Sempre disse que o mais importante não é como os outros a veem, mas estar de bem consigo, com a sua vida. E hoje Cinha Jardim, de 57 anos, está tranquila, a viver uma das melhores fases a nível emocional. Com o passado bem arrumado e sem traçar grandes metas, o que mais quer é continuar a ter o seu mundo de afetos preenchido. Esta viagem no tempo que fazemos nestas páginas começou com Pedro Santana Lopes como protagonista, uma vez que o romance de ambos fez capa da edição n.º 3 da nossa revista, e terminou com as personagens principais do seu mundo de afetos, as filhas Pimpinha e Isaurinha, e os dois netos, Francisco e Raul.
– A primeira capa que fez para a CARAS foi em setembro de 1995 ao lado de Pedro Santana Lopes. Recorda-se disso?
– Lembro-me perfeitamente. Foi em Sintra, fizemos umas fotos muito engraçadas, algumas de família, com os nossos filhos. São momentos que deixam saudades. O Pedro era magríssimo. Fazia-lhe bem aquela altura. [risos] Ainda hoje mantenho uma boa relação com os filhos dele e com o Pedro também. Está tudo arrumado no passado e estamos muito bem resolvidos.
– Embora já estivesse habituada aos flashes antes da CARAS, era a sua vida amorosa que mais curiosidade suscitava…
– Sim. Antes da CARAS, as outras capas faziam parte o meu ciclo com o Raul, o pai das minhas filhas, com quem vivi 17 anos. Quando a CARAS apareceu, essa relação já estava terminada e era natural que as pessoas quisessem saber pormenores da minha vida amorosa, mas não procuravam escândalos nem queriam ver o lado dramático. Queriam sonhar, queriam ver o mundo cor-de-rosa. Não havia a agressividade que há hoje. Nem uma curiosidade aguçada pela desgraça…
– É isso que a tem afastado dos holofotes?
– A partir de certa altura quis resguardar-me um bocadinho. Naquela altura eu abria as portas de minha casa, mostrava os quartos, a sala, e não havia problema nenhum. Nunca fui de esconder muita coisa, eu era ‘desbocada’, irreverente e com isso um isco fácil para a imprensa…
– E por vezes a sua família não gostava muito do que lia…
– Sim, havia coisas que a minha família não concordava que eu fizesse. Hoje percebo porquê e sou a primeira a dizer às minhas filhas para se resguardarem, coisa que nunca fiz na vida. Se tinha de aparecer em biquíni, aparecia, se era para fazer o pino, fazia. Hoje tenho mais cuidado.
– Houve alguma coisa que mostrou ou que disse às revistas que hoje não diria?
– Não, não tenho esses problemas. Disse, está dito. Mesmo que ache que devesse ter sido um pouco mais contida, digo tudo o que penso e não posso ir contra a minha natureza. Certamente eu não teria a mesma graça se pensasse muito no que dizer. [risos]
– Quando olha para trás sente-se nostálgica?
– Nostálgica, não. Sou uma pessoa saudosista, adoro viver do passado, mas do que ele me trouxe de bom. As coisas más tenho facilidade de eliminar.
– E olha para o futuro?
– Não me preocupa muito o futuro. Vou vivendo e não faço planos a longo prazo. Hoje estou numa fase muito feliz. Pouco preocupada com o que dizem ou pensam de mim. Fui aprendendo com vocês, imprensa, e com a experiência de vida.
– Voltando ao início da conversa: fez também capas com Julio Iglesias, Marco Paulo e Raul Cortez…
– E lembro-me tão bem de cada uma delas! A pessoa que mais me marcou numa determinada altura da minha vida foi o Marco Paulo. Fui, sou e serei para sempre amiga dele. Tenho-lhe um enorme respeito e uma grande admiração. Com o Iglesias também foi muito giro. Como todas as raparigas da minha geração, namorei muito ao som das suas músicas e antes de o espetáculo começar, estivemos juntos, demos um grande abraço, e era como se fôssemos amigos de toda a vida. Quanto ao Raul Cortez, ele era um senhor. Foi das pessoas por quem me apaixonei platonicamente. Era um poço de cultura, com uma experiência de vida riquíssima e um enorme sentido de humor. Adorava as minhas filhas. Passámos bons momentos e quando ele percebeu que tinha pouco tempo de vida, aproveitámos para desfrutar de todos esses instantes. Custou-me imenso, porque percebi que nunca mais o ia ver.
– Algumas das páginas da nossa revista foram preenchidas também com histórias e momentos com as suas filhas. Ao olhar para elas, acha que fez um bom trabalho?
– Quando olho para as minhas filhas fico muito orgulhosa, tornaram-se duas mulheres íntegras, com valores e de bem com a vida. Não foi fácil, muitas vezes, fazer de mãe e pai mas cumpri essa missão. Se houve alturas em que andaram às turras porque têm sete anos de diferença, hoje são as maiores amigas. A Isaurinha foi sempre muito mimada, sempre colada a mim, e tem um feitio muito sensível. A Pimpinha sofreu muito quando o pai morreu, mexeu com a estabilidade dela e foi complicado. Hoje está tranquila, encontrou o Francisco, um marido fantástico, e tem dois filhos que são a minha paixão.
– É uma avó muito presente…
– O Francisco e o Raul trouxeram muita alegria à minha vida. Nunca pensei que pudesse gostar tanto deles. É um amor incondicional. Com o mais velho tenho uma relação muito engraçada, porque ele adora-me e quer fazer tudo comigo… O Raul ainda é bebé, mas é uma ternura.
– Gostaria de voltar atrás e viver coisas que não viveu ou vivê-las de outra forma?
– Não, nada. A minha vida seguiu um rumo que me fez chegar aqui muito bem resolvida. Nunca traçaria outro percurso. Fui privilegiada na minha vida, porque tudo o que quis ter, eu tive. Fiz tudo o que tinha a fazer, disse tudo o que tinha a dizer e não me arrependo de nada.
Uma viagem no tempo com Cinha Jardim: “Tudo o que quis ter, eu tive”
Uma das suas paixões é viajar, por isso, nesta milésima edição convidámos Cinha a fazer as malas e a revisitar os últimos 19 anos.