A autobiografia de Sharon Stone, A Beleza de Viver Duas Vezes, que se tornou um best-seller internacional, foi traduzida para português e promete também aqui ser um sucesso de vendas. Com várias revelações bombásticas, os relatos honestos da atriz, de 63 anos e mais de quatro décadas de uma carreira de sucesso inegável, impressionam e fazem justiça ao título.
Neste livro, Sharon Stone retrata uma infância marcada por episódios de violência psicológica, física e sexual e expõe o facto de até à adolescência ter sido, juntamente com a irmã, Kelly, três anos mais nova, vítima de abuso sexual por parte do avô, Clarence Lawson, até à morte dele. “Toquei-lhe com o dedo e senti uma satisfação bizarra por perceber que ele estava finalmente morto. Essa perceção atingiu-me como um bloco de gelo. Olhei para a Kelly e ela entendeu. Tinha acabado”, escreve a atriz.
A ativista conta, por exemplo, que abortou três vezes, ou que lhe foram diagnosticados tumores benignos na mama e que se sentiu revoltada quando, ao acordar da cirurgia de remoção e reconstrução mamária, descobriu que lhe tinham colocado implantes maiores do que era suposto. “Fiquei estupefacta ao descobrir que tinha as mamas com um tamanho acima e o cirurgião me disse que combinavam melhor com o tamanho das minhas ancas. Ele mudou o meu corpo sem a minha autorização ou consentimento”, desabafa. Vencedora do Globo de Ouro para Melhor Atriz Dramática com Casino, de Scorsese, em 1995, partilha também como driblou a morte depois de ter sofrido, em 2001, uma hemorragia cerebral, cujas hipóteses de sobrevivência eram de 1%. Conseguiu-o durante um longo e lento caminho de recuperação, em que percebeu que era aquela a oportunidade para viver uma segunda vez, reencontrando-se a si mesma, reaproximando-se da família, fazendo as pazes com o passado, dedicando-se ainda mais aos filhos que adotou, Roan, de 20 anos, Laird, de 15, e Quinn, de 14, e às causas humanitárias.
Na autobiografia está exaustivamente descrita a história do mais famoso cruzar de pernas, em Instinto Fatal, filme que protagonizou em 1992. Stone já contou o episódio várias vezes, mas agora incluiu todos os pormenores. Volta a explicar que se sentiu traída pelo realizador, Paul Verhoeven, que a convencera a tirar a roupa interior para a célebre cena do interrogatório policial garantindo que não apareceria nada explícito, o que se revelou mentira. Ao ver a primeira projeção do filme, descontrolou-se: “Numa sala cheia de agentes e advogados, a maior parte sem qualquer relação com o projeto. Foi assim que assisti pela primeira vez à cena da minha vagina. (…) Fui à sala de projeção e dei uma bofetada no Paul, saí, meti-me no carro e liguei ao meu advogado. (…) Tem havido muitos pontos de vista em relação a esta cena, mas, tendo em conta que a vagina é minha, deixem-me dizer: os outros pontos de vista são uma treta. Quem foi exposta fui eu e as minhas partes íntimas.” Um discurso franco e sem hesitações, que marca o tom deste livro.