A estreia de Andra Day como protagonista no grande ecrã foi estrondosa, muito elogiada e pode valer-lhe, no próximo dia 25, o primeiro Óscar da sua curta carreira no cinema. Depois de ter conquistado o Golden Globe de Melhor Atriz em Filme Dramático (tendo sido a segunda mulher negra a vencer este galardão, depois de Whoopi Goldberg no filme A Cor Púrpura, em 1986), a cantora e compositora, de 36 anos, é uma das favoritas na corrida à estatueta dourada graças à prestação no filme Estados Unidos vs Billie Holiday, que retrata a atribulada vida da cantora de jazz Billie Holiday – dificultada pelo sistema de segregação racial norte-americano e subjugada pela toxicodependência e pelo alcoolismo –, bem como a sua luta para cantar o tema Strange Fruit, que se tornou uma espécie de hino da luta contra o racismo. “Ela era apenas uma ativista por natureza, fazia o que era certo e justo”, defendeu Andra à revista online Deadline.
Apesar da repercussão que este icónico papel lhe tem dado, Andra revelou que inicialmente ficou com receio de seguir o retrato “intocável” feito por Diana Ross (a primeira mulher a ser nomeada para um Óscar por interpretar Billie Holiday) e, mais do que ocupar o lugar das notáveis mulheres negras que vieram antes dela, pretende homenageá-las. “Fazem-me rir [os elogios], porque parece irreal. (…) Sinto que só Deus poderia ter feito algo assim. Lembra-me o cuidado e a dedicação que as pessoas colocaram na concretização desta história”, declarou à revista Variety.
Nascida no seio de uma família religiosa, Cassandra Monique Batie adotou o nome artístico de Andra Day depois de ter consolidado o seu lugar na indústria musical. A influência do jazz e de Billie Holiday sempre esteve presente na sua arte, desde as idas à igreja, ao domingo, onde teve o primeiro contacto com a música, aos estudos na Escola de Artes Criativas e Performativas de San Diego, na qual se formou, em 2003. “Sempre adorei esta mulher. Ela ajudou-me a reconhecer quem sou como artista. Ajudou-me a dizer: ‘Ok, a minha voz vale a pena.’ Deus usou-a e ao seu legado de forma muito poderosa na minha vida. Ouvir as pessoas dizer que [ela] desperdiçou a vida deixa-me triste. Não poderia estar mais longe da verdade, ela é uma heroína”, contou à Deadline.
O reconhecimento que desejava chegou com Stevie Wonder, após vários anos com inúmeros empregos, incluindo apresentações vestida de personagens da Disney. Depois de ter visto um vídeo de Andra a cantar num centro comercial, o músico telefonou-lhe e apresentou-a ao produtor Adrian Gurlitz, com quem trabalhou no seu primeiro álbum de estúdio. Cheers to Fall seria muito aclamado pela crítica e nomeado para vários prémios de prestígio.