NOTA: Este texto foi originalmente escrito a 7 de julho de 2015
Mário Soares tinha 25 anos e estava detido na cadeia do Aljube quando, em fevereiro de 1949, se casou por procuração com Maria de Jesus Barroso, de 24, sua colega de faculdade. Ambos provenientes de famílias burguesas, partilhavam os mesmos ideais de esquerda e a repugnância pela ditadura de Salazar, responsáveis tanto pela aproximação do casal como por longos afastamentos – Soares esteve preso 13 vezes, num total de cerca de três anos, passou quase um ano deportado em S. Tomé e viveu exilado em França durante quatro anos. Do casamento nasceram João, em agosto de 49, e Isabel, em janeiro de 51.
Meses depois de celebrar as bodas de prata, em setembro de 74, quando o marido ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, Maria Barroso confidenciou, numa entrevista ao Diário de Lisboa, que chegou a ser acusada de ser demasiado burguesa por ter “uma vida familiar muito certa”: “Nós temos a sorte de nos darmos muitíssimo bem, (…) temos um entendimento muitíssimo bom, para não dizer perfeito (…) porque é que eu hei de destruir tudo só para dizer que sou muito moderna?”
Recentemente, por ocasião dos seus 90 anos, celebrados a 2 de maio, confidenciou ao jornal I: “Quando vejo o meu marido, vejo exatamente o mesmo homem que conheci há 70 anos. Com a mesma ternura, a mesma simpatia e a mesma admiração por tudo o que foi a sua vida. E sem perder a independência de termos várias vezes opiniões diferentes. Respeitámo-nos sempre.”