Quando José Rodrigues dos Santos se propôs escrever sobre o Holocausto, no início de 2018, e começou a pesquisar os factos históricos sobre o tema, nunca pensou quão duro poderia ser. O escritor e jornalista da RTP ainda ponderou desistir a meio do processo de investigação, tal o horror e a brutalidade do genocídio de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial com que foi confrontado, mas a persistência e a vontade de dar ao leitor uma boa história falaram mais alto. O resultado está em dois livros de quase 900 páginas, O Mágico de Auschwitz, lançado em setembro último, e O Manuscrito de Birkenau, apresentado no passado dia 13, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em plena Baixa pombalina. “Senti que consegui contar a história que queria contar, cumpri a minha missão. Foi muito difícil fazê-lo, porque implicou um certo equilíbrio, implicou tocar em matérias proibidas. Mas o meu compromisso é com a verdade, mesmo que ela seja o mais inconveniente possível. Vou até onde as provas me mostrarem”, revelou.
Com uma carreira de quase 20 anos na escrita, José Rodrigues dos Santos continua a desafiar-se quando pega na caneta para escrever e não olha a prémios. “Os leitores são o meu prémio essencial. Na ficção, interessa-me sobretudo a capacidade de contar histórias, pegar num tema verdadeiro e desmontá-lo, tocar em assuntos que sejam desconhecidos ou proibidos. Ao longo dos meus romances encontramos isso. Considero que esse é, de facto, o maior contributo que a literatura dá”, frisou o comunicador, que tem na família a sua principal inspiração. “A minha mulher é a minha primeira leitora. Procuro não lhe contar nada da história para ela ler como se estivesse de fora. Dá-me conselhos e faz-me críticas aos livros, construtivas, não destrutivas. Pergunto-lhe porquê e na maior parte das vezes acho que ela tem razão e faço alterações. Confio muito na opinião dela, isso é muito importante”, explicou.
Para Florbela Rodrigues dos Santos é também um privilégio acompanhar as conquistas profissionais do marido. “É sempre um momento de partilha e felicidade na nossa família quando há mais um livro pronto para lançar. Como sou licenciada em História, domino a parte histórica dos factos, por isso acompanho de perto a parte em que a história e a ficção se interligam. Os livros têm de ter ritmo e credibilidade. Ele pede-me muitas opiniões e eu sigo com interesse. E as nossas filhas também são muito críticas. A Inês já leu alguns livros, diz que têm muitas páginas. [Risos.] A mais velha, a Catarina, também. Ela é psiquiatra e trabalha fora do país, mas acompanhou o lançamento em streaming e à noite ficou combinado fazermos uma videochamada para ela dizer o que achou”, afirmou a mulher do escritor.