Foi de forma tímida que Luísa Sobral mostrou o livro infantil que andava a escrever à editora Maria do Rosário Pedreira. A equipa editorial gostou muito e deu “luz verde” à obra da cantora e da ilustradora Camila Beirão. Quando a Porta Fica Aberta é uma história contada e desenhada pela perspicácia e pela sensibilidade de duas mães e artistas. “Escrevi este poema porque o meu filho [José, de cinco anos] me falou do medo de ver o armário aberto durante a noite. Depois, enviei para a Camila a perguntar se ela gostaria de ilustrar aquele poema. Também me lembro de sentir medo do armário. Achei interessante explorar algo comum a várias crianças. É importante o uso da rima para os mais pequenos, acaba por ser uma história cantada sem o ser. O meu filho descobriu a rima e adora. Um dia, estávamos a ouvir Chico Buarque e ele disse-me: ‘Mãe, rima tudo.’ Acho engraçado os miúdos terem a noção dessa cadência e musicalidade por detrás do poema.”
Neste trabalho a quatro mãos, a ilustradora acentua o processo da partilha criativa, na qual não há espaço para egos, como reforça Camila. “Quando a Luísa me mostrou o poema, disse-me o que achava. Fomos pensando nas crianças, mas sempre à luz daquilo de que gostamos. Não tivemos medo do desconhecido, de estar a descobrir aqueles desenhos e a história. Tem de haver uma confiança mútua. Quando partilhei as primeiras imagens, a Luísa achou que eram um bocadinho sombrias, mais centradas no medo. Depois, percebemos que as páginas poderiam ter vários pormenores. Os filhos da Luísa [além de José, a cantora é mãe de Rosa, de quatro anos, e de Camila, de ano e meio; a ilustradora é mãe de Olívia, de quase dois anos] ficaram muito entusiasmados por descobrir todos os dias algo novo nas imagens.”
Depois de um álbum para crianças, um disco com canções de embalar e um livro infantil, Luísa explica como surge essa inspiração no universo dos mais pequenos: “Quando fiz o meu primeiro disco para crianças, ainda nem era mãe, foi inspirado na minha infância. Depois, fiz o álbum Camomila, com canções de embalar. Nasceu do confinamento. Estava com os meus filhos em casa e não tinha vida de adulto. Nessa época, aquele foi o meu universo. Este livro tem a ver com o facto de andar a ler muitos livros para crianças. Estou sempre à procura de coisas novas.”
Na dedicatória do livro, a cantora e a ilustradora escreveram: “Para os nossos filhos: Zé, Rosa, Olívia, Camila e Salvador. Que nunca tenham medo do desconhecido”, o que deixa subentendido que Salvador será o nome do filho que Luísa, muito discreta sobre a sua vida pessoal, espera.