Morreu esta quarta-feira, 1 de agosto, aos 95 anos de idade, Celeste Rodrigues, voz do fado castiço em Portugal e ao qual dedicou 73 anos da sua longa vida. A informação foi avançada nas redes sociais pelo neto da cantora, Diogo Varela Silva. “É com um enorme peso no coração, que vos dou a notícia da partida da minha Celestinha, da nossa Celeste. Hoje deixou uma vida plena do que quis e sonhou, amou muito e foi amada, mas acima de tudo, foi a pedra basilar da nossa família, da minha mãe, da minha tia, dos meus irmãos, sobrinhos e filhos, somos todos orgulhosamente fruto do ser humano extraordinário que ela foi. Que a sua humanidade, bondade e maneira de estar bem com a vida, seja um ensinamento, que nós possamos honrar pelas nossas vidas foras. Daremos mais informações assim que nos for possível”, pode ler-se na mensagem.
Nasceu em Alpedrinha, no Fundão, a 14 de março de 1923 e foi o fado que a celebrizou. À semelhança da irmã, Amália, também Celeste cantava pelas ruas do Cais do Sodré, em Lisboa, quando estava encarregue de uma outra tarefa menos musical: a venda da fruta.
Apesar de ter seguido uma carreira distinta da irmã já que se especializou o fado castiço e a irmã optou pelo fado-canção, Celeste foi muitas vezes acompanhá-la aos serões da Adega Mesquita, não apenas para ouvi-la, mas também para escutar outras vozes do seu agrado, tais como Maria Teresa de Noronha e Lucília do Carmo.
Foi nessa altura que o empresário José Miguel a desafiou a profissionalizar esse seu gosto por aquela forma de cantar. Em 1945 estreou-se no Casablanco, no Parque Mayer, tendo a irmã como madrinha.
Um mês depois foi contratada pelo Pasapoga Music Hall, em Madrid, seguindo-se uma mudança para o Brasil com uma companhia teatral com a qual parte em digressão. Integrou o elenco de Rosa Cantandeira e não mais voltou a aceitar convites para peças de teatro. Quando voltou a Lisboa atuou em várias casas de fado lisboeta, entre as quais Café Latino, Marialvas, Urca, Café Luso e Adega Mesquita, entre tantas outras. Regressou a terras de Vera Cruz onde atuou na rádio, na televisão e no restaurante Fado de um outro português, Tony de Matos.
Casou aos 30 anos com o ator Varela Silva com quem teve durante poucos anos uma casa de fados. Apesar da sua conhecida timidez, Celeste Rodrigues foi das primeiras artistas a atuar no período experimental da RTP. Celebrizou temas como A lenda das algas, O meu xaile e o mítico Fado Celeste. Olha a mala foi um dos seus maiores êxitos de vendas já na década de 1960. Encontrou no Canadá um lugar para viver depois do 25 de abril de 1974 e lá se divorciou de Varela Silva.
O regresso a Portugal foi também sinónimo de regresso às casas de fado onde se popularizou e onde nunca deixou de atuar. O neto e realizador Diogo Varela Silva produziu em 2010 um documentário intitulado Fado Celeste onde conta a história de vida da fadista. Recebeu em 2012 pelas mãos de Aníbal Cavaco Silva, então Presidente da República, o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.
Para a memória dos que apreciavam a sua voz ficam as palavras presentes em Fado Celeste: “Olho outra vez a cidade/ Mas quando o vento me invade/ e a solidão me agarra/ fecho de vez a janela/ peço à saudade, cautela/ e abraço uma guitarra.”