreta. Aos 36 anos, Vanessa da Mata está a fechar um ciclo, profissional e pessoal.
Depois de dois anos a promover ao vivo Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias, a cantora está agora em estúdio a trabalhar um novo disco.
No âmbito da sua vida privada, Vanessa, que é casada com o ator e fotógrafo Gero Pestalozzi, adotou recentemente três irmãos: Filipe, Micael e Blanca, com idades entre os seis e os dez anos. “Desde criança que queria adotar e percebi, através do testemunho de várias pessoas, principalmente de pais, que quando existem pais equilibrados, doces e amorosos, dificilmente qualquer filho, sanguíneo ou de coração, vai dar errado”, explica, pesando cada palavra e acrescentando: “A adoção é um ato lindo. É quase surreal perceber que filhos biológicos têm atitudes completamente diferentes dos pais, e filhos adotivos têm total semelhança com os pais adotivos. É tudo uma questão de educação, limites e amor. Por ter sido praticamente filha adotiva da minha avó, em virtude de os meus pais trabalharem imenso, desde cedo percebi que não precisava de alimentar o ego fazendo filhos ao meu reflexo físico. E, já que precisava e queria exercer a minha decisão de maternidade, seria muito mais maduro, poético e satisfatório para mim fazê-lo de uma forma universal, através da adoção. É como uma adoção de amor a uma sociedade inteira. Não sei se as mães biológicas sentem o mesmo que eu, mas sinto-me abençoada.”
Voz maior da chamada nova geração da MPB (Música Popular Brasileira), Vanessa ganhou fama universal graças a uma música – Boa Sorte/Good Luck – composta e cantada a dois com o músico americano Ben Harper. Nesta entrevista, em Lisboa, a cantora e autora, que, curiosamente, não toca qualquer instrumento, falou também do seu “doloroso” processo criativo: “Preparar um novo disco é sempre um processo doloroso. Os sentimentos são muito fortes e deliberadamente fazem de mim um mero instrumento. Fazer uma música parece e é divertido, mas chega um momento em que me domina completamente, me inferniza e me pede para nascer, nem que seja de madrugada, quando não consigo dormir.”
Independentemente desta luta criativa, Vanessa confessa, referindo-se a problemas de saúde que enfrentou em criança: “Foi a música que me salvou e me fez querer viver. E viver é um bom vício!”
Vanessa da Mata: “A adoção foi um exercício poético de maternidade”
Aos 36 anos, a cantora brasileira está a fechar um ciclo de vida que a levou a adotar três crianças. Era algo desejado desde a infância, inspirada pela atitude da avó que a criou, como nos contou.