Habituado a criar ambientes de requinte e bom gosto, o arquiteto Miguel da Cunha, de 40 anos, gosta de pensar os projetos ao pormenor. O que se nota nesta recriação de uma mesa de Natal, na qual optou por uma decoração festiva que possa ser usada em qualquer ocasião e não apenas na quadra que se aproxima. Os tons pastel e dourado deram o mote para uma “decoração mais contemporânea, jovem e descontraída, com cores menos características do Natal tradicional. Isoladamente e sem a árvore, esta é uma mesa que se enquadra em qualquer jantar”, explicou Miguel.
– Esta é uma mesa bastante diferente do que seria convencional…
Miguel da Cunha – Sim, quis fugir ao Natal tradicional e aos seus registos mais característicos, como o encarnado e o verde. Profissionalmente, gosto de criar ambientes diferentes, que não sejam demasiado agarrados ao tema. Por exemplo, se me pedirem para decorar uma casa de praia, vou tentar ao máximo fugir aos clichés, como o azul e as conchas.
– Optou por usar tons suaves.
– Decidi usar uma cadência de tons, desde os frios azuis aos quentes dos tons rosa. Quando se conjuga uma cor fria com uma cor quente, fica sempre muito equilibrado e harmonioso. Escolhi uma mesa de design mesclada, com umas cadeiras Luís XVI revestidas com um tecido completamente contemporâneo e uma decoração em tons de dourado-intenso e rosa. Optei por copos clássicos dos anos 20 e por um faqueiro oriental de latão, mais irreverente do que os pratos e marcadores em prata. A ideia é brincar um bocadinho com o moderno e o antigo. É uma mistura que resulta sempre muito bem e que permite que os espaços não se esgotem.
– E o seu Natal é celebrado de uma forma mais tradicional?
– Sim, até porque é passado com a minha família, composta, sobretudo, por pessoas mais velhas, e não há muito como fugir às tradições. Mas tento, por exemplo, que a mesa de Natal, apesar de ser tradicional, não tenha demasiados clichés representados. Só para dar um exemplo, no ano passado a mesa tinha uma toalha às riscas brancas e pretas e um serviço em rosa-pastel, sobreposto por outro de porcelana chinesa em rosas e verdes. Depois, o arranjo central tinha rosas mas era adornado com pinheiros, e sentíamos que era uma mesa de Natal mas não tão marcada como habitual. Sigo no meu dia a dia aquilo que faço nos espaços dos meus clientes.
– Dado o seu trabalho, tem acesso às mais diversas peças de decoração e tem em casa muitas alternativas. Usa tudo isso no dia a dia?
– Tudo o que tenho é usável, mas de facto tenho dificuldade em usar tudo aquilo que vou juntando, nomeadamente serviços. Recebo bastante em casa e faço uso de todas as peças, ainda assim não consigo usá-las todas, pois ao longo destes anos já juntei muita coisa. Mas até isso é giro, porque dou por mim a misturar peças de um evento de Natal com outras de uma produção que fiz anos depois e que nunca pensei juntar. Não é necessário usar um serviço de mesa que faça pendant. É giro pensarmos num prato de refeição simples, intemporal, debruado a dourado ou prateado, que depois misturamos com pratos às flores ou com riscas. Coisas que compramos separadamente mas que depois ficam lindamente misturadas.
Miguel da Cunha: “Quis fugir do Natal mais tradicional”
O arquiteto de interiores criou um cenário de Natal em tons de azul e rosa e falou-nos da sua carreira.