“Ter Cancro está cada vez mais difícil. Antigamente, bastava fumar, apanhar sol sem protector ou ser o Manuel Forjaz. Hoje em dia, é preciso ter um amigo editor de vídeo e investir em duas Go-Pro. Ter amigos fotogénicos e contactos na imprensa. Contratar uma publicitária, um assessor de imprensa e um relações públicas.
Aprender sobre maquilhagem. Estudar Paulo Coelho. Criar uma catchphrase e um logotipo. Angariar sponsors e um patrocinador oficial. Ter tour manager. E acompanhar ao máximo a doença, para podermos actualizar diariamente a nossa página do Facebook e alimentar debates em programas com comentadores homossexuais.
Acima de tudo, temos de mostrar que não temos um Cancro que qualquer pessoa possa ter.
Tumores anónimos? Biópsias que não passam por gabinetes de imprensa? Metástases que nem à capa do CM chegam? Não, nós não temos nada disso. Nós nem sequer temos Cancro. Nós temos Cancro VIP.” Foi esta mensagem partilhada por Rui Sinel de Cordes na sua página de Facebook que deu início à polémica, uma vez que internautas e meios de comunicação interpretaram como um ‘ataque’ à atriz Sofia Ribeiro, que atualmente luta contra um cancro da mama e partilhou recentemente um vídeo onde mostra o momento em que rapou o cabelo, após ter percebido que este estava a começar a cair devido aos tratamentos de quimioterapia.
“É ridículo eu ter que explicar por que é que fiz aquele post… O que eu fiz foi uma reflexão. Claro que com um toque de humor, mas foi mais uma reflexão do que uma piada”, explica Rui Sinel de Cordes, que lamenta o “circo mediático que se está a criar à volta dessa doença, não só com a Sofia Ribeiro mas com muita gente e em todas as partes do mundo”. “Não vou ser hipócrita e dizer que não me lembrei do caso da Sofia Ribeiro quando escrevi aquilo, mas estava longe de ser destinado a ela. Se a mensagem fosse para a Sofia Ribeiro, eu tinha usado o nome dela. Já fiz tantas piadas e já usei tantas pessoas em textos que escrevi, que não era agora que ia deixar de fazer isso”, garante o humorista citado pelo DN, acrescentando que ele próprio já lidou com a doença: “Com a minha mãe, a minha avó, os meus tios, com amigos… É nojento ver canais de televisão ou jornais a pegar nesta situação e a dizer ‘Coitadinha da Sofia Ribeiro que foi atacada’. O que me mete mais nojo é a maneira como os media encaram isto tudo. Há comentadores que estão uma hora ou duas horas a falar da Sofia Ribeiro, sem saber nada do que estão a falar. Há milhares de pessoas a sofrer com isso”.