Adois passos da Avenida da Liberdade, João Rôlo ocupa um atelier feito à sua medida, um espaço acolhedor, com peças vintage, diversos vestidos de noiva e modelos de alta costura (alguns levaram mais de 400 horas a ser feitos) onde nos recebeu para pormos a conversa em dia. Aos 51 anos, 30 de carreira, levou a sua marca até Angola e agora aposta no Mónaco. Por cá, continua a vestir algumas famosas, caso da fadista Mariza, que levou as suas criações na digressão que fez pelos Estados Unidos, e da atriz Fernanda Serrano, que ajudou a brilhar na cerimónia dos prémios Emmy, em Nova Iorque.
– Está a expandir a sua marca para o estrangeiro.
João Rôlo – Já tinha começado há uns anos, com Angola, mas este ano apresentei a minha coleção na Monte Carlo Fashion Week e conheci um mercado que tem muito a ver com o que faço. Ao longo destes anos fui-me posicionando no mercado de luxo e é aí que continuo a apostar.
– Portugal ficou demasiado pequeno para a moda que faz?
– Em Portugal não temos propriamente um mercado de luxo. Temos uma avenida com grandes marcas e fico muito feliz quando vejo o frenesim das pessoas a entrarem e a saírem das lojas, mas as grandes festas, por exemplo, mesmo as que eram à porta fechada, já não acontecem com tanta frequência. Os Globos de Ouro são a única ocasião em que as pessoas pensam antecipadamente no que vão vestir. As portuguesas que visto ou são noivas, ou convidadas de algum casamento, ou vão a festas no estrangeiro.
– Desapareceu um pouco do circuito das festas. Porquê?
– Quando comecei a trabalhar na moda havia festas para as quais as pessoas se arranjavam, festas com imenso glamour. Agora não me identifico com as pessoas que vão às festas, não sei quem são nem o que fazem. Não são melhores ou piores, eu é que não me identifico com elas.
– Teve alguma fase profissional menos boa em que tenha pensado desistir?
– Sim, ao fim de dez anos de carreira comecei a sentir as pessoas a virarem-se contra mim. As portas fechavam-se. Ainda hoje sou um outsider. Em Portugal as revistas de moda não publicam nada sobre a minha marca. E depois de eu ter apresentado a minha coleção no Mónaco, por exemplo, foram publicadas notícias sobre mim em revistas de moda internacionais.
– O que é que o impediu de desistir?
– As minhas clientes e a minha equipa, que sempre me fizeram acreditar que tinha mérito para ir em frente. Hoje preciso é de pessoas que comprem a minha moda.
– Com essas idas ao Mónaco qualquer dia está a vestir a família Grimaldi. É um objetivo?
– Não é propriamente um objetivo, mas é uma possibilidade. Estou a trabalhar com o designer de sapatos Alberto Adonai, que calça alguns dos membros da família real e gostou bastante do meu trabalho.
– Há 11 anos, dizia-nos: “Dos 40 aos 50 vai ser uma fase muito rápida e de envelhecimento.” Confirma?
– [Risos] Quando comecei na moda achava que aos 40, 45 anos, estaria sossegado, em casa, que já nada do que fizesse acrescentaria alguma coisa à minha carreira. Como eu estava errado! Além de nestes dez anos ter tido uma evolução vertiginosa em termos de trabalho, cresci imenso. Agora precisava de mais 30 anos para fazer tudo o que ainda quero fazer. É óbvio que envelheci, mas a maturidade é fantástica. Sei o que quero, já não faço fretes: quando gosto, gosto, quando não gosto, já não finjo.
– Já não há receio de assumir que se é bom no que se faz!
– [Risos] Olhando para trás, quando achava que era bom, precisava era de um par de estalos!
– Deixou-se deslumbrar?
– Não, senão não estaria aqui. Estes anos de evolução e percurso são reflexo da minha humildade.
– Mas às vezes, com o sucesso que se vai alcançando, deve ser difícil manter os pés na terra…
– Nunca fui de extremos nem de exibicionismos. Não sou pessoa de grandes luxos, sou perfeccionista no meu trabalho e quero é lutar por ter o meu nome lá fora. Depois, há dois anos que faço meditação e tenho aprendido muito com isso. A organizar a minha vida, a minha cabeça, a não ter picos de euforia nem de melancolia, a não criar falsas expectativas, a ter humildade.
– Como é que acha que vai ser esta década?
– Vão ser anos loucos da minha vida. [risos] Estou com muito trabalho, muitos projetos.
– E onde é que fica a vida pessoal, sentimental?
– Para conseguir chegar onde estou tive de ser costureiro, modelista, sapateiro, fazer de tudo um pouco e nunca dei muita atenção à minha vida sentimental. Mas o mais importante na vida é sermos felizes e eu sou feliz, muito feliz! Só me arrependo de ter pensado em desistir por ouvir pessoas com mentes pequeninas que tentavam derrubar-me. Hoje sei que seguir a minha intuição, ser teimoso e persistente foi o melhor que fiz.
João Rôlo, aos 51 anos: “Ser teimoso e persistente foi o melhor que fiz”
Mike Sergeant
Mike Sergeant
Com 30 anos de carreira, o costureiro não podia estar mais feliz. Depois de Angola, foi a vez de levar as suas criações para o Mónaco, onde tem feito sucesso.