A beleza de Sandra Faleiro evidencia-se ainda mais graças à sua doçura. Aquela com que fala dos filhos – Beatriz, de 19 anos, e João, de 12 –, da vida, da representação e de si própria. Sempre seguindo os fios condutores que a guiam: o amor e a entrega. Uma entrega que tem sido amplamente reconhecida, nomeadamente pelo seu papel no filme A Herdade, que lhe valeu uma nomeação no Festival de Cinema de Veneza para Melhor Atriz
“É fantástico, mas a verdade é que apresentámos um trabalho de qualidade e são os trabalhos que fazem os atores. Por exemplo, não acredito nada naquela coisa do melhor ator da sua geração. Nada. Acredito é que há trabalhos que são encontros felizes e que correm muito bem, e aí tu és o melhor ator naquele trabalho, mas não és sempre o melhor, nem és sempre o pior”, frisou a atriz, de 47 anos, numa tarde em que partilhou o seu tempo e os seus ideais com a CARAS.
– Quis ser atriz para poder contar histórias. Alguma vez pensou que essas histórias chegassem tão longe e a tantas pessoas?
Sandra Faleiro – Não. Nunca tive aquela coisa da ambição… Foi sempre uma vontade mais intimista, e esse foi também o meu percurso nesta profissão. Na verdade, o que me impeliu para ser atriz foram os meus lados artístico e criativo muito fortes. Sempre tive necessidade de os desenvolver, caso contrário sinto-me um bocadinho morta. É uma forma de estar. E há coisas de que quero falar e de que falo melhor através da encenação e das personagens que faço.
– Nesse sentido, acha que é uma profissão que lhe permite estar mais em contacto com a sua voz interior?
– Penso que todos nós passamos a vida inteira a tentar ouvir essa voz. Às vezes aproximamo-nos um bocadinho mais dela, outras nem tanto, e ambas acontecem em frações de segundo. É um trabalho contínuo.
– E que impacto é que o êxito tem em si?
– Êxito e sucesso são palavras que me assustam imenso, porque isto é tudo muito efémero. Mas nunca pensei no êxito, o que sempre me importou foi ter trabalho contínuo. Com os grandes picos podem vir grandes quedas e manter um estatuto não é uma coisa que me interesse. Nem me interessa que se criem expectativas em relação ao meu trabalho que me ponham sob uma pressão tão grande que me deixe infeliz. Só me interessa que me tratem por igual, estamos todos a aprender, todos nós cometemos erros, não somos deuses.
– Este ano trouxe-lhe televisão e cinema e está ainda a viver o impacto que o filme ‘A Herdade’ tem tido. Mas a Sandra é muito do teatro…
– Sim, sou. É de onde venho e é um sítio onde tenho de voltar sempre. É a minha casa, é onde me estruturo e me foco.