
Adrien Silva tinha oito anos – a mesma idade que o seu filho mais velho tem atualmente – quando se mudou com a família de França para Portugal. O futebol já era então uma grande paixão e, mesmo não dominando bem o português, despediu-se da família para integrar a tempo inteiro a Academia do Sporting, onde cresceu tanto como profissional como enquanto ser humano. Depois de ter representado o clube leonino durante 15 anos, o futebolista voltou a fazer as malas, desta vez para defender as cores de outros clubes, primeiro do Leicester City, em Inglaterra, passando depois pelo Mónaco e por Génova, em Itália, vestindo atualmente a camisola do Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos.
Enquanto geria a sua carreira profissional, foi formando, ao lado de Margarida Neuparth, o seu núcleo familiar, do qual muito se orgulha. Santiago nasceu há oito anos, Thomas há seis e Maria Clara há quatro, e todos eles são, assegura, a sua razão de viver. A CARAS ficou a conhecer melhor a família durante as férias que passaram no nosso país, em que aproveitaram para batizar os dois filhos mais novos na presença de amigos e familiares.
– A Margarida estava grávida da Maria Clara quando o Adrien se mudou sozinho para Inglaterra. Calculo que esse afastamento tenha sido difícil…
Margarida – Apesar de ter uma grande rede de ajuda, senti muito a falta do Adrien, tanto durante a gravidez como nos meses que se seguiram, e a ele fez-lhe muita diferença perder esses primeiros momentos com a bebé…
Adrien – Sobretudo por ser uma menina. Apesar de, como é óbvio, os amar a todos por igual, a menina é sempre muito especial, tem privilégios que os meninos não têm.
Margarida – A verdade é que os meninos sentiram muito a falta do pai, e eu sofri por ter de assumir todos os papéis, até porque o Adrien estava cá, no máximo, 24 horas e não queríamos que, durante essas curtas passagens, ele tivesse de se zangar e impor regras, mas sim que aproveitasse o tempo para mimar os filhos.
– Nas mudanças que se seguiram, a família manteve-se sempre por perto. Sentem que os alicerces familiares se têm reforçado nestas permanências em países estrangeiros?
Adrien – Sem dúvida. Quando se conseguem ultrapassar barreiras e dificuldades, as relações tornam-se ainda mais fortes. Foi o que aconteceu connosco.
Margarida – Em Abu Dhabi conseguimos organizar-nos para estarmos em família, mas também para termos os nossos momentos a dois. Portanto, conseguimos criar uma harmonia familiar.
– Terem encontrado um país que se ajusta às vossas necessidades também terá contribuído para essa harmonia familiar. Parecem sentir-se confortáveis em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos…
Adrien – Sim, é verdade. Sentimos tranquilidade.
Margarida – Sem dúvida, apesar de ser do outro lado do mundo. Por acaso, temos uma grande facilidade de adaptação. Para isso terá certamente contribuído o facto de, nos últimos cinco anos, nos termos mudado cinco vezes. Em Abu Dhabi sentimo-nos bem, de facto.
– Sendo um país do Médio Oriente, com diferenças culturais acentuadas, não dificultou a vossa adaptação? O facto de estarem integrados num ambiente internacional suaviza essas diferenças?
– Estamos rodeados por muitas pessoas na mesma posição que nós, para quem aquele não é o seu país de origem. Estão ali para trabalhar só durante alguns anos, como nós, e isso torna tudo muito mais fácil.
Adrien – Claro que existem regras locais que temos de saber respeitar e adaptar-nos, mas não é assim tão drástico nem interfere no nosso dia a dia. O que vemos na televisão pode ser uma coisa, algo mais generalizado, mas a realidade no convívio pessoal é diferente. A verdade é que tem sido incrível esse privilégio de poder conhecer tantas pessoas de diferentes países e culturas.
– Para os vossos filhos, é um mundo que lhes estão a apresentar?
– Sim. Eles ainda não têm noção, mas, quando forem crescidos, vão ter uma bagagem muito maior.
– Têm sido educados em escolas internacionais?
Margarida – Sempre, para ser mais fácil a adaptação a qualquer país. Começaram na creche, em Inglaterra, e depois continuaram. Adaptaram-se bem e gostam.
– Existe margem para ciúmes na vossa relação?
Adrien – Existe sempre. Se não, na minha opinião há qualquer coisa que não está bem. Desde que seja controlado.
Margarida – Já houve mais, mas crescemos tanto e aprendemos tantas coisas juntos…
– A confiança é a base da vossa relação?
– A confiança tornou-se a base da nossa relação.
– Qual foi a vossa maior conquista enquanto casal?
Adrien – Sem dúvida os nossos filhos, assim como a estabilidade e o equilíbrio que conseguimos encontrar os dois.
– Algum deles mostrou vontade de seguir os passos do pai?
– Sim, os dois jogam e gostam muito de futebol, mas o Santiago diz muitas vezes que quer ser como o pai. Agora treinam em Abu Dhabi numa escola do Manchester City. Já praticaram outros desportos, como karaté, ténis, equitação e golfe, mas continuam sempre a querer jogar futebol.
– Nestas férias, levou-os à Academia do Sporting, em Alcochete. Terá sido certamente um momento emotivo.
– Foi, claro. Relembrei todo o processo, os amigos que lá fiz e que não conseguiram vingar nesta aventura, o que é muito duro.
– Não é só a vocação…
– Sem dúvida, é preciso ter uma grande componente de trabalho.
– E sorte…
– Acredito que também tem de existir uma pontinha de sorte, de estar no sítio certo no momento certo. Se, quando chegar esse momento de sorte, não estivermos preparados, as coisas não vão correr bem. A isso chama-se procurar a sorte. Foi o que aconteceu comigo.
– Tem ido sempre à procura da sorte?
– Muito. Abdiquei de muita coisa a nível pessoal, tanto com a Margarida e os meus filhos como durante a minha infância, que foi muito curta.
– Foi forçado a crescer depressa?
– Sim, foi das coisas que mais me custaram.
– A Margarida acabou por abdicar de algumas coisas para poder acompanhar o Adrien. As mudanças de país ajudam a construir uma carreira profissional?
Margarida – Certo. Nos últimos anos foquei-me a 100% neles os quatro, mas não me esqueci de mim e ainda tenho muita vida pela frente.
– Tem projetos ligados à gestão hoteleira que mantém em stand-by?
– Não estão esquecidos. Estão a ser trabalhados na nossa cabeça.
– Para serem colocados em prática no Médio Oriente ou aqui em Portugal?
– Em Portugal, nós queremos regressar.
– Já têm planos para esse regresso?
– Não. Neste momento estamos no outro lado do mundo, mas já com a cabeça a preparar o que será o nosso futuro aqui, quando voltarmos.
Adrien – Também aprendemos a pensar mais a curto prazo. Quando fazemos planos a longo prazo, nunca se concretizam.
– Onde é que se sentem em casa? Aqui, em França ou no país onde está a jogar?
– Aqui, sem dúvida alguma.
Margarida – Em qualquer parte do mundo em que estejamos, esta é sempre a nossa casa. Dá-nos sempre umas saudades enormes.
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Onyria Quinta da Marinha Hotel