Depois de ter ganhado o prémio de melhor atriz nos Golden Globe, nos Critic’s Choice e nos Screen Actors Guild, a americana Brie Larson, de 26 anos, é claramente favorita na corrida ao Óscar. Não é de estranhar se tivermos em conta o exigente papel que interpreta no filme Quarto: o de uma mulher raptada por um homem que a mantém sete anos presa num pequeno quarto, um anexo situado no jardim da casa, e a força a uma relação íntima da qual nasce um filho, Jack, que nada mais conhece nos primeiros cinco anos de vida do que esse espaço exíguo. É graças à extrema habilidade e imaginação da mãe que nunca se chega a aperceber da situação terrível em que vivem ambos.
Nascida a 1 de outubro de 1989, em Sacramento, capital do Estado norte-americano da Califórnia, Brianne Sidonie Desaulniers mudou-se ainda criança para Los Angeles com a mãe e a irmã, na sequência da separação dos pais, ambos quiropráticos. Foi muito jovem que decidiu tentar a sua sorte como atriz, inscrevendo-se no conservatório de teatro. O nome artístico que adotou combina um diminutivo do seu nome próprio com o apelido da avó. Estreou-se aos sete anos, fez séries de televisão e alguns filmes – acumula o trabalho de atriz com o de cantora e já gravou um disco –, mas continua a ser-lhe fácil passar despercebida na rua. O anonimato, obviamente, não irá durar.
Não foi por acaso que Brie decidiu imediatamente submeter-se ao casting para o filme depois de ter lido o livro de Emma Donoghue que lhe dá origem, O Quarto de Jack. “Quando me mudei de Sacramento para Los Angeles, tinha sete anos e a minha irmã três ou quatro. Fomos morar para um estúdio só um pouco maior do que aquele quarto e também só tínhamos uma porta que o separava da casa de banho. A cama encaixava na parede, era mesmo ‘o quarto’. Eu só tinha dois pares de jeans, algumas camisolas e um par de sapatos, a minha irmã e a minha mãe, a mesma coisa. E talvez meia dúzia de brinquedos. A minha mãe mal tinha dinheiro para comermos e lembro-me desses tempos como os mais felizes da minha infância. A minha mãe tinha uma imaginação incrível e incutia tanta vida àquele espaço que nunca senti que me faltasse alguma coisa”, revela, acrescentando: “Mas agora houve também um momento que me fez lembrar que por vezes acordava de noite e via a minha mãe a tapar a boca com as mãos para não fazer barulho enquanto chorava descontroladamente. Tremia e soluçava e eu não sabia porquê, só pensava que era como quando alguém me roubava um brinquedo. Tinha criado um mundo de fantasia com a minha irmã… Só anos mais tarde percebi que nos tínhamos mudado porque o meu pai tinha pedido o divórcio e que ela estava a lidar com tudo aquilo sozinha.”
Em retrospetiva, Brie encontra nesta fase da sua infância uma das razões que a levaram a entusiasmar-se por este trabalho: “Às vezes, não nos apercebemos imediatamente por que razão nos sentimos tão atraídos por um projeto como eu me senti pela história deste filme, mas é óbvio que em grande parte é porque acaba por estar relacionado com a minha vida.” Talvez por isso lhe tenha sido tão fácil tornar credível a personagem que poderá valer-lhe o primeiro Óscar.
Brie Larson: “Nunca senti que me faltasse alguma coisa”
Aos 26 anos, é uma das favoritas na corrida ao Óscar de Melhor Atriz.