Catarina Furtado aprendeu muito cedo a lidar com as diferenças, já que a sua mãe era professora do ensino especial. Por isso, ainda em criança percebeu que o seu futuro teria de passar por fazer a diferença na vida de alguém. Hoje, aos 42 anos, é um nome incontornável na sede da ONU, sendo embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População há 15 anos.
Foi durante um dos encontros anuais a que comparece para organizar a agenda do ano seguinte, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, que a CARAS conversou com a apresentadora sobre este lado do seu percurso, mas também, e como não poderia deixar de ser, sobre a vida feliz que vive junto do marido, o ator
João Reis, dos filhos de ambos,
Maria Beatriz e
João Maria e dos enteados,
Francisco e
Maria.
João Reis, dos filhos de ambos,
Maria Beatriz e
João Maria e dos enteados,
Francisco e
Maria.
– O próximo ano marca os seus 15 anos como embaixadora da ONU. Que balanço faz?
Catarina Furtado – Têm sido 15 anos muito enriquecedores do ponto de vista do conhecimento do mundo, todos os dias agradeço pelo privilégio de ter tido esta oportunidade, porque me deu uma noção muito mais concreta das desigualdades gritantes e isso promove em mim a necessidade de falar delas. A verdade é que não imagino a minha vida sem pensar que posso contribuir na mudança de vida de uma só pessoa, de duas, três, o que for. Não me imagino a olhar só para mim e para os meus, os meus são o mundo inteiro.
– Recorda-se como recebeu esse convite?
– Claro [risos]! Para já, fiquei muito surpreendida, porque o convite surgiu quando a Associação para o Planeamento da Família aqui em Portugal foi contactada pelas Nações Unidas para sinalizar figuras públicas com preocupações sociais desde sempre. Não sei quem sugeriram para além de mim, mas depois veio cá um enviado especial das Nações Unidas conversar comigo. Aquilo acabou por ser, sem eu ter percebido na altura, um teste. Passado uns tempos, recebi uma carta do Kofi Annan a convidar-me para ser embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a População. Confesso que na altura não tinha sequer noção do que era este organismo, mas ao perceber, deparei-me com coisas que não fazia ideia, percebi o quão importante é este Fundo. Todos nós, enquanto cidadãos, podemos agir e dizer onde queremos que haja um investimento… Eu acho que deveria ser na saúde da mulher, porque isso faz parte do desenvolvimento da sociedade. Podemos empurrar o mundo.
– Essa atenção com os outros surgiu em criança?
– Julgo que sim. Cedo tive consciência da discriminação, do ser diferente. A minha mãe foi mais de 20 anos professora do ensino especial na Crinabel e desde pequena que lidei com a diferença e, sobretudo, com o olhar perante a diferença. Acho que foi a partir daí que percebi que o mundo era muito desigual. E depois, sempre fui muito atenta aos outros. Não acho nada divertido andar nesta vida só a olhar para nós próprios, para tudo o que gira em torno do nosso umbigo. Acho isso muito perigoso e sendo figura pública, ainda mais.
– Como consegue que essa realidade não interfira excessivamente na sua vida?
– Porque já vi exemplos de coisas que foram feitas e isso faz-me
acreditar. O lema da UNFPA diz: cada pessoa conta, e isso está sempre a soar na minha cabeça.
– Tudo isto a faz sentir-se mais abençoada?
– Claro que sim, agradeço todos os dias não sei a quem e acho que sou uma privilegiada. Não estou à espera de nada pelo que faço. Fico só contente com o discernimento que tenho. Como referi, é muito perigoso as pessoas centrarem-se só nelas próprias. Acho que tem muito a ver com a educação.
– Quando diz que não sabe a quem agradecer, quer dizer que não acredita em Deus?
– Eu acredito em Deus e sou católica, a Igreja é outra coisa… Acredito imenso na possibilidade de as igrejas atuarem cada vez mais em prol dos direitos humanos. É preciso separar a solidariedade da caridade. Essa é uma das minhas convicções.
– Estamos no final do ano. Que balanço pessoal e profissional faz de 2014?
– Pessoal é fantástico, não posso pedir mais. O meu filho entrou na primeira classe, a minha filha está na terceira, a minha enteada fez 18 anos, entrou na faculdade, o meu enteado é muito bom aluno, todos têm saúde… Profissionalmente, foi um ano diferente na medida em que me tinha proposto alguns objetivos que não concretizei e concretizei outros com que não estava a contar… Foi igualmente maravilhoso.
– A maioria das mães queixa-se da falta de tempo. Acontece-lhe o mesmo?
– Já dei por mim a sentir muita culpa, mas aprendi que isso só me trazia stresse a mim e aos meus filhos. Hoje em dia recuso-me a dizer que falho, falharei certamente, mas foi assim que encontrei um equilíbrio. Não me culpabilizo de nada, quando estou, estou, e estou sempre de alguma forma. Depois comecei a olhar para o meu passado: os meus pais trabalharam imenso toda a vida e eu e a minha irmã estamos cá, bem formadas e educadas. As crianças sentem o amor e isso é o suficiente. Não se pode deixar de dizer que se ama, que se gosta, de abraçar, de tocar.
– Tem uma base familiar equilibrada. Sente que esse equilíbrio se deve também a si?
– Para mim, a harmonia entre as pessoas é das coisas mais importantes na vida e sou muito diplomata, pacífica e verdadeiramente preocupada com os outros. Para mim, a vida só faz sentido se incluir partilha e não consigo estar bem se alguém que eu ame, goste ou admire não estiver bem. Não gosto nada de falar de mim, mas respondendo à pergunta, acho que sim, tenho a plena consciência de que é fácil lidar comigo, com a minha energia ou com a forma como me predisponho a cada dia. Tenho a necessidade de fazer com que cada momento na minha vida passado com alguém tenha um sentido, qualquer coisa de bom. Nunca desvalorizo um momento.