As semanas da moda nas principais capitais começaram e, com elas, os dias loucos de Raquel Strada. Já cumpriu a agenda de desfiles em Milão, deu um pulinho a casa, no Porto, desfez a mala, voltou a pôr na bagagem coordenados elegantes e uma dose extra de energia para poder chegar a Paris e correr a cidade, não só para estar na primeira fila dos desfiles dos criadores portugueses Marques’Almeida, Diogo Miranda e Luís Buchinho, como para ver de perto coleções como as de Guy Laroche, Sonia Rykiel ou Zadig & Voltaire. Uma lufa-lufa de “veste e despe” acompanha a correria. É que, à semelhança de algumas celebridades que estão em destaque nos desfiles, Raquel Strada faz questão de homenagear cada criador com um outfit assinado pelo mesmo. Se é cansativo? “Claro que sim. Mas também me dá imenso prazer estar nestes eventos que dignificam a indústria da moda”, confidenciou-nos a autora do blogue Blue Ginger na capital francesa, enquanto era fotografada pela imprensa estrangeira, que aguardava, à porta dos desfiles, pelas estrelas convidadas. Minutos depois, essa mesma imagem estaria disponível no seu Instagram, a rede social que Raquel usa para comunicar com os seus 320 mil seguidores, mais mulheres que homens, entre os 24 e os 40 anos e com algum poder de compra. Foi aqui que iniciámos uma conversa pelo mundo virtual, que terminou com os pés bem assentes na realidade, que passa por uma mudança de rumo na vida profissional de Raquel Strada, de 35 anos, pois quer passar mais tempo ao lado do marido, o empresário Joaquim Fernandes, com quem se casou há três anos.
– Com tanta gente a publicar em blogues e nas redes sociais, como é que marca a diferença?
– O que diferencia as pessoas umas das outras é a personalidade. A diferença é criares a tua identidade e seres fiel a ela. Tenho algum cuidado com o tipo de fotos que publico e tento mostrar coisas com as quais me identifico. Depois, nem todas estão perfeitinhas. E também brinco. Mas não tenho uma linha definida, que as pessoas identifiquem logo como sendo a minha linha.
– Cede à pressão das marcas?
– Só trabalho com marcas nas quais acredito, de outro modo não faria sentido para mim. Não cedo a pressões, e se for preciso trabalhar noutro sítio, trabalho.
– É a maturidade que nos traz isso, essa certeza do que não queremos?
– Sim, sem dúvida. Quando era miúda, era mais permeável, embora fosse difícil ceder na mesma.
– Trabalhar no meio da moda, com roupa, marcas, apela ao seu espírito consumista?
– Sou cada vez mais consciente do que consumo e na forma como consumo. Hoje em dia, prefiro comprar uma peça mais cara mas que seja produzida de forma sustentável.
– Olha então mais para a etiqueta da composição do material do que para a griffe?
– Sem dúvida. Dou-lhe um exemplo: a Burberry era uma marca de que gostava, mas com a qual não me identificava, mas a partir do momento em que soube que apostou na produção tendo a preservação do meio ambiente como preocupação, passei a consumir.
– Perde facilmente a cabeça por roupa?
– Já não. Agora só compro de vez em quando, até porque tenho muita coisa, até de mais…
– E o que é que faz a essa roupa a mais?
– Faço regularmente uma reciclagem ao meu roupeiro e dou muita roupa. Também já fiz uma venda solidária em que o dinheiro angariado foi na totalidade para uma associação escolhida por mim, e em breve vou fazer outra.
– Em setembro anunciou que estava com vontade de mudar de rumo…
– Diz-se que setembro é o mês da mudança, e decidi que queria agarrar o rumo da minha vida. Vou tornar-me empresária, produzir coisas minhas em parceria com algumas marcas. Quero estar mais nos bastidores e contratar outras pessoas, eventualmente, para fazerem o que faço agora. Gostava de ter um poiso mais fixo.
– Está cansada de andar sempre de um lado para o outro?
– Sobretudo estou cansada de não ter tempo para estar com o meu marido. Preciso de parar, tomar as rédeas e tentar fazer uma coisa que me permita trabalhar a partir de qualquer parte do mundo, mas de preferência ao lado do meu marido. Sempre que viajo, tenho muitas saudades dele. Escolhi aquela pessoa para viver e estamos muito tempo longe um do outro.
fotos: joão lima