Ana Bustorff, de 59 anos, chega à sessão fotográfica leve e sorridente, o que combina bem com a forma descontraída como encara a vida. Simpática e disponível, não mostra tiques de vedetismo e a sua ambição sempre foi fazer aquilo de que mais gosta: representar. Com um vasto currículo na televisão, no cinema e no teatro, participou, só a título de exemplo, nos filmes Fátima, Alice ou O Crime do Padre Amaro, nas séries A Única Mulher ou Mulheres de Abril, e no teatro fez recentemente a peça Concerto à la Carte. Uma pequeníssima amostra de mais de 40 anos de carreira.
Cuidadora dos seus e do que a faz feliz, não gosta de se alargar em conversas sobre a sua família, mas não esconde que vive encantada com a neta, Manuela, de dez meses, filha do seu único filho, Frederico Madeira.
– A Ana é uma atriz conceituada e já conta com mais de 40 anos de carreira. Ainda há alguma coisa por fazer?
Ana Bustorff – Ainda está tudo por fazer. Nunca se faz tudo, tenta-se fazer tudo o melhor que se sabe e pode. Há sempre coisas para fazer, a nossa vida é um reinício constante. Além do mais, com o tempo vamos adquirindo uma espécie de respeito pelo que se faz e muitas vezes, se não controlamos bem as coisas, até ganhamos medo. Há alturas em que sinto muito medo.
– Mesmo depois de tantos anos?
– Claro. Só se não amasse o que faço é que não teria medo. Medo de não ser capaz. Sou muito exigente e nem sempre consigo mediar a minha entrega. Depois, consigo ultrapassar esse medo porque me realizo no palco, que para mim é sagrado. É o meu altar, a minha reza. A minha oração é feita ali, em conjunto com as pessoas que lá estão. Sinto que vou ficando mais insegura porque a responsabilidade também é maior, tenho mais noção das coisas. Não quero desiludir quem está na plateia a ver-me.
– Como reage quando acha que o seu desempenho não foi tão bom quanto gostaria?
– Fico triste e a pensar como é que vou ultrapassar isso, mas no dia seguinte tento resolver, caso contrário entra-se numa espécie de círculo depressivo, quando a ideia é fazer o contrário e usar essa energia para subir, para perceber como se existe em palco, em cena. Cada vez mais sou a favor da existência em palco. Não se representa, existe-se, vive-se. Cada vez acredito mais nesse teatro. O amor não se representa, faz-se, adquire-se, existe com o outro ator, na contracena.
– Esse envolvimento emocional é uma ajuda para construir cada personagem?
– Claro, é também catártico, é maravilhoso. No entanto, somos nós realmente que temos de lidar e contornar todos esses sentimentos que fazem parte de nós, pois é com os nossos sentimentos que trabalhamos as personagens.
Ana Bustorff: “Tenho dificuldade em competir, ponho-me logo de parte”
Sem subterfúgios, a atriz falou da paixão pelo seu trabalho e do mais recente amor da sua vida, a neta Manuela.