A forma apaixonada como Luís de Matos fala de magia é uma força que o impele a focar-se na arte de impressionar os outros. É assim há 31 anos. “Tenho hoje, no mínimo, tanto prazer quanto quando comecei. Se calhar, até mais. Nunca me preocupei muito com o que está vivido e conseguido. As vitórias são sempre passado. Claro que devemos celebrar os sucessos, mas devemos focar-nos no que ainda não aconteceu. Preocupa-me muito mais este desafio novo, por exemplo. Hoje vou ter aqui 1200 pessoas que decidiram passar a tarde de domingo comigo, que condicionaram a sua vida para poderem estar estas duas horas aqui. Isso para mim é esmagador. Por isso tenho que fazer com que estas 1200 pessoas saiam superfelizes daqui. E isto é um peso inacreditável. Mas é esta responsabilidade que me assegura o nervosismo em cada espetáculo. Nervosismo que alimento, porque sei que me vai fazer dar o melhor de mim”, assume o ilusionista, que está em cena com o espetáculo “Impossível ao Vivo”.
Nesta procura constante de superação para poder dar sempre o melhor de si ao público, Luís de Matos desafia permanentemente a capacidade de sonhar de quem o vê. Ainda assim, garante que na sua vida, para lá dos palcos, há espaço para o sonho e também para a magia do dia a dia. “Adoro a minha vida pessoal, adoro o facto de genuinamente nunca ter ficado com a visão toldada por ter uma profissão no mundo do espetáculo. Porque é normal isso acontecer. Se temos uma casa a aplaudir de pé durante dez minutos no fim de um espetáculo, é normal que nos passe pela cabeça todo o tipo de devaneios. Mas pelo menos até hoje consegui contextualizar esta admiração generosa que as pessoas manifestam, contextualizá-la naquelas duas horas de dádiva e não extrapolar isso para a minha vida. Não faço só coisas maravilhosas, também faço muitas asneiras. [Risos.] Mas manter os pés assentes na terra é uma forma de protegermos o nosso trabalho e também de não deixarmos que o trabalho nos intoxique de tal maneira que deixamos de ter tempo de brincar com o cão, de ir ao cinema e de passear”, confessou.
Embora o mundo seja o seu palco, já que esgota salas de espetáculo em todos os países por onde passa, é em Coimbra que se sente em casa. E é lá que faz questão de viver o seu lado mais pessoal e privado. “Fui viver para Coimbra quando tinha 15 anos. E o que percebi foi que para poder lidar melhor com o estar num palco em Lisboa, Sydney ou Las Vegas era importante ter uma âncora o mais normal possível. E que melhor sítio do que Coimbra, que foi a cidade que me viu crescer? A minha interação com a cidade e da cidade comigo, e com as pessoas que lá habitam, é a de uma pessoa normal. Ninguém olha para mim como o mágico que aparece na televisão. Lá sou o Luís que vai às compras ou vai tomar café à Baixa. E isso permite-me uma estabilidade emocional que é absolutamente importante. Eu já percorria aquelas ruas antes de aparecer na televisão. E essa normalidade é essencial”, esclarece.
Sempre com os olhos postos no futuro, o ilusionista não se perde em balanços. Quase a chegar aos 50, não receia os anos que passam, porque lhe ensinam coisas novas. “A capacidade de nos reinventarmos é o oxigénio para nos mantermos vivos. E como continuo a ser apaixonado pelo que faço, o ingrediente mais importante está assegurado, que é aquilo que potencia a entrega, a paixão com que fazemos, o facto de não contarmos as horas, de não medirmos os insucessos, e estarmos sempre na esperança de hoje fazermos um bocadinho melhor”, afirma.