Na vida de Kiko Martins, de 40 anos, tudo é feito com rigor, disciplina e dedicação, mas também com a leveza de quem aprendeu que o inesperado acontece e que nem sempre conseguimos controlar tudo. E é esta forma de ser e de estar que o faz ter sucesso a nível profissional e um papel diferenciador nos seus restaurantes – entre eles a Cevicheria, o Talho e o Asiático –, mas também a ser um pai presente para os quatro filhos, Sebastião, de oito anos, Gabriela, de sete, Matias, de dois, e Lopo, de um, e ainda um marido dedicado a Maria Bravo, a escritora e blogger com quem está casado há 12 anos.
– Seis restaurantes, mais dois a caminho, quatro filhos e um casamento de 12 anos, as 24 horas do dia não devem ser suficientes…
Kiko Martins – [Risos.] Às vezes não são mesmo suficientes, mas como tenho um propósito, trazer alegria às pessoas e estar concentrado onde estou, tudo se faz. Um dos meus lemas é: onde estou, estou presente. Não estou a olhar para o telemóvel nem preocupado com o futuro, estou a ouvir as pessoas. E depois, não dispenso o descanso. Acredito que quem não descansa não avança. Andamos sempre angustiados com o tempo, com as mensagens a que não respondemos… E não é que não viva assim, mas organizando a minha cabeça e o meu coração já posso partir para a “guerra”.
– Essa visão e noção do tempo é recente na sua vida?
– Quando passei a ter dois filhos e passei do terceiro para o quarto restaurante, percebi que tinha de delegar cada vez mais e garantir que as coisas funcionavam da forma em que acredito, e para isso é preciso ter muita disciplina. E essa disciplina não é poesia, só se constrói com regras e de uma forma muito objetiva. Até a sonhar sou disciplinado. Gosto muito de sonhar, mas acredito que para atingir os meus sonhos tenho de ser muito disciplinado. Mas priorizar é muito difícil, é um exercício diário.
– Tem truques que o ajudem a desligar a cabeça?
– Corro na montanha, na serra de Sintra, na de Montejunto, e faço uns bons quilómetros. O desgaste físico que atinjo, passar dez ou 15 horas a correr, ajuda-me muito. Mas na verdade acho que não precisamos de desligar, mas sim de descansar.
– E quando está em casa, consegue não pensar no trabalho?
– Descobri ao longo da vida e dos meus erros várias metodologias para conseguir estar mais presente. Quando estou com os meus filhos, estou wi-fi free, desconectado das redes, sem televisão nem telemóveis. Nem todos os dias consigo que assim seja, mas não me martirizo. Aceito que umas vezes irei cumprir e outras não.
Kiko Martins: “sinto que sou um ‘chef’ melhor se for um melhor pai”
O “chef” diz que tem nos filhos, Sebastião, Gabriela, Matias e Lopo, e na mulher, Maria Bravo, a sua grande prioridade.