Bibá Pitta, 50 anos, mãe de cinco filhos, casada com o médico Fernando Gouveia. Aqui, nesta produção, aparece com a ‘ala’ feminina lá de casa. Maria, de 23 anos, a mais velha, que vai ser mãe de um rapaz, Duarte, em fevereiro do próximo ano, e Madalena, que atingiu a maioridade no passado dia 19, a filha que nasceu com um cromossoma a mais. As três criam um elo inabalável. São cúmplices, amigas. Também discutem. Mas, no fundo, não conseguem viver umas sem as outras. É nelas que esta entrevista se vai focar. Vamos então por partes.
– Bibá, estão as três numa fase feliz?
Bibá Pitta – Estes dois anos foram de altos e baixos a nível sentimental. A morte da minha mãe foi um rasgo enorme na minha vida, foi quase como se começasse de novo. Depois, foi a vez da Maria, que começou a trabalhar, foi viver sozinha e entretanto ficou grávida. E a Madalena fez 18 anos! A Madalena é aquele filho diferente que não sabemos qual é o caminho que vai seguir. Não projetamos nada. Mostramos-lhe as opções e ela vai fazendo as suas escolhas. E estou completamente orgulhosa dela.
– Acha que tem feito um bom trabalho enquanto mãe?
– Tenho a certeza de que o mimo, o amor, a linguagem dos afetos, ultrapassa qualquer problema que tenhamos. A Madalena, apesar de ser diferente, é uma grande mulher. E é a ela que se deve esse esforço.
– Como é a Madalena hoje em dia? Imaginava que seria assim?
– Acreditei sempre que fosse assim. A Madalena é genuinamente amada e o facto de a termos aceitado como ela é fez com que ganhasse uma grande autoestima. Ela sente-se amada e respeitada.
– E como é o relacionamento dela com os irmãos?
– A Madalena relaciona-se de forma diferente com cada um dos irmãos, mas adora-os a todos. Eles têm também por ela um amor incondicional e acreditam nela da mesma forma que eu e o pai. Sinto-me confortada por saber que um dia em que eu não esteja eles vão olhar por ela.
– Além da família, ela conta certamente com o amor de alguns amigos…
– Sim, ela tem tido também a sorte de, ao longo dos anos, se relacionar com pessoas que lhe dedicam a vida. Para amar alguém diferente é preciso ter um coração bom, porque há pessoas que não conseguem olhar para a diferença com bons olhos.
– E agora vamos virar as atenções para a Maria…
– [risos] Estou tão feliz! Aos 50 anos vou ser avó e isso enche-me de alegria, porque vou poder gozar este neto, mimá-lo, ‘roubá-lo’ à mãe…
Maria – [risos] O bebé vai ser só meu e só vai gostar de mim…
– Maria, certamente não esperava ficar grávida aos 22 anos…
– Há um ano eu dizia que não queria ter filhos, mas aconteceu…
– Foi um choque?
– Nem por isso. E depois, o que é que eu poderia fazer? Nunca me passou pela cabeça não ter este bebé, por isso, o que fiz foi reorganizar a minha vida. Quando soube já estava de dois meses, trabalhava como assistente de bordo, viajava bastante e tive de passar para terra.
– Foi difícil ter de alterar a sua vida profissional?
– Curiosamente, foi o que menos me custou. Adorava o que fazia, era maravilhoso, o ambiente era ótimo, e é disso que tenho saudades, mas não me imagino a fazer a mesma coisa. Depois, não deixei de o fazer porque fiquei doente. Estamos a falar de uma vida, da vida do meu filho…
– Custou-lhe dar a notícia à sua mãe?
– Foi horrível! Nem sequer consegui contar assim que soube. Estive uma semana a pensar como é que o iria fazer, depois ainda fui ao médico e só quando soube que estava tudo bem é que lhe contei.
– E qual foi a reação?
– Bem, houve uma mudança facial de segundos. Mas apoiou-me logo, claro. E ainda que não o tivesse feito, eu teria o bebé à mesma.
Bibá – Este bebé era o que nos faltava. Depois da morte da minha mãe, sentimos uma lacuna horrível. Deixámos de ouvir a palavra avó e agora vamos poder ouvi-la outra vez.
– Mas não estava à espera…
– Não, não estava. Mas ainda bem que ela está à espera de bebé e, se aconteceu de forma rápida ou precipitada, é um problema dela, a intimidade é dela e só a ela lhe diz respeito. O que me interessa é que este bebé nasça com saúde, com muito amor. E vamos todos ajudar para que seja um bebé feliz, para que eles sejam uma família feliz.
– Sente-se mais mimada agora?
Maria – Muito mais, pela primeira vez na vida [risos]!
Bibá – Ela foi a primeira a nascer. Depois nasceram mais quatro e a Maria sempre foi dando o palco aos irmãos. Neste momento, está a usufruir de todas as atenções, está muito mimada e muito contente.
– Idealiza um dia casar-se?
Maria – Idealizo um dia ter mais filhos e viver com a minha família. Nunca pensei em casar-me nem acredito muito no casamento. Para me casar tinha de ser para o resto da vida, e não consigo imaginar-me assim. Idealizo dar-me bem com a pessoa com quem estou e que seja um bom pai para o meu filho.
– Nunca nos apresentou o pai do seu filho…
– O Gui é discreto, não gosta de aparecer e quer que assim continue. E eu respeito-o.
Bibá – Tenho a sorte de ter um genro amoroso, que me dá o meu espaço enquanto sogra e que está preparado para eu lhe tirar o filho dos braços para o mimar [risos].
– A entrarmos também num novo ano, o que é que deseja para as suas duas filhas?
Bibá – Para a Madalena, espero que a vida lhe sorria como até agora e que um dia que eu cá não esteja a acolham e nunca a ponham de parte. A Maria, tenho a certeza de que será uma boa mãe e desejo que seja muito muito feliz. Depois, espero que o meu neto nasça com muita saúde e que se ele se apaixone loucamente por mim. Já é um bebé cheio de sorte, porque toda a gente à sua volta está doida para o amar. E não posso não deixar de referir os meus três filhos e o meu marido. A minha vida sem eles seria impossível. Amo-os loucamente.
Bibá Pitta: “O mimo, os afetos e o amor ultrapassam os problemas”
Fotografámos Bibá ao lado de Maria, que está à espera do primeiro filho, e de Madalena, que fez 18 anos.