Começou a cantar aos oito anos e nunca mais deixou de sentir o calor do palco e a emoção dos aplausos. Hoje, aos 50 anos, Marina Mota é uma das atrizes mais reconhecidas do país, em especial na revista à portuguesa, onde cresceu e da qual tem “memórias infindáveis e muito especiais”. Foi sobre o seu percurso profissional, mas também sobre o amor que tem pela filha, Erika, e pelos netos, Alexia e Gabriel, e a vontade que tem de voltar a apaixonar-se, que a atriz falou com a CARAS. Já sobre o processo em que é acusada de fuga ao fisco no valor de um milhão de euros, através de offshores, no âmbito da Operação Furacão, disse apenas: “Sobre esse assunto não vou falar. Mais uma vez revela que eu devo ser uma figura muito mediática, pois segundo sei, e consta no processo, fala-se de pessoas muito mais importantes do que eu. É sinónimo da minha importância, neste caso no mau sentido, mas não vou comentar.”
– Começou a cantar muito cedo…
Marina Mota – Sim, costumo dizer que não estou nesta profissão por escolha minha, mas sim porque a profissão me escolheu. Comecei a cantar por brincadeira, em 71, num concurso no antigo Cinema Odéon. Dois anos depois, ganhei o Mercado da Primavera, gravei o meu primeiro disco e nas férias comecei a cantar para as comunidades portuguesas nos Estados Unidos, no Brasil, na Bélgica, no Canadá… Continuava a estudar e cantar era um hobby, nunca pensei profissionalizar-me.
– Como é que lidou com a fama tão jovem?
– Fui muito bem educada pelos meus pais e tenho uma formação moral que me ajudou imenso, ou seja, o importante para mim era, sem dúvida, o partilhar aqueles momentos. Cantar fado era um hobby divertido e foi sempre encarado assim. Anos depois, o teatro também surgiu da mesma forma. Fui para o Teatro Nacional para cantar fado, acharam que eu tinha gracinha para representar e pronto, foi assim. Também nunca sonhei ser atriz.
– Mas depois o teatro, sobretudo o de revista, tornou-se uma paixão…
– Sem dúvida. É onde me realizo, é de facto o género teatral mais abrangente que conheço, mais diversificado, mais versátil, permite-nos fazer todos os géneros num só.
– Teve a sorte de viver os anos áureos da revista…
– Acho que vai acontecer à revista o que aconteceu com o fado. Quando comecei a cantar fado também era considerado uma canção menor e hoje é Património da Humanidade. Demoraram um tempo… A revista é um bocadinho a mesma coisa, se calhar vai é demorar ainda mais tempo.
– O projeto que protagoniza agora, ‘Grande Revista à Portuguesa’, de Filipe La Féria, acompanha de certa forma o seu percurso…
– Sim, é verdade. Eu cresci com a revista. Aliás, quando disse que a minha vida mudou, mudou também a nível pessoal, porque foi quando me estreei no Teatro que conheci o Carlos Cunha. Casámo-nos e tivemos uma filha nesse tempo do Parque Mayer.
– E agora a Erika também segue os passos dos pais…
– Sim, o que foi uma surpresa para nós. Ela nasceu e cresceu no meio sem demonstrar a mínima apetência e agora, aos 30 anos, é que lhe apeteceu…
– Dá-lhe conselhos?
– Só a aconselho a fazer o que ela quiser para ser feliz. Não sei se esta é a profissão indicada para se começar aos 30 anos, mas ela sabe isso e acho que vai saber defender-se.
– Desde que terminou a relação com o Oceano, não se lhe conheceu nenhum namorado…
– Porque pelo menos para já não houve ninguém que merecesse a justiça de ser comparado ao Carlos ou ao Oceano.
– Está então solteira?
– Solteiríssima. E infelizmente não estou apaixonada, mas tenho muita fé que isso aconteça. Sinto uma falta incrível de estar apaixonada, pois é um estado que me anima.
– Como é que tem lidado com o avançar da idade?
– Para já, posso dar-me por feliz, porque as rugas ainda não me chatearam muito [risos]. Hoje há muita coisa que podemos fazer para nos cuidarmos um bocadinho. Mas também temos que nos ir habituando à ideia de que o corpo envelhece.
– Será pessoa para recorrer a cirurgias?
– Se precisar, farei todas as que me apetecer, sem dúvida nenhuma. Elas existem para serem feitas. Mas na cara tenho algum receio…
– Por ser um instrumento de trabalho?
– Exatamente. Tenho medo de olhar para mim e não me reconhecer. Mas quando me sentir menos bem comigo, farei o que for preciso.
– É mais conhecida como atriz de comédia…
– Já fiz vários dramas, mas digo sempre que prefiro fazer comédia. Trabalho com emoções e tento dar credibilidade às minhas personagens, sejam elas dramáticas ou cómicas. E quando faço coisas dramáticas, para que tenham credibilidade eu tenho que as sentir. Quer isto dizer que o drama me desgasta imenso!
– E o rótulo de atriz de comédia nunca “castrou” oportunidades noutras áreas de representação?
– Não, não, de maneira nenhuma. Até porque na revista tive oportunidade de fazer tudo, daí ser completamente fã deste género. E já cheguei a um momento em que acho que já não tenho de mostrar a ninguém que sou capaz de fazer isto ou aquilo.
Atriz há quatro décadas, Marina Mota revela: “O drama desgasta-me imenso”
Aos 50 anos, a atriz diz que apesar de estar solteira e com vontade de voltar a apaixonar-se, vive uma fase serena, provavelmente típica da idade.