Júlia Pinheiro assinalou o Dia Mundial de Combate ao Bullying, esta terça-feira, dia 20, com uma partilha muito pessoal. Através do seu blogue, a apresentadora da SIC partilhou uma situação vivida durante a infãncia que foi dolorosa e marcante.
Leia o texto aqui:
“Há cerca de dois anos, na apresentação do programa Júlia, revelei um lado mais sombrio da minha infância. Acabei a primeira classe sem saber ler nem escrever. O que me terá proporcionado, desde cedo, a sensação de ser diferente. E nessa altura da nossa vida, ser diferente não é bem-vindo. Quando, na verdade, mais tarde descobrimos que somos todos diferentes. O meu percurso académico foi feito mais a solo. Hoje valorizamos o “sopas e descanso”. Mas na escola, estarmos rodeados dos amigos mais populares é que é fixe. Na adolescência, estava muitas vezes sozinha. E, pior, sentia-me efetivamente sozinha, o que me tornou uma presa fácil. Fui vítima de bullying e sujeita a várias humilhações. Fui discriminada: era muito alta para a idade. Era magra. Acrescentaram-se ainda razões políticas. Em pleno PREC, 1975, a minha família possuía um negócio bem sucedido e conhecido na minha comunidade. Por esse motivo e, nos fervores da revolução, fui insultada na escola com palavras, cujo o significado me escapava. Gritavam o meu nome bem alto a adjetivavam com provocações e insultos. Está resolvido mas não me esqueço.
Fui humilhada. Num tempo em que não havia redes sociais e semelhantes formas de agravar esta perseguição.
Hoje, pelo meu sofá, já passaram outras vítimas, as quais eu “salvaria”, se estivesse nas minhas mãos e ao meu alcance. Resta-me contar e partilhar as histórias, na esperança de que todos estejamos mais atentos aos sinais de uma situação que é preocupantes nas escolas e devastadora para as vítimas.
Hoje, Dia Mundial de Combate ao Bullying, dia em que são revelados dados perturbadores (Sessenta e cinco por cento das crianças com obesidade em Portugal sofrem de bullying escolar, segundo uma sondagem divulgada hoje, que aponta para um agravamento da situação devido ao confinamento provocado pela pandemia de covid-19), junto-me ao grito de alerta que é preciso fazer ecoar junto da população mais jovem:
Insultos, alcunhas e comentários inapropriados discriminatórios cometidos contra crianças não são comportamentos aceitáveis”.