“QUERIDO CHEFE COM E. A cozinha está agora vazia. No ar, apenas o perfume de milhões de iguarias que o meu amigo António Silva confeccionou ao longo da sua vida.
De Termas de Caldelas para o mundo, foram muitos pratos lavados, alguns esturricados, outros acre-doces, porque a vida de quem vem de pobre e chega ao estatuto de homem realizado não foi fácil.
O cozinheiro mais português de Portugal, gostava de mim como se eu fosse um sobrinho. Sabia que eu não desconfio como fazer um ovo mexido ou estrelado mas estragava-me com petiscos.
Nunca deixou de dizer em entrevistas que nos 14 anos em que esteve afastado da televisão (?) enquanto o coziam em lume brando, foi meu convidado em todos os meus programas. Também na rádio lhe proporcionei uma rubrica semanal de culinária, para que o forno do seu talento não se apagasse.
Eu, o António Antonio Barra Martins, a Margarida Mercês de Mello, o Carlos Ribeiro e tantos convidados do meio artístico, comíamos uma vez por semana a Tele-Culinária do chefe!
Acabada a sessão fotográfica, sentávamo-nos à mesa do estúdio e lá íamos deglutindo entre boas piadas tudo o que o chefe tinha feito para figurar nas páginas da revista, um verdadeiro fenómeno de vendas.
Várias vezes por ano íamos a sua casa à Póvoa da Galega e aí quem mandava era querida Dona Graça. Foi das mãos dela que comi os melhores pastelinhos de bacalhau do mundo e saladas de fazer chorar. E os doces?
Também fui apresentador de alguns dos seus livros, o que temperou ainda mais a nossa amizade.
E agora querido António Silva, eu, o seu pior aluno, o seu fracasso como professor de cozinha, o seu amigo que lhe ouvia a voz já débil ao telefone ” Olá Júlio…Só para saber como está? E as meninas?” estou orfão de chefe com E.
Juntou-se à Dona Graça que foi o seu braço direito, o seu amor, a mãe dos seus filhos. Já estou a ver os dois entre tachos panelas a confeccionarem um bacalhau espiritual entre outras coisas boas de comer porque um dia destes o banquete com os vossos amigos, vai ser um caso falado…no Céu.
Não se esqueça dos papos de anjo….”, escreveu o apresentador Júlio Isidro na sua página de Facebook a recordar o chefe António Silva, que morreu esta quarta-feira, dia 14, aos 81 anos.
Júlio Isidro recorda o chefe Silva
O cozinheiro mais português de Portugal, gostava de mim como se eu fosse um sobrinho. Sabia que eu não desconfio como fazer um ovo mexido ou estrelado mas estragava-me com petiscos.
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