
Licenciada em Medicina pelo Instituto de Ciências Médicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, e especializada em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética no Serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Fátima Baptista Fernandes é diretora da Clínica Baptista Fernandes, em Lisboa, que integra uma equipa de especialistas das mais diversas áreas que oferecem muitas valências relacionadas com a medicina estética, tratamentos estéticos e cirurgia plástica. Optámos por focar esta conversa nos tratamentos de rejuvenescimento facial e prevenção dos sinais de envelhecimento, com uma abordagem voltada para os resultados naturais e subtis, nos quais se inclui a harmonização facial, técnica de recuperação dos traços naturais da juventude.
– Como é que começa o processo da harmonização facial?
Fátima Baptista Fernandes – Quando os pacientes vêm à clínica à procura de tratamento para recuperar a aparência cansada, torná-la mais leve mas sem mudar as características pessoais, propomos os procedimentos necessários para o rejuvenescimento facial. Isto, claro, depois de percebermos o estilo de vida, o tipo de hábitos e os seus cuidados com o rosto. Fazemos então uma avaliação macro e microscópica, com ajuda de lupas e luz wood. Vemos, assim, a elasticidade da pele, a coloração, o nível do pigmento, a profundidade das rugas e cicatrizes, a vascularização… ou seja, usamos todas as armas disponíveis no mercado para nos darem uma orientação individualizada para um tratamento personalizado.
– Que tratamentos se incluem na harmonização facial?
– De início, removemos manualmente – ou com ajuda do Hydrafacial (um tratamento atualmente usado para limpeza profunda facial) – as células mortas da camada superficial da pele por duas razões: revelar problemas dermatológicos escondidos, como vascularização e pigmento, e diminuir a profundidade das rugas. Em seguida, e com técnicas minimamente invasivas – aparelhos, microagulhas ou cânulas milimétricas, e sempre com 30 minutos de creme anestésico prévio –, iniciamos os tratamentos. Estes podem ser focados em flacidez (pele oleosa e mais pesada, que não enruga mas que pesa e cai), onde usamos combinação de micro-ondas focadas, que promovem a bioestimulação, e bioestimuladores de colagénio ou focados em rugas (pele fina e seca, que tem mais rugas), onde usamos o microabrasão tanto físico (microagulhamento) como químico (peeling), bioestimuladores ou ácido hialurónico e, sobretudo, bloqueadores musculares, como a toxina botulínica, para bloqueio muscular do terço superior da face e mais diluído para os dois terços inferiores e pescoço, focados em pigmento. Ambas as técnicas servem para estimular a produção de colagénio do próprio organismo, a fim de promover um rejuvenescimento completamente natural. No fundo, o que fazemos é retomar a produção de colagénio de uma pele jovem. Seja melasma ou fotoenvelhecimento, a nossa orientação é, antes de tratar, informar em relação aos tratamentos skin care, isto é, proteção solar e cuidados em casa. Após começarmos o tratamento com laser ou peelings, reforçamos a importância de uma gestão contínua das manchas em casa e focamo-nos na vascularização, como rosácea, derrames, olheiras escuras. A melhor arma para este tipo de lesões é o laser. Para tratamento de cicatrizes de acne ou cirúrgicas e para rejuvenescimento full face (como se fosse um peeling, mas sem downtime) é a mais-valia atual, com resultados espetaculares, para além de ser usado como potenciador de qualquer outro tratamento rejuvenescedor.

– A técnica é invasiva?
– As técnicas são sempre minimamente invasivas, dado que são usadas microagulhas e cânulas muito finas, onde se faz uma anestesia local para a sua introdução. Os cremes anestésicos, que permanecem durante 20/30 minutos antes do procedimento, são cada vez mais eficazes, o que torna os tratamentos completamente indolores.
– E depois? É preciso manutenção?
– A manutenção, tanto em casa como na clínica, é primordial, porque o envelhecimento celular é contínuo e progressivo. Daí a importância da equipa estar mobilizada para orientar no sentido dos cuidados primários, como a limpeza: uso de sabão com ácidos, uso de cremes descamativos, estimuladores da renovação celular, cujo exemplo máximo é um ácido chamado retinol, e o uso contínuo de hidratação suficiente que restabeleça e proteja a camada hidrolipídica da pele. Quanto à manutenção na clínica, varia com o tipo de problemas e com o tipo de vida das pacientes, mas, por norma, anualmente ou de seis em seis meses as pessoas regressam para serem avaliadas, e muitas vezes ficam espantadas com o antes e depois mostrado nas fotografias que lhes foram tiradas.
