Com mais de 15 anos dedicados aos livros, Rui Couceiro já tem pouco a provar como editor, tendo levado aos escaparates nomes como Cristina Ferreira, Luísa Castel-Branco, Bruno Vieira Amaral e Joana Marques, entre muitos outros. Agora, novos capítulos se acrescentam a este seu caminho com os livros. Depois de dar voz a histórias alheias, o editor da Contraponto aventura-se na autoria com Baiôa sem Data para Morrer, um romance que foi apresentado na Casa do Alentejo, em Lisboa.
“Diria que é um livro que tem uma componente imaginativa muito forte, em que o inusitado está presente. Há um toque da dimensão da fantasia. Também tem muito que ver com a atualidade, porque aborda temas como a desertificação, a dependência das tecnologias. A violência doméstica também lá está, assim como a centralização dos investimentos no litoral e nos grandes centros e o esquecimento do que é periférico, interior e rural. Há uma história de amizade que nasce neste livro e que sustenta a relação que o leitor pode criar com ele”, explicou Rui Couceiro à CARAS.
Coube a Luís Osório e a Alberto Manguel apresentarem a obra. Verdadeiramente surpreendido pelo talento do autor estreante, o escritor e editor argentino, considerado um dos maiores especialistas em literatura a nível mundial, proclamou alto e bom som que vai ser “o porta-voz deste livro no mundo inteiro. Se formos ver, a casa do Rui tem, seguramente, dezenas de manuscritos de outros romances que não conhecemos. Este é um romance tão perfeito, tão maravilhosamente escrito e de uma originalidade tal que não acredito que seja o seu primeiro romance”, disse Manguel na apresentação.
Luís Osório também não poupou nos elogios à obra: “Nasceu aqui um escritor. O Rui é um editor reconhecido, provavelmente o editor mais afirmado da sua geração. No entanto, consegue fazer um livro totalmente surpreendente. (…) Aquilo que hoje se pede aos escritores é que consigam atingir-nos com o melhor da sua superfície, e o Rui consegue atingir-nos com o melhor da sua profundidade. Esse é o principal desafio de um escritor. Não fazer aquilo que acha que o mundo vai gostar, mas fazer aquilo de que o mundo precisa sem saber que precisa. Isso é algo muito complexo.”
Surpreendido com as críticas positivas que o seu livro tem suscitado, o escritor está a redescobrir a sua própria obra através dos olhares dos outros: “É gratificante e, ao mesmo tempo, surpreendente. Cada leitor oferece uma leitura nova, diferente. Estou a aprender sobre o meu próprio livro, as pessoas é que me estão a ensinar o que o livro é. Quero que gostem dele como eu gosto. Na verdade, escrevi este livro para mim, foi esse o meu critério. Quis fazer exatamente o livro que queria ler enquanto leitor. Contudo, este livro será o que os leitores entenderem que é. Neste momento já não me pertence”, afirmou.
Fotos: Paulo Jorge Figueiredo