“Eu vim para ficar”, avisou Telma Monteiro quando passou a fase de repescagem. Era a sua quarta participação nuns Jogos Olímpicos e a judoca, de 30 anos, estava determinada em fazer história no Rio de Janeiro. E fez. O seu nome ficou gravado por ter conquistado a primeira medalha olímpica do judo feminino português, após derrotar a romena Corina Caprioriu. Uma medalha de bronze que não consegue largar. Afinal, representa 16 anos de dedicação, esforço, lágrimas. Caiu muitas vezes no tapete, mas soube levantar-se outras tantas, respeitando os três valores fundamentais do espírito olímpico: respeito, amizade e excelência. A CARAS falou com a judoca no Rio de Janeiro, a bordo do navio-escola Sagres, a Casa de Portugal durante estas Olimpíadas.
– Em Na vida com Garra, a sua biografia recentemente publicada, diz que quanto mais duvidassem de si mais força teria para conquistar os seus objetivos. Mas desta vez todos acreditavam que era possível…
Telma Monteiro – O facto de as pessoas acreditarem em mim deu-me tranquilidade e ainda mais motivação para poder competir sem pressão. Queria ganhar e poder retribuir todo o carinho e apoio. Sabia que, independentemente do resultado, as pessoas iriam apoiar-me. A força veio de todos os que acreditavam em mim, mas também da lembrança de todos os obstáculos que tinha vencido para estar nos Jogos Olímpicos.
– “Eu vim para ficar.” Este grito de guerra vai ser ouvido mais vezes ou ficará apenas na história destes Jogos?
– Não sei. Foi algo que não planeei. Simplesmente saiu. Foi adequado à situação. Primeiro, porque eu tinha vindo com o objetivo de fazer história. Depois, porque aquele era um combate decisivo. Ou ganhava ou estava eliminada da competição. Aquelas palavras eram a demonstração da minha enorme vontade de continuar em prova e atingir o meu objetivo. Era a afirmação de que não ia desistir, que ia lutar até ao fim e que ia conseguir. E consegui, o que foi perfeito.
– Um joelho ligado e uma luxação num ombro não a impediram de ganhar um combate em quatro minutos. As dores surgem mais tarde ou esquecem-se nestes momentos?
– A dor do joelho estava controlada com medicamentos e com a ligadura, a do ombro surgiu a meio do combate. Mas com tanta adrenalina, e depois de tudo o que tinha passado, não ia desistir. A dor continua, mas a medalha veio, por isso valeu a pena.
– É forte e determinada também na sua vida pessoal ou só nos tapetes é que estas características se evidenciam?
– Considero-me forte e determinada em todos os aspetos da minha vida; acho difícil dissociar as características da Telma judoca da Telma fora dos tapetes. Penso que, em contextos diferentes, diferentes características se destacam, mas a base está lá.
– Numa entrevista que deu à CARAS em 2008 dizia que queria competir até aos 30 anos. Entretanto, já disse que quer ir aos Jogos Olímpicos de Tóquio. O que lhe falta conquistar?
– É verdade, disse isso, mas agora sinto-me bem, feliz a fazer judo e a competir, por isso mesmo antes destes Jogos já tinha decidido continuar até Tóquio. O meu objetivo é continuar a ganhar medalhas em Europeus e Mundiais e nas grandes competições do circuito mundial. Quero continuar no top 3 do mundo até ao fim da minha carreira.
Telma Monteiro: “Também sou forte e determinada fora dos tapetes”
Aos 30 anos, a judoca conseguiu concretizar o sonho antigo de subir ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio