Com mais de 50 anos de carreira, Júlio Isidro, de 70 anos, é um nome incontornável da televisão portuguesa. Habituado a nem sempre ter o reconhecimento merecido, foi com a elegância que lhe é característica que o apresentador contou como contorna essas situações, sempre com o apoio da mulher, Sandra Barros, de 43 anos, e das filhas de ambos, Mariana, de 16 anos, e Francisca, de 11.
– Fizeram recentemente 17 anos de casados. Como tem sido?
Sandra Barros – Tem sido ótimo, fantástico. Como em todos os casamentos, há momentos menos bons, mas a maioria são bons e é a esses que vamos buscar forças para ultrapassar as ocasiões piores.
Júlio Isidro – Há que realçar que os momentos menos bons não são na nossa relação, são momentos colaterais que vivemos enquanto casal devido a causas exteriores. De resto, acho que descobri a solução para ser casado até ao final dos meus dias.
– Esses efeitos colaterais têm a ver sobretudo com o seu lado profissional?
– Neste momento estou a viver a chamada onda alta, mas como nunca me deixei levar por ela, estou a saber navegar tranquilamente. A verdade é que também tivemos ambos, já que tudo é vivido em família. Há que saber navegar com o chamado mar chão, quando não há vento e as velas não permitem avançar.
– Essa onda deve-se a ter ‘salvo’ o programa da manhã da RTP num dia em que o José Pedro Vasconcelos estava de férias e a Tânia Ribas de Oliveira adoeceu?
– Não só, mas também. Deve-se a uma série de circunstâncias. De repente, há uns cliques mínimos que fazem com que as pessoas sejam olhadas de outra forma. Não sou melhor profissional do que era e muito menos pior do que isso, não tenho mais nem menos gracinha, aconteceram coisas que fizeram com que o meu estatuto se alterasse neste momento. Mas eu acho que é mesmo assim, a vida das pessoas, como das empresas e dos países, tem essas nuances. Naturalmente, com tudo o que já vivi, houve momentos em que eu estava em casa indignado, outros, triste, momentos em que as nossas filhas pensavam que estávamos zangados porque estávamos a gritar um com o outro, mas para terceiros [risos]. Claro que o nosso incómodo era muitas vezes partilhado em diálogo de travesseiro com a luz apagada, em que pensávamos como é que íamos dar a volta à situação, já que não era justo.
– Mas não é suposto uma pessoa com 55 anos de carreira ter de dar provas…
– [risos]. Isso era o que eu gritava em casa com a minha mulher… E não era só isso… Havia milhares de pessoas que se cruzavam comigo na rua e me perguntavam: “Porquê?” Mas eu nunca fiz essa pergunta a ninguém na RTP. Nunca! Sabiam que eu existia, tenho uma carreira cheia de grandes êxitos e aqui há uns cinco anos surgiu um conceito de uma grelha pop light, eu não era light nem pop e devo ter ficado de fora.
– Porque é que nunca fez essa pergunta?
– Por uma questão de pudor e provavelmente até também de humanidade. Não vou perguntar uma coisa a que alguém não vai saber responder ou não vai ter a coragem de dizer: “Só não o queremos.” Porque não havia mais nenhuma razão…
– A sua relação com a RTP parece como aquelas uniões com 55 anos que nunca avançam para o casamento…
– [risos]. É mesmo isso. Eu vivo em estado de mancebia com a RTP e nesta altura já nem quero outro. É uma união de facto com muitos filhos [risos]. Talvez a minha vida tenha sido pautada por um enorme defeito. É que hoje em dia, e de há um tempo para cá, as pessoas confundem elegância com fragilidade. Aquilo que posso garantir é que hoje em dia, se quiser sair, saio, mas como queria, pela porta grande.
– A Sandra consegue aceitar tudo isso com ligeireza?
Sandra – Primeiro porque antes de ser mulher do Júlio já trabalhava com ele e fui-me habituando, mas às vezes tenho vontade de dizer certas coisas que não digo porque carrego um apelido. Muitas vezes penso que bom seria se eu pudesse dizer algumas coisas a determinadas pessoas… mas também não são muitas.
– Trabalham bem juntos?
– Muito bem. Podemos não concordar com esta ou aquela solução, mas encontramos sempre alternativa, não há discussões. Respeitamos a individualidade de cada um e gostamos muito de estar juntos.
Júlio – Nunca nos zangámos enquanto marido e mulher e então enquanto autor e produtora, muito menos.
– Júlio, há pouco referiu que agora sairia pela ‘porta grande’. Pensa nisso?
– Houve momentos em que já pensei nisso, mas nunca quando as coisas estão a correr mal. Agora que estão bem poderia ser encarado, mas tenho duas censoras, que são as minhas filhas e elas acham que eu tenho de continuar. Mas nunca pensei que estava na hora de parar para gozar a vida.
– Essa elegância e leveza com que encaram a vida é também uma forma de educação para as vossas filhas?
– O que digo muitas vezes é que não educo nada as minhas filhas nem preciso, elas só têm de nos ver. Elas fazem como nós. Aliás, elas são sempre muito queridas e elegantes comigo, talvez até por eu ser o mais velho dos pais das amigas. Elas usam isso a favor delas e dizem que assim aprendem mais coisas… É generoso da parte delas [risos].
– Esta paternidade tardia fá-lo pensar que poderá perder ocasiões na vida das suas filhas?
– Eu não tento esquecer isso, mas a Sandra ralha comigo nessas ocasiões. Estou sempre a fazer contas, porque há coisas que planeio poder viver. Gostaria de as ver formadas e depois tudo o que vier é um extra.
Sandra – Acho que não temos de viver com essa preocupação porque mais do que viver muito, o importante é viver bem. E o importante é que sejamos felizes, independentemente do tempo que teremos pela frente.
Júlio – Acho que as pessoas que estão muito envolvidas em projetos e sonhos conseguem fazer com o que tempo pare [risos]. Não há tempo para envelhecer.
Orgulhoso da sua vida, Júlio Isidro diz que a família é o seu porto de abrigo
O apresentador falou do seu percurso e da forma como o apoio da mulher, Sandra, e das filhas tem sido fundamental.