A propósito da peça Grande
Revista à Portuguesa e do seu 50.º aniversário, marcámos encontro
com João Baião no Teatro Politeama, onde o ator e apresentador faz uma
espécie de balanço de uma vida que apelida de “recheada e feliz”.
– Fez 50 anos no dia 8 de outubro…
João Baião – Vai-me custar muito envelhecer, porque gosto de ter esta
energia, de ser capaz de fazer as coisas, e às vezes já começo a sentir a dor
no joelho… já começo a sentir o peso da idade, mas sinto-me bem, em ótima
forma. Não sinto que tenha 50 anos. Desde que as doenças não apareçam, está
tudo bem! Sou feliz. Tenho uma família que amo e que me apoia, tenho amigos que
consegui conquistar ao longo da vida e a quem me mantenho fiel – e eles a mim
–, tenho a profissão que sempre ambicionei e tenho saúde!
– Está sempre assim tão bem disposto ou essa é a sua capa para o público?
– Sou mesmo assim. Acho que as capas se gastam. Na minha vida não pretendo pôr
capas em nada, gosto de ser autêntico, sincero, natural, de reagir e estar nas
coisas da forma como as sinto e como sou. Fingir, só no palco.
– A vida corre-lhe bem, portanto…
– Sim, porque faço aquilo de que gosto. Este foi sempre o meu sonho desde
pequenino, o meu ideal de vida, comunicar, ser ator, apresentador, estar no
mundo da comunicação. Depois, tenho alguma recetividade do público, que me
recebe de braços abertos.
– Com a peça no Politeama e o programa Praça da Alegria, na RTP,
trabalha de manhã à noite…
– É verdade, é mesmo trabalhar de manhã à noite sem dia de folga. Mas eu gosto
assim, gosto de estar ativo. Sei que é importante o descanso, estarmos connosco
próprios para recarregar baterias, tal como também tem de se encontrar de
alguma forma para estar com os amigos e a família. A família reclama sempre a
ausência, principalmente a minha mãe.
– Ainda é um menino da mamã?
– Acho que nunca fui. Até porque tenho uma irmã gémea, portanto, acho que nunca
houve a oportunidade de ser o menino da mamã. O meu irmão mais velho ficava a
tomar conta de nós para os meus pais poderem ir trabalhar, ficava à janela a
ver os amigos a jogar à bola e a andar de bicicleta… Sou muito apegado à
minha mãe, telefono-lhe todos os dias, mas se calhar não a visito tantas vezes
quanto ela gostaria… É a vida, e sei que ela está sempre comigo, tal como os
meus irmãos e os meus sobrinhos.
– Dava muitas dores de cabeça ou era uma criança calminha?
– Fui mais complicado que a minha irmã, era um bocadinho birrento, quando metia
uma coisa na cabeça, acabava por criar algumas complicações. Jogava à bola,
fazia ginástica, gostava muito de brincar na rua e, de vez em quando, aparecia
todo sujo, com os ténis todos rotos, e aí a minha mãe aborrecia-se um
bocadinho. Além disso, tinha ainda os escuteiros. E arranjava sempre forma de
juntar os meus amigos para organizar festivais da canção, para fazer
espetáculos, teatro. Tive uma infância mesmo muito feliz, tal como foi a minha
adolescência.
– Haja energia para fazer tanta coisa…
– É verdade, sempre fui muito ativo, fazia tanta coisa ao mesmo tempo e nunca
chumbei um ano, fiz tudo certinho até ao nono ano. Depois foi preciso optar, ou
estudava de noite e trabalhava durante o dia… Mas como à noite já tinha o
teatro, optei por não estudar e trabalhar durante o dia.
– Não se arrepende de ter deixado os estudos?
– Não, porque era uma necessidade. Tinha de trabalhar, sou filho de famílias
humildes, portanto, tinha de ajudar os meus pais. E de noite não podia deixar
de fazer teatro para estudar. Sempre tive o apoio dos meus pais, sempre me
estenderam o tapete para fazer aquilo que queria, para tentar o meu sonho.
Diziam-me só para eu manter os pés bem assentes na terra e perceber a nossa
realidade.
– Entretanto, por certo deixou os seus pais bastante orgulhosos…
– Sim, sei que a minha mãe tem muito orgulho em mim, nos filhos que tem. Sei
que o caminho foi bem escolhido e dou por bem empregue a opção que tomei.
– Veio de uma família muito humilde e hoje em dia movimenta-se num meio
completamente diferente. Não se deixa deslumbrar com o sucesso, a fama e o
dinheiro?
– Acho que tenho tido essa capacidade de manter os pés bem assentes na terra.
Obviamente que a facilidade de chegar a algumas coisas, nomeadamente a alguns
‘brinquedos’, me deslumbrou um bocado, mas sem nunca me deslumbrar ao ponto de
ficar cego por ter mais algum poder económico e esquecer de onde venho. Claro
que ter mais poder económico me ajudou imenso a adquirir algumas coisas que
sempre quis, todos nós temos as nossas futilidades, mas nunca me deixei levar
por desvarios muito para além daquilo que é a nossa realidade.
– E sempre ajudou financeiramente a sua família?
– Sempre ajudei a minha família, claro. Enquanto vivi na casa da minha mãe,
dava grande parte daquilo que ganhava para a ajuda da casa e mesmo depois de
sair continuei a ajudar. Gosto de mimar a minha mãe, até fora das datas
tradicionais.
– É um homem de muitos caprichos?
– Não tenho caprichos nem vícios. Gosto de algumas coisas, mas não sou
obcecado. Gosto de automóveis, de telemóveis, de tecnologias, gosto de sapatos,
de malas, de relógios, mas não deixo que isso condicione a minha vida. Só vou
até onde posso ir, até onde sei que me sinto confortável, nada de me deslumbrar
por coisas que sei que não tenho hipótese.
– Alguma vez desejou ou deseja ser pai?
– Gostava de ser pai. Nunca estabeleci metas, as coisas foram acontecendo
naturalmente na vida… logo se vê. Também pensei na adoção, mas a ser pai um
dia, gostaria de ter um filho biológico.
João Baião confessa: “A ser pai um dia, gostaria de ter um filho biológico”
Com 50 anos feitos no mês passado, o apresentador garante que teve – e tem – uma vida muito feliz e recheada.