Desde que deixou o seu espaço no Estoril, há dois anos, e passou a dedicar todo o seu tempo ao projeto que criou, o Pure Life Concept, que Cláudia Piloto, de 40 anos, se tornou outra mulher. É que a especialista em tratamento de imagem tem a possibilidade de todos os dias mudar a vida de alguém através de um serviço de tratamento e aconselhamento criado para as mulheres que sofrem de falta de cabelo em consequência de um tratamento oncológico ou de uma doença dermatológica. A seu lado em cada passo, Cláudia tem contado com o apoio do marido, Francisco Vaz Guedes, de 47 anos, e das filhas, Carolina, de 16 anos, Francisca, de 15 (do primeiro casamento), Carlota, de seis, e Constança, de quatro, que também se tornaram pessoas diferentes com este projeto.
– Este projeto não é novo, mas tornou-se único…
Cláudia Piloto – Sim, comecei a trabalhar com doentes oncológicos no meu espaço, no Estoril, e na altura isto aconteceu porque me foi pedido para trabalhar com uma grande amiga. Outras foram surgindo e tornou-se uma paixão. Trato do lado criativo da prótese e depois o lado humano é indescritível. É um trabalho altamente terapêutico para as mulheres, mas para mim também. Entretanto, enquanto ainda fazia este trabalho no meu espaço, comecei a fazê-lo também na Cuf Infante Santo, onde fui passando a maior parte do tempo. Então, larguei o meu espaço, achei que deixou de fazer sentido e devia dedicar-me inteiramente ao hospital. Agora vamos abrir uma nova clínica, já que comecei a tratar também pessoas que não são doentes, que têm somente necessidades terapêuticas, como queda do cabelo, e dessa forma escusam de se tratar no hospital, apesar de o espaço ser independente e com uma porta virada para a rua.
– Acredito que esta nova vida a tenha feito descobrir uma nova Cláudia…
– Completamente. Antes, eu transformava as pessoas, mas não cuidava delas. Aqui, eu cuido e para mim é fantástico vê-las bonitas e com um aspeto saudável. Sinto que mudei imenso e para melhor. Alterei imensa coisa na minha vida. Às vezes perguntam-me se não trouxe um peso à minha vida, pois estou sempre com pessoas doentes, mas a verdade é que não. Passei a entender que na realidade não temos mesmo noção do que são problemas… Antigamente, para mim era tudo uma chatice, hoje em dia, trabalho sozinha e estou muito mais feliz. A simplicidade e qualidade de trabalho que tenho acrescenta imenso à minha vida. Dou muito mais de mim agora. Tenho aprendido imenso.
– Essa forma de viver não é também um exemplo para as suas filhas?
– Totalmente. Elas mudaram completamente a forma como viam o meu trabalho, a mais velha, que não ligava nada ao que eu fazia, já diz que quer seguir o meu caminho. Na altura em que eu tinha um SPA gigante com 500m² em cima do mar ela não ligava nenhuma e nem queria saber do meu trabalho para nada. Hoje está fascinada e faz-me imensas perguntas. Elas agora percebem que eu trabalho por paixão.
– Isso tornou-as menos fúteis, o que seria natural na idade das mais velhas…
– Sem dúvida. Elas não têm futilidade absolutamente nenhuma.
– Como é que lida com os dias menos bons inerentes a este trabalho?
– Gosto muito de ser feliz e claro que há dias que chego mais cansada a casa, mas nunca com o peso dos outros. Nasci para ser feliz e tenho passado por alguns momentos de infelicidade para chegar onde quero, mas acho que isso faz parte do caminho, do meu crescimento como ser humano. Agora já consigo relativizar e preocupar-me apenas com o que é importante. Já consigo estar presente no momento em que estou a trabalhar e nos momentos em que estou em casa, em família.
– Isso quer dizer que agora tem mais tempo para a família?
– Muito mais… E trabalho muito mais. A nossa vida mudou muito, conseguimos estar muito mais tempo juntos e com qualidade. A organização faz toda a diferença. A única parte que ainda não consigo gerir muito bem é a social… Mas porque também não consigo estar em todos os meios, nem com todas as pessoas. Custa-me ir para um jantar com 50 pessoas porque sinto que não estou ali a fazer nada…
– E como é ser mãe de meninas em idades tão diferentes?
– Estes quatro anos foram uma loucura. Foi este projeto novo, a Constança, que nasceu sem ser programada… Foi uma bênção. Hoje olho para ela e a vida não fazia sentido de outra forma. De facto, é muito difícil. Elas precisam todas de muita atenção e acho que efetivamente houve uma altura em que não dava nem para um lado, nem para o outro. Agora é que sinto que, de facto, já me consigo organizar para dar para todas. Tenho a sorte de ter filhas maravilhosas. Procuro ser uma mãe espetacular, mas sei que não sou a melhor, até porque isso não é natural, não existe. Tento dar-lhes o melhor e é um trabalho diário, mas não me condeno em nada, porque também sou uma pessoa e também erro. Faz parte. Aliás, elas têm perfeita noção dos meus erros. Nós somos muito cúmplices e eu sou a primeira a dizer-lhes que também falho e que isso é humano. Uma família tem de se aceitar com as suas qualidades e defeitos. Temos é de conversar e elas conversam muito comigo.
– Há um crescimento mútuo?
– Exatamente. Porque aquela ideia de os pais mostrarem aos filhos que não têm defeitos, sabendo eles, no seu íntimo, quais são, sem nunca se conversar sobre isso, acaba por ficar recalcado nas crianças. Há coisas que devemos reservar e preservar, mas devemos partilhar as nossas fragilidades. A única coisa que exijo às minhas filhas é que sejam felizes e que encarem a vida com um sorriso. Não as deixo desistir de nada e digo-lhes sempre que não têm de acertar à primeira. Nem as deixo com a sensação de derrota, jamais lhes digo que falharam. Às vezes agradecem pela minha insistência e isso é muito bom. Mas isso não tem a ver comigo, tem a ver com elas. Há pais que acham que os filhos são o reflexo deles e não percebem que os miúdos não estão felizes. Para mim, isso não é educação e é tudo o que eu não quero para elas.
Cláudia Piloto: “É uma sorte ter filhas maravilhosas”
A especialista em tratamento de imagem falou sobre o seu projeto e contou como a sua nova vida profissional influenciou a familiar.