Quase três anos depois da morte da filha mais nova, Fernanda Antunes e Tony Carreira emocionam-se em tribunal na primeira audiência do julgamento, que teve início hoje. No banco dos réus, no Tribunal de Santarém, sentam-se quatro arguidos envolvidos no acidente de viação que vitimou a jovem cantora Sara Carreira, de 21 anos, a 5 de dezembro de 2020. Entre eles, o namorado, o ator e cantor Ivo Lucas, que era o condutor do carro, a fadista Cristina Branco, que seguia noutra viatura, ambos acusados de homicídio por negligência, e ainda mais dois condutores anónimos.
No interior da sala de audiência, viveram-se momentos muito emotivos, com testemunhos devastadores sobre o que aconteceu naquele final de tarde chuvoso na A1, no sentido Norte-Sul, na zona de Santarém. Em especial o relato de Ivo Lucas, que não conteve a emoção e as lágrimas, ao recordar os momentos que antecederam o embate fatal e a última conversa com Sara Carreira:
“Antes do acidente, eu dirijo-me à Sara porque eu estava a fazer uma personagem e disse-lhe… Era a nossa forma de falar e digo que a amo muito e que tenho muita sorte de a ter na minha vida. E ela diz-me: ‘e eu a ti’. A Sara grita ‘cuidado’ e eu vejo um vulto”, recorda, em lágrimas, o ator, de 33 anos
“E a única memória que eu tenho é de estar no meio da autoestrada com o braço partido, sem t-shirt e sem saber onde estava e sem saber da Sara”, acrescenta. Um estado de desorientação confirmado por uma das testemunhas ouvidas nesta primeira sessão do julgamento, que acudiu o cantor depois do acidente.
Tal como o relato da fadista Cristina Branco, que seguia noutra viatura com a filha e recordou o impacto do embate do carro de Sara no seu carro, que entretanto abandonara:
“O carro capotou e o movimento é longo e acelerado porque estava a deslizar em cima de um carril. Foram uns bons metros, passaram alguns automóveis. Não tenho noção, mas sei que passou um camião”, afirmou.
Palavras que deixaram a mãe de Sara ainda mais fragilizada. Fernanda, que entrou por uma outra porta para evitar os jornalistas, esteve sempre de óculos escuros mas não conseguiu esconder as lágrimas e a tristeza profunda ao recordar aquele que terá sido o pior dia da sua vida. Ao seu lado, o ex-marido foi sempre o seu maior apoio.
O ex-casal foi ainda confrontado com os relatos duros de um GNR e de um bombeiro, assim como imagens violentas do acidente. Visivelmente perturbados, abandonaram a sala quase no final da audiência.
No final da sessão, e tal como tinha prometido, Tony Carreira falou à comunicação social e não escondeu a sua desilusão. Sem dizer nomes, o pai de Sara deixou um recado: “Tenho muita compaixão para dar e vender, mas não para mentiras”, afirmou. O julgamento continua amanhã.