Durante a sua infância e adolescência, Selma Uamusse passava serões a gravar músicas que ouvia na rádio para depois as ouvir atentamente e escrever as respetivas letras num caderno. Habituada a cantar desde sempre e a ouvir os outros cantar, esta era uma paixão demasiado presente e natural para que pensasse sequer torná-la profissão. Por isso mesmo, e porque sempre quis mudar o mundo, optou por seguir engenharia, área que chegou a conciliar com as suas incursões pela música. Primeiro num coro gospel, onde encontrou a sua fé, depois nos WrayGunn e, mais recentemente, com Rodrigo Leão. E todas estas camadas e estilos de Selma enquanto cantora estão agora presentes de alguma forma no seu primeiro disco a solo. Mati é o encontro da artista consigo mesma e com as suas raízes, num agarrar da sua paixão e vocação ditado pela maternidade – Selma é mãe de duas meninas, Alice, de oito anos, e Ema, de seis.
– Ser mãe é transformador, e no seu caso foi-o a todos os níveis, já que foi a partir desse momento que escolheu a música. Como foi que esta decisão aconteceu?
Selma Uamusse – Estava num triângulo amoroso entre a engenharia, a maternidade e a música. Já cantava há alguns anos, mas na altura trabalhava como engenheira no Instituto Superior Técnico e sentia que não conseguia dar o meu melhor nestas três áreas. E o meu objetivo em relação à engenharia sempre foi mudar o mundo, porque trabalhava em planeamento urbano. Mas comecei a aperceber-me de que através da música também tinha esse poder e que, se calhar, tinha um bocadinho mais de talento para mudar o mundo através da música do que através da engenharia. Para mim, fazer música da alma e para a alma é algo muito importante, que tem a ver com este processo redentor e de amor, acima de tudo. Por isso, quando fui mãe, tive a coragem e a ousadia de tomar essa decisão, porque sentia que as minhas filhas me estavam a inspirar para assumir de maneira mais séria este papel de interveniente na sociedade através da música.
– Assumir esse papel é também uma responsabilidade…
– Claro que sim, até porque ser artista, em geral, é sempre um desafio. Mas sabia que, por ser mãe, tinha de dar tudo por tudo e não as podia desiludir, fosse no sentido financeiro, fosse no sentido de seriedade em relação à profissão. O nascimento da Alice trouxe-me a convicção de que queria levar a música a sério e o nascimento da Ema acabou por me impulsionar a fazer um trabalho musical a solo.
Leia esta entrevista na íntegra na edição 1214 da revista CARAS.
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