Em vésperas de começar um novo ano e quatro meses depois do nascimento da sua filha, Sierra Esther, fomos descobrir a fórmula da felicidade de uma mulher que não se deixa deslumbrar nem desfaz o sorriso.
– Nesta foto do vosso álbum familiar, que partilha com a CARAS, percebe-se uma Daniela muito feliz. A família mudou a sua vida. Também a mudou enquanto mulher?
Daniela Ruah – Sem dúvida. Há vidas que agora dependem de mim para sobreviver e aprender, isso mudou, naturalmente, a minha postura perante a vida. A família mudou a minha vida e mudou-me.
– Qual é o lado mais desafiante da maternidade?
– O constante sentimento de culpa. Sinto que peco por fazer alguma coisa e peco por não fazer…
– Mas ao segundo filho já deve ter aprendido a lidar melhor com esse sentimento…
– Sim e não. Enquanto que com o River me sentia culpada sempre que chorava, especialmente nos primeiros meses, com a Sierra sou muito mais descontraída, o que é típico nos segundos filhos. Faço um esforço grande para que tenha as mesmas coisas que o River, como, por exemplo, uma caixinha de memórias, com o teste positivo de gravidez, as pulseiras do hospital e a roupa com que saiu de lá, um diário do seu primeiro ano de vida, etc. Sempre ouvi que os primogénitos recebem mais regalias deste género do que os filhos seguintes, por isso, faço questão de fazer tudo igual para os dois.
– O que descobriu com o nascimento da Sierra?
– Descobri que o coração tem espaço infinito para amar.
– Vejo-a tão feliz com os seus filhos que a imagino a repetir a experiência da maternidade…
– Em princípio, não, acho que ficamos por aqui!
– O River sente ciúmes da irmã?
– Até agora, não. Nas primeiras semanas houve algumas birras, mas nunca dirigidas à irmã. É muito cuidadoso com ela, quer ajudar em tudo, como mudar-lhe a fralda ou segurar nela… Numa viagem que fizemos recentemente, antes do avião levantar voo pusemos a Sierra ao colo do River enquanto organizávamos as mochilas (sempre muito perto e de olho neles, claro!). Acho que vão ser muito cúmplices no futuro.
– Como consegue encontrar espaço e tempo para tudo o que faz?
– Priorizar e delegar as responsabilidades é muito importante, mas não há dúvida de que às vezes é uma correria. Nunca fui muito organizada e equilibrar as necessidades de casa, dois filhos, o meu trabalho, exercício, etc., requer uma grande organização. Felizmente o meu marido é muito presente e ajuda em tudo.
– Sente que o amor pelo seu marido não para de crescer?
– O que sinto pelo meu marido torna-se cada vez mais sólido. Admiro-o muito como homem e pai. Participa nas atividades, nos cuidados alimentares, a fazer de chauffeur e na hora de dormir. Somos uma equipa em todos os aspetos.
– Sendo uma estrela de Hollywood, há que admirar a “vida simples” que leva. Viver afastada das luzes da ribalta foi uma opção consciente?
– De alguma forma, sim. Sou muito caseira, mas isso não quer dizer que não adore uma noite divertida de passadeira vermelha e alguns eventos promocionais.
– Quem é que o seu marido prefere? A Daniela de jeans, que corre descalça pelo jardim da vossa casa atrás dos filhos, ou a Daniela de saltos altos e vestido comprido que pisa a passadeira vermelha?
– Gostamos os dois das duas coisas! É importante ter esse equilíbrio. Sou mãe de rebolar no chão com as crianças, mas também gosto de me sentir arranjada.
– A normalidade faz-lhe bem?
– Acho que faz bem a todos…
– Conquistou o que muitas atrizes ambicionam, trabalhar e ser reconhecida em Hollywood. Porque é que nunca se deslumbrou?
– Não sei, talvez por ter uma visão realista desta indústria. Existe uma vertente glamorosa e de festa deslumbrante, claro, mas também de muitas horas de trabalho, de incerteza, de fama passageira.
