Estreou-se em televisão com apenas 17 anos, como apresentadora do Portugal Radical, e o público não a esqueceu. Galerista e autora do UP Blog, Raquel Prates ficou naturalmente feliz ao receber o primeiro prémio da XX Eleição de Elegância da CARAS.
– Tem sido, ao longo dos anos, uma presença muito regular nesta eleição…
Raquel Prates – O que é profundamente lisonjeador. Comecei a trabalhar em televisão aos 17 anos e a CARAS tem acompanhado o meu crescimento, as minhas alegrias e tristezas… Este ano vou fazer 40 anos e continuar a receber este carinho tão grande é muito importante.
– Dos 17 aos 40 anos, acha que tem crescido elegantemente enquanto pessoa?
– Acho que sim. É difícil falar de elegância na primeira pessoa. Esforço-me todos os dias para ser melhor, o que, para mim, é uma forma de elegância, tal como a dignidade, os princípios e valores, a forma como nos relacionamos e nos preocupamos com os outros. A elegância é muito mais simples do que por vezes as pessoas tendem a achar. Não é uma roupa bonita que faz uma pessoa elegante. Conheço inúmeras mulheres anónimas profundamente elegantes, no trato e na forma como se relacionam com os outros.
– No entanto, uma pessoa com exposição pública deverá ter, também, alguma preocupação com a imagem. No seu caso, sempre foi uma pessoa muito atenta às tendências, que gosta de arriscar…
– É verdade. As pessoas acham que tenho um estilo muito clássico, mas na verdade há sempre um apontamento que é a extensão da minha personalidade e que acaba por ser um pouco mais divertido ou provocador, conforme aquilo que quero comunicar. A arte de vestir também é algo divertido e uma forma de comunicar. E eu sempre tive essa vertente estética. Também tive muita sorte, porque sempre vivi rodeada de pessoas criativas e o facto de privar com artistas permitiu-me essa liberdade de arriscar. Muitas vezes sou contida nos gestos e nas palavras mas a minha postura – aquilo que visto não são acasos – é também uma forma de comunicar.
– No caso deste visual, o que é que quis transmitir?
– Costumo preparar duas ou três coisas, mas o dia é que dita o que sinto que devo vestir. Tem a ver com um lado emocional, não é só uma vertente estética. E hoje resolvi brincar com um smoking masculino que tenho já há muitos anos (não é a primeira vez que o uso, mas sempre me trouxe muitas alegrias), escolhi um body Nizza, que faz parte do meu projeto de apadrinhar marcas emergentes nacionais na 39A Concept Store, trouxe uma estola, porque é tendência e achei que era um contraste engraçado e depois desmontei tudo com uma clutch feita de materiais diferentes, que conjuguei com a riqueza das joias de autor Swarovski. É um clássico, mas sempre com uma vertente mais excêntrica.
– Preocupa-a estar quase nos 40 anos?
– Não, de todo. Estou muito feliz com a minha maturidade, com a forma como atualmente vejo o mundo… Antes corria demais, era muito alarmista e demasiado rigorosa comigo mesma, agora, curiosamente, estou muito mais calma e descontraída. A idade traz-nos esses pequenos luxos, de optarmos por aquilo que realmente gostamos e começarmos a dizer que não.
– Quer identificar algo que considere deselegante?
– Há tantas coisas deselegantes… Infelizmente assistimos a agressões diárias, entre marido e mulher, amigos, família, pessoas desconhecidas na rua. Vive-se uma intolerância constante. Acho que nós não estamos feitos para esta velocidade. E, portanto, perdoo a maioria das deselegâncias a que assisto, porque as compreendo, de alguma forma. Vivemos todos em sobressalto. Acho que entrámos todos numa fase de sobrevivência a que nunca tínhamos assistido de forma tão alarmante. A solidão e o finito são coisas que também me assustam muito, não sei se podemos considerar deselegantes, mas são situações com as quais me debato diariamente e nas quais penso muito. É tudo demasiado rápido.
Raquel Prates: “Não é uma roupa bonita que faz uma pessoa elegante”
Eleita a mulher mais elegante pelos leitores da CARAS, a galerista gosta de arriscar nos ‘looks’ e de transmitir emoções através do que escolhe usar.