Nos anos 90, Paulo Bragança era um nome incontornável da música em Portugal e reconhecido além-fronteiras, em especial na sequência do álbum Amai, de 1994, editado pelo músico David Byrne, nos EUA. Conhecido por cantar descalço e pelo aspeto vanguardista e um pouco gótico, uma atitude rebelde que se destacava no meio tradicional do fado, vivia o sucesso que se pensa ser o sonho de qualquer músico. Mas cansou-se da indústria, dos lobbies, como diz, e quando esse desencanto se associou a uma fase de problemas pessoais e familiares decidiu sair do país. Durante 11 anos viveu no anonimato musical em Dublin e passou também uma temporada em Londres e outra na Roménia, onde conviveu três meses com uma comunidade cigana. Agora está de volta a Portugal e prepara-se para lançar um álbum. E sente que não foi esquecido.
– Porquê estes 11 anos de intervalo na música?
Paulo Bragança – Nunca pensei nem planeei estar tanto tempo afastado, e confesso que quando me apercebi até me assustei.
– E porque decidiu voltar?
– Estive seis anos sem vir a Portugal, de 2006 a 2012, e assim que cheguei fui ter com o [músico e produtor] Carlos Maria Trindade, que me propôs fazer um álbum sem grandes pressões e que temos vindo a gravar desde então. Em 2017, o Fernando Ribeiro, dos Moonspell, convidou-me para fazer um teledisco e de certa forma foi ele que me impulsionou a regressar à música com empenho. Percebi que o tempo é efémero e que o meu regresso seria agora ou nunca… A voz é um instrumento orgânico, não sei o que o amanhã me trará, até a nível físico, e o melhor era arriscar, até para mais tarde não haver a possibilidade de me arrepender por não o ter feito.
– Nestes 11 anos de ‘retiro’ começou por Londres e terminou em Dublin. Mas o objetivo inicial nunca foi mostrar a sua música. Foi em busca de inspiração para compor?
– Fui sem saber o que fazer ou até sem emprego. Andei “bizarrado” e a deambular, mas nunca disse a ninguém o que tinha feito ou não. Estive sempre remetido ao silêncio. Comecei por Londres e depois, como sempre tive um fascínio pelos romenos e pela sua música, decidi ir para a Roménia. Comecei a aproximar-me da comunidade cigana, mas eles não me queriam receber. Corriam-me literalmente à pedrada. Só no dia em que comecei a cantar um tema romeno que aprendi é que me começaram a deixar entrar devagarinho e acabei por viver um tempo com eles. Depois daquela experiência voltei a Londres, que era a minha base, e a Irlanda surge num dia em que estou a ler um artigo sobre aquele país e decido comprar o bilhete. Quando cheguei a Dublin, fiquei um pouco desapontado, mas a música fez-me ficar. É algo natural neles… e depois fiquei encantado com os escritores deles, a língua deles.
Leia esta entrevista na íntegra na edição 1183 da revista CARAS.
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