Foi há um ano que a vida puxou o tapete a Diana Pereira, quando o marido, o piloto Tiago Monteiro, sofreu um grave acidente no Circuito da Catalunha. Segundo a própria, “o pior já passou”, e a prova disso é o sorriso quente com que encara a vida. Mas a verdade é que o último ano não foi fácil e as mazelas físicas e emocionais ainda estão a sarar. Apesar do medo de perder o marido, Diana nunca esgotou as forças e tem batalhado ao lado de Tiago pela felicidade que sempre construíram os dois e que ganhou nova dimensão com Mel, de dez anos, e Noah, de oito.
– Passam muito tempo a viajar. Isso dá-vos a certeza de que Portugal é o país certo para verem crescer os vossos filhos?
Diana Pereira – Sem dúvida. Portugal é o país ideal para viver, é um paraíso no mundo. E sinto muito mais isso enquanto mãe. Aqui temos uma qualidade de vida incrível… A educação é boa, a saúde também. A Mel passou agora para o 5.º ano e já acha que é uma adolescente. Hoje eles crescem mais depressa, a adolescência acontece mais cedo. Aos dez anos eu não pensava em coisas em que a Mel já pensa e com que se preocupa…
– Que desafios é que isso levanta?
– Temos de fazer tudo mais cedo, mas é muito giro. Eles agora estão numa fase muito diferente, são grandes companheiros. O Noah está a fazer o campeonato nacional de karts, o pai está na China, por isso o treinador fui eu o dia todo.
– Eles são muito diferentes?
– São. Até na comunicação connosco. O Noah é mais aberto e a Mel guarda mais para ela. Portanto, temos mesmo de estar presentes para perceber, se não passa-nos tudo ao lado.
– E qual é o segredo para um casamento tão feliz e duradouro?
– É verdade, já estamos juntos há 12 anos… Acho que o respeito e a amizade são fundamentais. Um casamento tem muitas fases. Há uma mudança de sentimentos constante e temos que nos adaptar às circunstâncias e tentar ser felizes nesses momentos da melhor maneira. Temos uma coisa muito boa nas nossas vidas, que são os nossos filhos, e nunca nos podemos esquecer disso. Serão sempre a nossa prioridade. Tenho uma admiração enorme pelo Tiago, tanto pessoal como profissional, e sinto o mesmo dele para comigo. E isso é muito importante enquanto casal, tal como é importante darmos espaço um ao outro. Ambos somos muito independentes, desde muito cedo. Se tivéssemos de estar dependentes um do outro enquanto casal, seria complicado. O facto de viajarmos cada um para o seu lado também tem as suas vantagens. [Risos.]
– E como está o Tiago depois daquele susto tão grande?
– Foi um susto muito grande, foi quase a vida dele a desaparecer totalmente. Depois de sobreviver, veio a recuperação, a dúvida se voltaria a correr… Fez um ano do acidente, está a recuperar lindamente, mas podia ter morrido, a verdade é essa. Os médicos disseram que com o estiramento ocular que teve nos dois olhos haveria dois por cento de hipóteses de sobreviver. E o facto de ter sobrevivido foi maravilhoso. Este ano a nossa vida foi uma loucura, muitos altos e baixos, mas superámos. Agora continua com muitas dores físicas, porque tem a ver com a cervical e a parte nervosa, mas à partida está tudo bem a nível muscular, visualmente um olho recuperou totalmente e o outro está quase a recuperar, porque a extensão ocular deixou-o completamente estrábico. Esse será o maior motivo do atraso no regresso à competição. Ele está louco por voltar… Se é uma decisão que já está tomada? Não, porque nem ele próprio sabe se irá estar pronto para o próximo ano. É uma recuperação muito lenta.
– E como é que têm gerido essa vontade juntamente com a incerteza?
– Psicologi-camente é muito complicado. Esta é a paixão do Tiago e ele viu-se totalmente limitado,
embora já esteja a fazer outras coisas, porque é manager de imensos pilotos. Estamos a gerir um dia de cada vez. Para ele foi importante determinar algumas etapas e propor-se alcançá-las. Esta é a maneira de ele se motivar.
– Não sente medo ao pensar no regresso do Tiago à competição?
– O pior já passou… Foi difícil, porque, de repente, vejo o Tiago numa cama de hospital sem saber o que vai acontecer à nossa vida. Questionei se iria acabar tudo ali… Foi muita emoção, foram momentos muito complicados. Se ele decidir voltar, terá o meu apoio total, porque é a paixão dele. É a vida dele, e não posso ter qualquer tipo de responsabilidade na decisão que ele tomar, por mais que ele tenha sempre em conta a minha opinião. É uma coisa que ele tem de decidir sozinho.
fotos: João Lima