Do pai, brasileiro e músico, Gabriela Barros herdou “o à-vontade muito diferente do nosso e uma cara de pau que os portugueses nem sempre têm”, da mãe, portuguesa, cujo trabalho na Comissão Europeia a fez crescer em Bruxelas, tal como ao irmão, acha que recebeu “um lado mais reservado”. Mas a verdadeira Gabriela, atriz, cantora e aberta a todas as experiências artísticas, sente que se revê “na mistura dos dois”.
A versatilidade parece mesmo ser uma das características que a define: mostra-se igualmente à vontade a fazer musicais, comédia ao lado de Herman José, em Cá por Casa ou na série satírica Pôr do Sol, e filmes dramáticos como O Som que Desce na Terra, que protagoniza e que acaba de estrear nos cinemas nacionais.
“Com sorte e muito trabalho, tenho tido a oportunidade de pôr o pé em vários registos e em várias áreas”, diz, com a satisfação de quem, aos 33 anos, e mesmo durante a fase de confinamento, nunca parou de trabalhar numa área que nem sempre oferece essa estabilidade. “Tenho tido bastante sorte. Quando começou a pandemia, mantive-me a trabalhar a partir de casa com o Herman. Foi um desafio enorme! Tive de descobrir capacidades para as quais não sou mesmo fadada: era fazer claquetes, era fazer roupa, maquilhagem, tudo sozinha…” Depois veio o musical Chicago, a seguir a peça Ricardo III e agora vai gozar umas curtas férias antes de começar a ensaiar uma nova peça no Teatro da Trindade, com Diogo Infante.
O intenso ritmo de trabalho e a visibilidade crescente não lhe têm dado, no entanto, a sensação de que pode descontrair e sentir-se confortável. “Não, isso nunca. Não é falsa modéstia, os nervos e a falta de confiança antes de cada projeto estão lá sempre.” Por isso, considera a formação “uma coisa contínua, para a vida”, e planeia continuar a desenvolver as suas capacidades de artista.
A seu lado tem agora a companhia do ator brasileiro Miguel Thiré, com quem namora há alguns meses e que se mudou para Portugal, no que parece quase uma cópia do modelo com que cresceu. “É verdade, parece que estou a reproduzir a história dos meus pais”, comenta, entre risos, mas salvaguarda que não planeia mudar-se para a Bélgica: “Isso é que não! Saí de lá a correr por causa do frio e não planeio voltar a viver lá.”