“Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e a genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão de pedir-to quando chegar a primavera.”
(in “Poesia Reunida”, Quetzal)
“Muitas vezes o amor termina de forma traumatizante para uma das partes, e isso faz com que as pessoas tenham medo de abraçar novos relacionamentos. É natural – e até necessário! – fazer o luto de um desgosto de amor (nada de tratar o pelo de um cão com o pelo de outro cão, pois isso raramente ajuda). Ainda assim, chega um tempo em que é preciso deixar para trás as feridas e as más recordações e ir abrindo a porta ao que aí vem. Receber um novo amor – como a corola de uma flor recebe a visita da abelha – é uma espécie de primavera inesquecível. Para isso vivemos. Para isso vale a pena andarmos neste mundo. Há que perder o medo do amor.”
Maria do Rosário Pedreira
Nome de destaque na poesia nacional contemporânea, a autora é também muito reconhecida pelo seu trabalho na área da literatura infanto-juvenil. Além de escritora, Maria do Rosário é editora. Nesta “Poesia Reunida”, editada em 2012 pela Quetzal, cabem três livros: “A Casa e o Cheiro dos Livros”, “O Canto do Vento nos Ciprestes” e “Nenhum Nome Depois”.