Anabela Mota Ribeiro parou de escrever em 2015, até que, antes do início da pandemia, e por incentivo do marido, António Pinto Ribeiro, voltou a fazê-lo. Foi assim que nasceu O Quarto do Bebé, o primeiro romance da jornalista, que o intitula de autoficcional e que nasceu como uma espécie de diário, onde questões vividas pela autora foram abordadas: o cancro da mama, a sua histerectomia, a infertilidade, a maternidade e a morte. Um livro cru, onde a autora assume uma personagem, Ester, que se confunde com ela própria, que fala na primeira pessoa e que tem tanto de Anabela como de outras mulheres. “Num tempo de doença coletiva, a pandemia, procurei palavras para a minha doença. Escrever foi uma estratégia de sobrevivência, uma catarse, mas foi só a primeira pedra. O romance foi construído no ano passado, depois de dois anos de gestação. N’O Quarto do Bebé falo de cancro, mas não é um romance sobre cancro. É sobre fertilidade e infertilidade, o corpo da mulher, o que é ser mulher. No final do ano, achei até que a morte de uma pessoa amada era mais importante do que a minha doença”, explicou-nos a autora na apresentação da obra, que teve lugar na Biblioteca do Palácio Galveias e contou com leituras de Beatriz Batarda, Pedro Penim, Rui Horta e Susana Moreira Marques.
“Num tempo de doença coletiva, a pandemia, procurei palavras para a minha doença.” (Anabela Mota Ribeiro)
“Quem me conhece sabe que é mais fácil para mim não chorar no sofrimento e que é quase certo que choro na alegria. Este livro fala por si e as leituras que ouvimos já adiantam o que mais importa. Soa tão estranho, parece que não sou eu. Neste romance escrevo sobretudo a filha que eu sou e uma mãe que sabe que não será mãe e nem por isso deixa de sentir e encontrar um modo de extravasar a sua pulsão criativa e a sua fertilidade. Estes assuntos vivem comigo há muito tempo, foi uma longa travessia.” Foi desta forma emotiva que Anabela iniciou o seu discurso de apresentação, tentando que a comoção não lhe roubasse as palavras. Feliz por ter finalmente encerrado um capítulo doloroso da sua vida, a autora terminou a agradecer a presença de todos, mas em especial ao marido, “que me disse para escrever. Agora que tudo terminou, sinto que renasci”.
A seu lado, orgulhoso, estava António Pinto Ribeiro, que referiu: “Este livro é a expressão do talento da Anabela para se exprimir livremente na escrita. Acho que, depois de dezenas de anos a dar voz aos outros, ela está finalmente a usar a sua voz. Este é um livro livre, independentemente de as personagens corresponderem a alguma vivência ou não. Gosto muito de a observar quando ela está no mundo dela, da escrita, em que ela é completamente livre.”
“Este livro é uma celebração da vida.” (Guta Moura Guedes)
Amiga de Anabela há mais de duas décadas, Guta Moura Guedes esteve presente em todo o caminho e estava igualmente orgulhosa por este livro ter nascido: “Acompanhei todos os processos dela, e este livro é, sem dúvida, o fecho de um capítulo, uma história de renascimento, uma celebração da vida. Aliás, basta olhar para a felicidade dela e para a energia que agora transmite para se perceber que passou este ciclo e que o celebra com este livro.”
Fotos: André Antunes