A formação em dança clássica moldou-lhe o corpo e a alma, numa coreografia permanente que Sara Salgado faz questão de manter com a vida. Aos 26 anos, conta já com dez de carreira e um percurso que não foge muito daquilo que é enquanto pessoa: ponderado, sensato e firme. Com a certeza de que é a representação que a preenche por inteiro, a atriz agarra as oportunidades e vai concretizando sonhos e vontades. Um desses sonhos ganha vida já no próximo mês, quando se estrear no palco do teatro Armando Cortez, com a peça A Mãe Biológica de Marilyn Monroe.
– Neste momento, podemos vê-la no pequeno ecrã a interpretar Renata, em Rainha das Flores. Em que é que ela se assemelha a si?
Sara Salgado – Ela é muito diferente de mim. Não pensa antes de agir, é muito impulsiva e eu sou o oposto, sou muito ponderada. Mas depois também é uma miúda com objetivos, que sempre trabalhou bastante, responsável e é apaixonada, não só pelo namorado, mas pelo que faz. A maneira como lida com as pessoas à volta dela é apaixonada e intensa e nestes aspetos acho que somos parecidas.
– Na novela acaba por viver uma relação um bocadinho disfuncional. Imagina algo assim na sua vida?
– Ninguém é igual a ninguém. Neste caso, há uma altura em que a Renata é demasiado obcecada pelo namorado. O facto de deixar o trabalho para investir na empresa dele é coisa que nunca faria. Viver juntos e trabalhar no mesmo sítio corre sempre mal. É bom que cada um tenha os seus próprios objetivos profissionais e é bom sentir uma certa saudade. Claro que dou muito de mim a uma relação, mas não sou obsessiva como a Renata.
– Respeitar o espaço pessoal é fundamental?
– É muito importante para uma relação ser saudável. Claro que também tem que haver confiança, todas as relações têm que ser construídas com base na confiança. Se isso não acontecer, é meio caminho para a desgraça.
– Está solteira?
– Estou.
– O que é que um homem tem que ter para a conquistar?
– Tem que ser inteligente, ter objetivos e sentido de humor, que é uma das coisas mais importantes. E, principalmente, ser confiante e respeitar a pessoa com quem está como ela é e respeitar o trabalho dela. É difícil para quem está de fora perceber o trabalho dos atores. Nós somos um bocadinho bichos do mato e difíceis de compreender, por isso quem está numa relação com um ator tem que ter muita paciência.
– Esse tem sido o maior desafio nas suas relações?
– Por acaso, não. Nunca tive esse problema, mas sei que muitas vezes as relações acabam por essa falta de compreensão.
– Temo-la visto crescer desde Morangos com Açúcar. O que é que mudou desde então?
– Ui, já lá vão dez anos e a mim parece-me que comecei ontem. Sinto que ainda tenho tanta coisa para aprender. Mas por outro lado têm sido dez anos ótimos, sinto-me uma privilegiada, porque tenho tido trabalho constante – com algumas pausas, mas nada de aflitivo. É um balanço muito bom. Já estive no Brasil e nos Estados Unidos a estudar… E agora, com dez anos de carreira, vou finalmente fazer a minha primeira peça de teatro e estou muito contente.
– Como é que têm corrido os ensaios?
– Muito bem. Já começámos com os ensaios de palco e já dá para sentir a energia do palco, que é completamente diferente da energia que se sente na televisão. Ali, se alguma coisa corre mal, não dá para cortar. O único contacto que tive com o público em palco foi através da dança. É diferente, mas acabamos por sentir o que o público sente. E é muito gratificante quando as pessoas gostam do nosso trabalho.
– A Sara cresceu com a vontade de ser bailarina clássica. Por onde se perdeu essa vontade?
– Fiz dança dos seis aos 14 anos e andei no Conservatório de Dança seis anos, queria mesmo ser bailarina. Mas interessava-me a dança contemporânea e a Companhia da Gulbenkian tinha fechado, e como não queria sair do país, na altura decidi seguir outra área. Mas gostava muito de voltar a dançar. A dança faz bem a tudo.
– O que é que a dança lhe ensinou?
– Muita coisa. Ensinou-me, principalmente, a ser pontual. Quando comecei no Conservatório, aos nove anos, os horários eram das oito às oito. Tinha que acordar muito cedo. Parte da educação que se recebe lá vem da escola russa, por isso é muito rígida. Desde muito cedo que aprendi a ter método de trabalho, o que foi ótimo. E em relação ao desenvolvimento do corpo, que apanhou a altura da minha puberdade, foi fantástico. Ganhei outra postura e hábitos alimentares.
– Essa experiência tornou-a mais perfeccionista?
– Também, sim. Há um espírito competitivo no Conservatório que, de forma comedida, é bom. Atingir a perfeição é um dos principais objetivos, sobretudo do ballet clássico. E ainda hoje faço todos os esforços possíveis para estar perto da perfeição.
– Por isso tem apostado tanto na formação?
– Sim. Fui estudar para o Brasil com 19 anos e foi das maiores loucuras que já fiz. Nessa altura fui contra o que a minha família queria, mas correu tudo bem, aprendi imenso e cresci enquanto pessoa. Ajudou-me muito a crescer, porque nunca tinha vivido sozinha e a experiência obrigou-me a sair da minha zona de conforto.
– Foi difícil contrariar a vontade dos seus pais?
– Custou-me um bocadinho, mas era realmente aquilo que queria fazer. Sou filha única e foi duro para a minha mãe. Mas hoje, olhando para trás, foi das melhores coisas que fiz.
– Tem uma relação muito próxima com a sua mãe?
– Muito. Sou muito ligada à minha família desde sempre. Principalmente à minha mãe e à minha avó. Acompanharam-me desde pequenina e sempre me direcionaram, dando-me uma educação muito parecida com a delas e fazendo sempre o melhor que conseguiam. Orgulho-me muito delas. A minha mãe é das melhores pessoas que conheço e sempre me apoiou bastante.
– São os seus grandes exemplos de vida?
– São. Elas são fantásticas e eu quero muito deixá-las orgulhosas. Algumas escolhas que faço têm na base a minha preocupação com a opinião delas. Peço-lhes muitos conselhos… Tenho muito orgulho nelas, por isso também quero que tenham orgulho em mim.
– O que é que herdou delas?
– A educação, principalmente, que é das coisas mais importantes. Esta busca pela perfeição. Da minha mãe e do meu pai também, que sempre foi muito metódico e sempre me disse que tinha que ser a melhor naquilo que fazia. E ele próprio também era assim. Mas da mesma forma que sou muito parecida com a minha mãe e com a minha avó, também sou muito diferente. A minha avó é uma pessoa super sincera e eu também, às vezes até demais. Custa-me mentir, é uma coisa que não consigo fazer. Sou totalmente transparente. Somos as três muito leais e muito transparentes.
Sara Salgado: “Faço todos os esforços para estar perto da perfeição”
A atriz prepara-se para se estrear em teatro, com a peça ‘“A Mãe Biológica de Marilyn Monroe”.
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