– O que é que separa a Daniela que chegou há oito anos a Nova Iorque da Daniela de hoje?
– Experiência de vida. Maturidade, prioridades, responsabilidades.
– Parece uma pessoa metódica, muito disciplinada, com rotinas definidas. Há espaço na sua vida para a mudança?
– A minha perspetiva é bem diferente! Metódica, sim, mas por vezes sinto que não tenho disciplina nenhuma e sou muito esquecida! A rotina diária é sempre diferente porque não trabalho das 9 às 5. Tentamos que os miúdos tenho alguma rotina nas horas de comer e dormir, mas é só isso. Aliás, gostava de ser mais organizada.
– Qual o maior desafio por que passou?
– Dar à luz a Sierra. Foi parto pélvico e optei por não usar anestesia. Foi importante para mim sentir tudo. Precisei de toda a energia do meu corpo e alma, mas foi uma experiência fenomenal e se voltasse atrás faria tudo igual.
– Este ano a quadra festiva não será passada em Portugal… O que significa para a Daniela o Natal? Celebra-o?
– O Natal significa uma época de descanso, paz, felicidade, família, de troca de prendas, de lareiras acesas e ternura.
– Fez árvore de Natal e decorou a sua casa de modo especial para viver esta época do ano?
– O nosso lar é multicultural, por isso, introduzimos costumes judaicos e luteranos. Fazemos árvore de Natal, mas com estrelas de David e outros ornamentos feitos à mão por nós. Quando estava grávida de nove meses do River, a minha mãe eu sentámo-nos em frente à lareira a criá-las com paus de gelado e cordão. Este ano, o Hanukkah (uma celebração judaica de oito dias) começa na véspera de Natal, por isso, temos a rara oportunidade de juntar as duas tradições no mesmo dia!
– Ser mãe despertou-a mais para o mundo?
– Sim, estou muito mais alerta para tudo, e sensível também.
– Assusta-a o mundo em que os seus filhos vão crescer e viver?
– Observando aquilo que se passa no mundo inteiro, sim. É profundamente assustador. Mas ainda são pequeninos e a nossa influência é maior do que qualquer outra. Espero que os nossos princípios os acompanhem sempre, mesmo quando se tornarem independentes. Que tenham compaixão pelos outros e que saibam filtrar aquilo que veem e ouvem.
– Tudo isso a faz olhar para o futuro de modo diferente?
– De uma forma positiva e aberta. Não sei o que o futuro trará, mas temos sempre planos alternativos para o que der e vier.
– Elegeu Los Angeles como o seu lar, apesar da família e das saudades a fazerem regressar sempre a Portugal. Tem o sonho de voltar a viver em Portugal com o seu marido e os seus filhos?
– Portugal será sempre um lar para nós. É importante que os miúdos sintam uma ligação forte com o nosso país e faço de tudo para que falem português também. Aliás o David tem aulas de português também. No entanto, o que dita onde vivemos é o meu trabalho, por isso, nunca se sabe.
– Como imagina o seu futuro profis-
sional depois da série NCIS Los Angeles?
– Espero continuar a trabalhar, em televisão ou cinema. Talvez expandir outros interesses criativos.
– Como é que a série ainda a entusiasma?
– Esta oitava época tem corrido muito bem nos EUA. Os escritores e produtores estão constantemente a criar enredos interessantes e desenvolvem as relações entre as personagens de uma forma muito orgânica. A reação do público também me entusiasma, porque nos recebem com tanta simpatia que queremos continuar a entretê-lo.
– Um trabalho que a realiza, um casamento feliz, dois filhos… Está a viver a melhor fase da sua vida?
– Sem dúvida.
– Com 2017 à porta, tem uma resolução de ano novo?
– Dormir mais!
Daniela Ruah: “A família mudou a minha vida”
Arquivo CARAS e DR
Arquivo CARAS e DR
Ao lado do marido, o duplo David Paul Olsen, a atriz sente que forma a equipa perfeita para educar os dois filhos, River Isaac, de quatro anos, e Sierra Esther, de três meses.