Os anos passam, mas Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e candidata à Presidência da República em 1996, não consegue deixar de ser uma mulher ativa e com capacidade de se indignar perante aquilo que considera serem injustiças. Por isso é com prazer que assume o cargo de presidente do júri dos Prémios Activa Mulheres Inspiradoras, da revista Activa.
Aos 73 anos, recusa-se a baixar os braços e continua a ter nos direitos das mulheres uma das suas premissas fundamentais, como revelou na cerimónia de entrega dos prémios, onde marcou presença ao lado da filha, Maria Helena Pina. “A discriminação está à vista. A regra continua a ser um espaço cheio de homens quando falamos em cargos de relevo, e nós sabemos que as mulheres, neste momento, são as mais capacitadas do ponto de vista das titulações, dos estudos superiores. Portugal, aliás, está num lugar cimeiro com mulheres cientistas. E depois chegamos aos lugares de topo e continuam a lá estar homens”, sublinhou. Há, contudo, outro fator que considera ainda mais preocupante. “A misoginia está muito inserida no âmago das pessoas, mesmo nas mulheres. A grande batalha começa aqui. Choca-me, por exemplo, a facilidade com que as raparigas aceitam a violência no namoro. Para mim é um mistério! Depois de tanta informação, de tantos exemplos, como é que as jovens ainda se deixam amesquinhar, desvalorizar? Esta insegurança advém da falta de valor que é atribuído à mulher”, referiu.
“Estou noutra fase, a de avó, que é muito engraçada. Mas continuo a não ter muito tempo.”
Tal como a mãe, Maria Helena é uma feminista. “Com um exemplo destes em casa não podia ser outra coisa. Quando ainda se criticam mulheres, em Portugal, por usarem batom vermelho e outras morrem pelo mundo fora, temos de nos rebelar”, admitiu, sem rodeios. A sua preocupação é, no entanto, como cidadã, que participa ativamente na sociedade, mas longe da política. Consultora, a única filha da antiga ministra nunca pensou em enveredar pela carreira da mãe: “A política está minada de tricas e não é isso que quero para mim. Quando se vê o que pode acontecer a alguém querido, não se quer isso para si. Sei o que fizeram à minha mãe.”
A relação das duas é inabalável e ficou fortalecida desde a chegada dos filhos de Maria Helena. A pequena Maria de Belém, de sete anos, e Jorge, de quatro, encantam a avó. “Estou noutra fase, a de avó, uma fase diferente da vida e muito engraçada. Posso ser mais condescendente com eles, embora também seja exigente. Mas continuo a não ter muito tempo”, contou Maria de Belém Roseira.
“A política está minada de tricas e não é isso que quero para mim. Sei o que fizeram à minha mãe.”
“A minha mãe não é, de todo, a avó típica. E ainda bem, mesmo que me queixe de vez em quando. Aliás, quando ela foi candidata à Presidência da República, perguntaram se não estaria na altura de ela encostar um bocadinho as luvas e dedicar-se a ser avó, e isso soou-me tão mal! Há tantos homens da mesma idade, com mais ou menos responsabilidades, a quem não se põe essa questão, que achei totalmente incorreto”, concluiu Maria Helena.