
Mário Soares morreu este sábado, 7 de janeiro, aos 92 anos. O antigo Presidente da República estava internado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, desde dia 13 de dezembro.
Nas redes sociais, e em declarações à agência Lusa, foram várias as figuras públicas que o recordaram. Leia alguns testemunhos.
Manuel Luís Goucha, apresentador de televisão: “A ele devemos a Democracia em que vivemos, tendo sido o seu primeiro Presidente da República civil. Nenhum outro político tem um percurso como o seu. Disputou onze eleições, ganhando seis (constituinte, duas legislativas, duas presidenciais e europeias). Amante da Cultura e da Liberdade só podia ser um homem sem medo. Obrigado Presidente Soares!”.
Rita Ferro Rodrigues, apresentadora de televisão: “Muito Obrigada Mário Soares”.
Cristina Ferreira, apresentadora de televisão: “A minha primeira memória política é da campanha eleitoral entre Mário Soares e Freitas do Amaral. Há 30 anos. ‘Soares é fixe’”.
Nuno Markl, animador de rádio: “Mário Soares, num ‘cartoon político’ desenhado por mim em 1976. O facto de um puto de 5 anos saber quem ele era – bem como outros rostos da política da época que surgiam nos meus desenhos ao lado de Heidi e Vickie, como Álvaro Cunhal, Ramalho Eanes ou Sá Carneiro, mostra – à parte do que pensássemos dele, politicamente – a estirpe de figura que era, um entre vários animais políticos, à esquerda e à direita, cujo carisma tende a ser difícil de colocar à mesma altura de muitos “carismas” de hoje. Em minha casa não era o político mais popular – o meu pai, militante do PCP, foi dos que engoliu o sapo de ter de votar nele em 1986, e o que isso lhe custou. A parte gira disto tudo é que pude contar isso ao próprio Soares, quando, num almoço com o Nuno Artur Silva, há poucos anos, encontrámos o antigo Presidente, já algo debilitado mas com o sentido de humor afiado, a almoçar no Páteo Bagatella. Em retribuição pela história do sapo engolido, recebi um belo fait divers dos bastidores do Bloco Central: contava Mário Soares que a mania que partilhava com o seu amigo social democrata e parceiro de governo Mota Pinto – descalçarem os sapatos em reuniões magnas – acabava por vezes com ambos a irem para casa com os sapatos errados. Nunca votei nele, não me revia em muita coisa – mas é um dos incontornáveis e únicos da História”.
Luís Franco Bastos, humorista: “Em 2010 fiz este sketch imitando Mário Soares. Um sketch que nunca aconteceria se Mário Soares e outros não lutassem pela democracia e liberdade de expressão que temos actualmente e me permitem fazer do humor profissão. No dia de hoje, partilhar este sketch é a melhor homenagem que lhe posso fazer”.
Herman José, humorista e apresentador de televisão: “Morreu um Homem Maior e o político a quem mais atenções devo. Há poucos anos ainda teve a generosidade de prefaciar a minha biografia. A seu devido tempo, acalmadas as histerias e saradas as feridas, a História saberá dar o devido valor à figura política mais importante do século XX em Portugal. Soares é – e será sempre – fixe”.
Eduardo Madeira, humorista: “Ainda tinha tanto para dar. Não é bem uma piada. É uma constatação. Quem neste país tem agora a sua experiência como estadista e político? Fez muita porcaria? Sim. Fez muita coisa boa? Também. A política não é uma escola de virtudes. Foi decisivo para a democracia em Portugal. É o que eu realço. Descansa em paz Mário”.
Diogo Beja, animador de rádio: “Sr. Guarda, desapareça. Começou a Presidência aberta eterna”.
Daniel Oliveira, apresentador de televisão e diretor do canal SIC CARAS: “Entrevistei Mário Soares em 2007 por altura do 25 de Abril, para o Só Visto!, da RTP. O Nuno Santos convenceu-o que apesar do interlocutor não ser o Daniel Oliveira que ele conhecia, valia a pena a deslocação a um estúdio, onde também estariam algumas crianças que o questionariam sobre a Revolução, sem que ele, todavia, não deixasse de me sussurrar que aquelas perguntas com certeza que vinham dos pais! Foi durante todo o tempo de uma grande gentileza, apesar de ter advertido para o facto de o entrevistador não usar gravata. Foi uma conversa que extravasou o âmbito que a viabilizara e percorreu toda uma vida pessoal, pública e política a todos os níveis assinalável e relevante na história do país! Não é consensual, como não o é nenhuma pessoa que decide, mas independentemente do que dele diverjamos, podermos fazê-lo abertamente também a ele lhe devemos. Na altura, como agora, fi-lo credor do meu obrigado”.
Lourdes Norberto, atriz: “Era um homem de bondade, de convívio, e sempre preocupado com os outros. “Estava sempre a perguntar se estava a trabalhar, o que estava a fazer, e se estava parada. Ocasionalmente, incentiva-me e dizia: ‘Mas a Lourdes tem de trabalhar'”.
Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte e museóloga: “Ele era um homem de cultura e gostava de se afirmar enquanto tal, tinha genuíno prazer nas coisas, tinha boa pintura, alguma de amigos, também resultante de ofertas, e que lhe enchia as casas. Ele não era um colecionador no sentido tradicional, não era um profundo conhecedor, mas tudo o que era cultura interessava-lhe”.
Mário Cláudio, escritor: “Trata-se de uma figura histórica. Sem ele a nossa democracia não se teria consolidado. A entrada na Europa provavelmente teria sido uma coisa completamente diferente, ou em momento diferente. Neste momento, faz parte do nosso património anímico, do nosso ADN coletivo”.
Leonel Moura, artista plástico: “O pai da democracia portuguesa, que abriu a porta da política à cultura, e à importância das artes”.
Julião Sarmento, artista plástico: “Foi um grande impulsionador das artes plásticas e da literatura. Gostava muito da coleção de arte que reuniu ao longo da vida, e tinha muito orgulho nela”.
Rui Veloso, músico: “Mário Soares foi, provavelmente, a maior figura da democracia portuguesa. Homem de cultura e visão. Recordo bem os idos do PREC [Período Revolucionário em Curso] em que foi o catalisador. Devemos-lhe a democracia depois de 25 de novembro [de 1975]“.
José de Guimarães, artista plástico: “Sendo uma notícia que já todos esperávamos, é sempre triste, e há pessoas que nos são mais chegadas que outras, e Mário Soares foi sempre, para mim, uma pessoa excecional, com grande afeição pelos artistas e, sempre que podia, aparecia nas exposições. Não era artificial e ia diretamente à alma”.
Nuno Teixeira, realizador: “Mário Soares foi a pessoa de que o país precisava nos anos quentes da revolução, e esteve sempre à altura dos acontecimentos. Conseguiu, com o seu prestígio, com a sua inteligência, manter o país no lado correto da vida. Manter o país no lado da democracia e da liberdade. O grande objetivo da vida dele era a liberdade”.