Kaia Gerber não nega que ser filha de Cindy Crawford, agora com 57 anos, é uma mais-valia para quem, como ela, seguiu as pisadas da mãe no mundo da moda: a experiência e o conhecimento de causa da ex-top model têm-lhe sido úteis desde que se estreou como manequim, não só porque recebeu conselhos preciosos que lhe foram benéficos em momentos de maior stress – “Sê pontual. Reserva algum tempo para aprenderes os nomes das pessoas e sê simpática para toda a gente. Se não estiveres grata e feliz por ali estar, outra pessoa estará”, diz-lhe a mãe –, como até porque conhecia previamente algumas pessoas com quem se cruza agora no meio profissional, por fazerem parte do círculo de amigos da família (o pai é o empresário Rande Gerber e tem um irmão dois anos mais velho, Presley). Mas ressalva que não são as “cunhas” que fazem uma carreira que exige esforço, dedicação e uma boa capacidade de sacrifício, e, numa entrevista que deu à edição de fevereiro da revista Elle americana, cita uma frase que a mãe costuma dizer por brincadeira: “Se eu pudesse fazer um telefonema e conseguir uma campanha da Chanel, seria para mim!”
Aos 21 anos, Kaia Gerber, que já desfilou para as marcas mais relevantes, deu a cara por campanhas de peso e fez muitas capas de revistas, concilia o discurso terra a terra de quem cresceu numa cidade pequena, Malibu, na costa da Califórnia, que tem cerca de dez mil habitantes, e onde conseguiu manter os mesmos colegas de escola ao longo dos anos, e preserva uma vida razoavelmente simples e despretensiosa, mas começou cedo a viajar, o que lhe deu mundo, até porque se descreve como sendo muito observadora.
A jovem modelo não esconde que passar muito tempo fora de casa e por sua conta e sentir a pressão de ser uma boa profissional acabou por levá-la a sacrificar a vida pessoal e a saúde mental, e reconhece que no seu caso a pandemia chegou em boa hora: permitiu-lhe voltar a ter tempo para si, para a família, os amigos ou para fazer coisas tão simples como cozinhar. Depois disso, e com a ajuda de terapia, decidiu: “Nunca mais sacrificarei a vida pessoal e a saúde mental pelo meu trabalho.”
Foi nessa época que criou um clube de leitura na sua conta de Instagram que acabaria por se tornar um pequeno sucesso. “Ando sempre com um livro, porque a minha profissão implica longas esperas e não posso estar sempre ao telefone, as redes sociais causam-me ansiedade se passar demasiado tempo a usá-las”, explica na mesma entrevista, adiantando que, mais uma vez seguindo um conselho da mãe, escreve regularmente sobre as experiências que vai tendo.
“Nunca mais sacrificarei a minha vida pessoale a saúde mental pelo meu trabalho.”(Kaia, à revista “Elle”)
Entretanto, passou a conciliar a moda com a representação. Tem surgido pontualmente em filmes e recentemente teve direito a um papel mais relevante numa comédia, Bottoms, revelando que uma das suas ocupações favoritas é frequentar clubes de stand-up comedy e que este trabalho foi para ela “uma honra”. Mas as oportunidades de carreira não parecem deslumbrá-la e diz que procura manter os pés bem assentes no chão, adiantando que ganhou uma segurança e maturidade que lhe permitem hoje assumir publicamente os seus pontos de vista: apoiou o movimento Black Lives Matter e manifestou-se a favor do direito ao aborto, pois defende que as figuras públicas têm o dever de usar a sua visibilidade para apoiar causas.
A aparentemente sólida relação que mantém há dois anos com o ator Austin Butler (protagonista do filme Elvis, papel que este ano já lhe rendeu um Bafta, um Golden Globe e uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator), dez anos mais velho, e que faz por preservar o mais possível parece atestar a maturidade que transparece no seu discurso.