Passaram-se oito anos desde o dia em que Judite Sousa lhe viu ser amputada a sua maior razão de viver. Perder o filho retirou-lhe o sorriso e a vontade de se manter erguida, tendo, lentamente, deixado que a solidão e a tristeza se apoderassem dos seus dias. Procurou ajuda, lutou, regressou ao trabalho e tentou enfrentar, como pôde, os inúmeros comentários pejorativos que ia lendo nas redes sociais e em alguma imprensa. Em junho de 2021, depois de ter sido criticada por alguns colegas da sua classe profissional pelo regresso ao jornalismo televisivo, que consideravam ser prematuro, Judite Sousa anuncia o seu afastamento. “Estes últimos oito anos têm sido de grande sofrimento a nível pessoal, mas também a nível profissional. Estou a dizer isto de coração aberto, com a maior honestidade”, desabafou a jornalista numa emotiva entrevista que concedeu a Júlia Pinheiro a propósito do livro que acaba de lançar, Pedaços de Vida, e no qual partilha, sem grandes filtros e com muita coragem, algumas das suas angústias, medos e dores.
“Depois da morte do meu filho e dos diversos momentos da minha depressão, não quis ver ninguém, falar com ninguém.”
“Sinto que há momentos em que devemos deixar um testemunho escrito daquilo que sentimos, daquilo que pensamos, daquilo que somos, daquilo que a vida fez de nós e daquilo que nós fizemos com a vida”, escreve, nas primeiras linhas do livro, Judite, dedicando os primeiros capítulos a revelações e pensamentos sobre a perda do filho, André Sousa Bessa, que, recorde-se, morreu em julho de 2014, aos 29 anos, na sequência de um acidente junto a uma piscina. O livro foi escrito em apenas cinco meses, “para provar a mim própria que não estava intelectualmente limitada”, explicou na mesma entrevista, frisando: “Eu precisava de honrar a memória do meu filho.”
“Escrevi o livro em cinco meses para provar a mim própria que não estou intelectualmente limitada.”
Ao longo desta obra autobiográfica a jornalista partilha a dor dos momentos de solidão em que se deixou mergulhar desde 2014. “Com a passagem dos meses, anos, fui-me sentindo cada vez mais sozinha. Mantenho, decorrido algum tempo, a mesma linha de pensamento. No entanto, talvez considere, agora mais serenamente, que a solidão faz parte do ser humano”, escreve Judite, assumindo ter passado por uma depressão. “Depois da morte do meu filho não quis ver ninguém, falar com ninguém. A solidão voluntária é uma das consequências da depressão grave. Também nesta situação o contexto social não compreendeu. Disseram-me muitas vezes: ‘Telefono e tu não atendes, não respondes.’ Claro que não há resposta quando o que queremos é desaparecer deste mundo. Fizeram-me sentir, creio que por ignorância, que eu era uma pessoa mal-agradecida, que não era ajudada porque não queria, porque recusava esse auxílio. Nada mais errado. Quando uma pessoa está gravemente doente, mentalmente doente, a não-interconexão é uma expressão da doença. Não se trata de um comportamento racional. Trata-se, sim, de um sintoma da doença”, conclui a jornalista.