Numa carta aberta enviada ao New York Times, Dylan Farrow relato o alegado abuso sexual cometido pelo seu pai adotivo, o famoso realizador Woody Allen, quando tinha sete anos. De acordo com a missiva publicada num blogue do referido jornal, o episódio remonta ao ano de 1992 e terá acontecido em casa da mãe de Dylan, a atriz Mia Farrow, na altura em que esta se estava a separar do cineasta. “O Woody Allen nunca foi condenado pelo crime, [mas] o facto de ele ter escapado apesar do que me tinha feito, assombrou-me enquanto crescia. Vivi com a culpa de lhe permitido estar perto de outras meninas”, relata Dylan, que tem hoje 28 anos, mudou de nome e vive no estado norte-americano da Florida com o marido.
A separação de Mia Farrow e Woody Allen ao fim de 12 anos de relação foi uma das mais controversas e mediáticas da década de 1990. O realizador apaixonou-se pela filha adotiva da atriz, Soon-Yi Previn (com quem continua casado), então com 19 anos, e o escândalo invadiu os jornais. “Não sabia que o meu pai usaria a sua relação sexual com a minha irmã para encobrir do abuso que me infligiu”, pode ler-se carta, onde Dylan Farrow culpa Hollywood por nunca ter questionado a veracidade das suas acusações e elogiar o homem que alegadamente destruiu parte da sua infância. “Durante muito tempo, a aceitação de Woody Allen [por parte do star system] silenciou-me. Tinha pavor de ser tocada por homens. Desenvolvi um distúrbio alimentar. Comecei a cortar-me. Esse tormento foi piorado por Hollywood”, relembra.
“Qual é o seu filme favorito de Woody Allen? Antes de responder, deve saber: quando eu tinha sete anos, Woody Allen levou-me pela mão e conduziu-me até um sótão sombrio tipo armário no segundo andar da nossa casa. Disse-me para me deitar de barriga para baixo e brincar com o comboio elétrico do meu irmão. Então, atacou-me sexualmente. Falou comigo enquanto o fazia, segredando que eu era uma boa menina, que era um segredo nosso, prometendo que iríamos para Paris e que seria uma estrela nos seus filmes”, pode ainda ler-se no documento publicado na íntegra pelo blogue do colunista norte-americano Nicholas Kristof, amigo de Mia Farrow.
Sobre o papel da mãe em todo este caso, Dylan relata: “A certa altura, a minha mãe sentou-se comigo e disse-me que eu não teria problemas se estivesse a mentir, que podia retirar tudo o que tinha dito. Não podia. Era tudo verdade. Mas as alegações de abuso sexual contra os poderosos protelam-se mais facilmente. Havia peritos disponíveis para atacar a minha credibilidade. Havia médicos disponíveis para fazer uma criança abusada duvidar de si. (…) A minha mãe não quis dar sequência às acusações criminais, apesar de [existirem] indícios de causa provável pelo Estado do Connecticut – por causa, nas palavras do procurador, da fragilidade da ‘criança vítima’”.
Estas acusações sempre foram negadas por Woody Allen, tanto na altura como sempre que o assunto voltava a ser abordado.
O cineasta, de 78 anos, continua a ser um dos mais admirados de Hollywood. Há cerca de três semanas foi homenageado com o prémio Cecil B. DeMille, o Globo de Ouro de carreira, e está nomeado para os Óscares em três categorias pelo filme Blue Jasmine.
Filha adotiva de Woody Allen fala pela primeira vez dos alegados abusos sexuais cometidos pelo pai
Dylan Farrow denunciou o realizador às autoridades há mais de 20 anos, mas só agora resolveu relatar abertamente os factos.