Com um sorriso doce e rasgado Joana Câncio, atriz, 28 anos, chegou ao Nortada, o restaurante na Praia Grande onde, como diz, se sente em casa. Trazia a filha, Constança, de dois anos, ao colo. Trocaram beijos, mimos e, depois de um apertado abraço, a bebé foi à sua vida, que é como quem diz, foi explorar os recantos da “casa”. E conquistou as nossas objetivas a correr, brincar, saltar, rir e a dar muitas gargalhas. No fim, adormeceu, dando espaço para que esta entrevista acontecesse. À CARAS, Joana, que no ecrã mostra o seu inegável talento na pele de Tina Castelo em O Beijo do Escorpião, falou dos dois casamentos falhados, da importância da mãe na sua vida, do amor recente pelo pai, da paixão que está a viver e que trouxe muita paz à sua vida e, claro, da filha, com a qual descobriu que o amor não tem limites. E foi precisamente a falar de amor que começou esta conversa.
– Lembra-se do seu primeiro amor?
Joana Câncio – Perfeitamente! Quando terminei a escola fiz uma viagem com a minha mãe a Marrocos, onde conheci o meu primeiro marido, Luís Baião. Eu tinha 19 anos, ele 32. A paixão foi tão grande que nunca mais nos largámos. Nessa altura, acabei por deixar a representação de lado para o acompanhar, já que ele era guia turístico e viajava bastante. Mas entre nós as coisas não correram muito bem e cada um seguiu o seu caminho
– E que caminho foi esse?
– Como tinha interrompido a minha carreira, assim que soube de um casting para os Morangos com Açúcar fui. E fiquei com um papel muito engraçado. Durante mais ou menos um ano, entreguei-me ao que gostava de fazer: representar. Entretanto, conheci aquele que veio a ser o meu segundo marido, Tiago Bento, e, no final da série, decidimos ter um bebé. Porque ou era naquela altura ou a minha carreira começaria a andar e depois ia ter de adiar esse desejo. Engravidei e estive um ano e meio em casa a tomar conta da Constança.
– Ou seja, pôs mais uma vez a sua carreira em pausa para se dedicar à vida pessoal…
– Eu não sabia gerir as duas coisas! Achava que para fazer uma coisa tinha de parar a outra. E só agora, recentemente, percebi que é possível fazer as duas.
– Casou-se uma segunda vez a achar que era para a vida e acabou por se divorciar de novo…
– Acho que a imaturidade é uma bênção [risos]! Bem, apesar de o resultado não ser o esperado, porque sonhei casar-me para sempre, o caminho que fiz, o que construí nos meus dois casamentos, foi muito importante para mim. Não voltaria atrás.
– Faria exatamente a mesma coisa?
– Sem qualquer dúvida! Saí magoada, frustrada, triste, porque ninguém sai feliz e maravilhosa de um casamento, mas não mudaria nada. Eu teria sido outra pessoa se não tivesse passado por estas coisas.
– Sabe o que correu mal em cada um dos seus casamentos?
– No primeiro, a diferença de idades, a diferença de prioridades. Aos 19 anos não consegui perceber isso, sou muito sonhadora, muito livre, muito apaixonada, queria fazer tudo na hora, no imediato. O Luís queria outras coisas na vida, que na altura não faziam sentido para mim. E eu não tinha vivido uma série de coisas que precisava de viver… Com o Tiago, voltei a achar que era para a vida toda, mas como casal não estávamos preparados para ter um filho, não estávamos preparados para viver a três. As pessoas acham que um bebé fortalece as relações, mas o desafio é tão grande que muitas vezes acaba é por demonstrar que a relação não é assim tão sólida.
– Deve ter sido bastante difícil ficar sozinha com a sua filha numa altura em que ainda nem sequer estava refeita de todas as alterações hormonais que uma gravidez e o nascimento de um filho implicam…
– Eu tinha 26 anos e a Constança quatro meses quando nos separámos e eu saí de casa. Foram tempos difíceis. Ela não era um bebé muito fácil, era muito irrequieta, e eu vivia muito ansiosa.
– Tinha receio de não ser uma boa mãe?
– Tive medo de não ter a capacidade de lhe transmitir que o mundo é um lugar seguro para viver. Eu tinha tido tantas desilusões que não conseguia transmitir-lhe segurança, porque eu própria não a tinha. Depois, tinha medo que ela não sentisse que eu a amava, e por isso só queria estar com ela. Só depois de ela ter um ano e meio é que consegui reconstruir-me.
– E contou com a ajuda de quem? Dos seus pais?
– O nascimento da Constança veio restruturar todas as minhas relações, inclusivamente aproximou-me do meu pai e da minha mãe.
– Mas não tinham uma relação saudável?
– Quando eu nasci os meus pais separaram-se, mas foi tudo muito tranquilo. Cresci em ambientes saudáveis, mas acabei por sair de casa da minha mãe com 17 anos, o que acabou por criar alguma distância entre nós. Hoje em dia tenho com a minha mãe uma relação muito verdadeira, muito frontal: refilamos, zangamo-nos, mas estamos sempre lá uma para a outra. É uma pessoa muito presente na minha vida e é um dos grandes pilares da Constança. Em relação ao meu pai, tenho sentido o que nunca tinha sentido antes, que é o amor pelo pai. Era uma figura na minha vida, mas não tinha uma relação de amor com ele. O amor não existe só porque somos do mesmo sangue, o amor vai crescendo de dia para dia. Com esse aumento de amor pelo meu pai, aumentou o amor por mim também e, consequentemente, a capacidade de amar alguém que esteja comigo.
– Já encontrou essa pessoa?
– Sim, voltei a apaixonar-me há muito pouco tempo. É uma relação recente, que me trouxe uma coisa que eu não sentia há muito tempo: paz.
– Corre o risco de pôr novamente a carreira em stand by?
– [risos] Não, agora não! Agora aprendi que posso ter tudo! Já aprendi a gerir. Sinto-me estável e feliz. Não sei o que a vida me reserva, mas agora está a ser muito bom, senti que me posso apaixonar, que é possível alguém aceitar-me com a minha filha e aceitar a minha filha. Está a ser um trio muito coeso. Estamos as duas muito gratas e felizes por termos conhecido esta pessoa, que trouxe muita paz às nossas vidas.
– Acha que ainda teria coragem de ir ao terceiro casamento?
– [Risos] Já não vivo na fantasia de querer casar-me e ser feliz para sempre, porque percebi que as relações dão muito trabalho e que para durarem e serem verdadeiras tem de haver muito empenho, muito altruísmo.
– Disse que saiu de casa pela primeira vez quando tinha 17 anos…
– E até hoje mudei 13 vezes de casa [risos]!
– Isso é andar sempre com a casa às costas! Não lhe causa alguma instabilidade?
– Não tem a ver com instabilidade. As casas fazem parte dos meus ciclos emocionais, representam o início de um novo ciclo e o fim desse mesmo ciclo. Desde que a Constança nasceu, tenho tentado ao máximo criar raízes e, mesmo que mude de casa, não mudo de sítio, porque assim ela continua na mesma escola, com os mesmos amigos e a mesma vida.
Joana Câncio: “Tive medo que a Constança não sentisse que eu a amava”
Genuína, a atriz de “O Beijo do Escorpião” fala das suas emoções.
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