– É mais fácil mudar as feições ou recuperar os traços naturais?
– É sempre mais fácil mudar as feições. Ácido hialurónico em grande quantidade sobre regiões malares promove sobrancelhas mais arqueadas, ângulos da mandíbula mais projetados, lábios volumizados… Ou seja, realizar um preenchimento com ácido hialurónico em que conseguimos remodelar algum aspeto da face será sempre mais fácil do que uma bioestimulação, por exemplo. Ao aplicar o produto bioestimulador, vai demorar pelo menos três meses para estimular os fibroblastos a produzirem colagénio e, consequentemente, a rejuvenescer a pele. O rejuvenescimento, normalmente, é conseguido gradualmente, ou seja, com o tempo a pele vai voltar a ter elasticidade, firmeza e até vai ter melhorias na coloração, através de tratamentos combinados com laser, por exemplo. Ou seja, é um processo que demora. Em seguida, o trabalho será educar o paciente sobre a forma de continuar o tratamento em casa.
– Os traços naturais vão-se perdendo ao longo da vida devido a que fatores?
– Conseguimos perceber se observarmos a diferença entre uma pele de um bebé e a de um idoso. A pele dos bebés tem estrutura, boa forma, boa coloração e preenchimento. Já a pele do idoso tem deformidades, rugas e manchas. A coloração da pele, a elasticidade, o brilho, perdem-se ao longo da vida, devido a fatores como a oxidação celular, a força da gravidade sobre os tecidos, a reabsorção do tecido celular e gordura subcutânea e até a reabsorção óssea, tudo se perde e apaga os traços naturais. Embora a genética e a prevenção tenham um papel importante, o envelhecimento celular é inevitável, assim como a morte celular, e são acelerados com maus hábitos alimentares, stress, tabagismo e outros maus hábitos de saúde. Como tal, devemos ter os devidos cuidados com a pele e com a saúde, de forma a evitar um envelhecimento precoce e a aproveitar a vida.
– Que idade média têm os pacientes que procuram esta técnica?
– A idade média desta procura é quase sempre de pessoas entre os 45 e os 50 anos, completamente ativas na sociedade. No entanto, nos últimos dez anos houve uma transformação mundial das mentalidades mais jovens, favorecidas pela internet, o que levou a uma mudança e a uma aposta maior na prevenção do que na transformação, o que não se via anteriormente.
– Quando procuram este tipo de intervenção, as pessoas vêm em busca de quê?
– Pelo facto de serem pressionadas profissional e socialmente, vêm em busca de uma imagem mais jovem, compatível com a atividade que exercem. Isto porque têm muita pressão para melhorar a imagem, que deriva, geralmente, de questões profissionais – aos 50 anos estão no auge da carreira e são profissionalmente ativas. Há uma grande pressão social, e sinais exteriores de envelhecimento da face não são bem vistos, principalmente com a globalização e a pressão da divulgação dos media.
– Há quem leve já uma imagem predefinida do que quer?
– Há 20 anos, quem fazia cirurgia trazia fotografias de modelos e atores como exemplos para a rinoplastia e aumento mamário. Atualmente, as pacientes trazem fotografias de quando eram novas e imagens do que não querem.
– Certamente vê nas redes sociais alguns exageros. Estamos numa era em que a imagem é a prioridade?
– As pessoas veem-se mais nas redes sociais, nas reuniões online, no espelho, e isso exerce uma pressão maior sobre a sua imagem. A procura por um aspeto mais jovem hoje está muito associada à imagem de eficiência que procuram demonstrar, tornando o aspeto físico primordial em todas as profissões como passaporte de sucesso.

Rejuvenescer sem deformar
Durante anos, o termo harmonização facial teve como princípio estético as proporções áureas, ou seja, o sentido de beleza através da harmonia e proporções utilizadas em arte há milhões de anos. Para tornar a face o mais semelhante possível a estas proporções utilizaram-se de forma exagerada os preenchimentos
– a maioria reabsorvíveis, como o ácido hialurónico. Infelizmente, alguns foram definitivos, o que conduziu a uma uniformização e despersonalização dos rostos, tornando-os todos iguais. Hoje, a recuperação estética de um rosto é completamente personalizada e baseada sempre nos traços da juventude, ou seja, estamos perante um novo paradigma no rejuvenescimento facial. A grande preocupação das mulheres e homens que nos procuram não é alterar as feições, mas sim recuperar os traços da juventude sem transformar. Por outras palavras, rejuvenescer sem deformar. Ninguém quer ficar igual aos modelos-padrão nem alterar as feições de modo a que se note a transformação.